Em 2002, o AKTC começou a restaurar e reabilitar vários edifícios históricos e espaços públicos ao ar livre relevantes na cidade de Cabul. Desde então, tem sido implementada uma série de iniciativas de conservação e recuperação urbana, melhoramentos nas condições de vida, programas de desenvolvimento comunitário e iniciativas de planeamento em bairros da Cidade Velha de Cabul atingidos pela guerra.
282 000
O restauro do Palácio Stor gerou 282 000 dias de trabalho
Desde as obras de restauro por parte do Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC), os Bagh-e-Babur (Jardins de Babur) têm atraído mais de 400 000 visitantes anualmente.
AKDN / Christian Richters
No início de 2003, iniciaram-se as obras de conservação dos Bagh-e Babur, do século XVI, em Cabul, local onde o primeiro imperador Mogol, Babur, está sepultado. Hoje gerido por um fundo independente, o jardim de 11 hectares restaurado recuperou o carácter histórico com os seus canais de água, terraços arborizados e pavilhões. Proporciona ainda à população de Cabul um espaço para eventos recreativos e culturais.
A maior parte das obras físicas ficou concluída em 2007. Desde então, as instalações – incluindo uma piscina, um pavilhão ajardinado, o caravançarai e o complexo do Palácio da Rainha – têm estado disponíveis para uso público. Para além do trabalho de conservação em Bagh-e Babur, foram feitos investimentos na melhoria das infraestruturas básicas para os moradores do bairro vizinho. Desde a introdução de um novo sistema de gestão por parte do Fundo de Bagh-e Babur, com a participação do Município de Cabul, do Ministério da Informação e Cultura e do AKTC, observou-se também um aumento apreciável nas receitas.
De modo a garantir que a paisagem restaurada e os monumentos podem ser mantidos de acordo com padrões apropriados, o Fundo pretende ir obtendo, ao longo do tempo, sustentabilidade financeira, com a criação de receitas a partir de taxas de entrada e eventos públicos apropriados.
Vista do restaurado Mausoléu de Timur Shah, Cabul, Afeganistão.
AKDN / Christian Richters
Localizado numa movimentada área comercial no centro de Cabul, a conservação do Mausoléu de Timur Shah, do século XVIII, começou em 2003. Para além de preservar um importante marco histórico, o projeto permitiu a formação de profissionais e artesãos afegãos, assim como a recuperação de um jardim considerável à volta do monumento, o qual, nos últimos anos, havia sido invadido por comerciantes informais.
Desde a sua recuperação, o mausoléu tem sido regularmente utilizado para reuniões públicas e exposições. Os visitantes podem voltar a usufruir do parque, que se estende até ao rio Cabul e foi replantado com amoreiras, tal como no jardim original.
Restauro do Santuário de Asheqan wa Arefan, Cidade Velha de Cabul.
AKCS-A
O bairro de Asheqan wa Arefan deve o nome a um importante santuário que se encontra no seu centro. Representa um dos últimos aglomerados existentes do tecido histórico da Cidade Velha, que sofreu graves danos no início da década de 1990. Desde 2003, foram recuperados 11 residências e 15 prédios públicos históricos, tendo melhorado as condições de habitabilidade de mais de 60 famílias, através do acesso a pequenos subsídios e a consultoria de construção nesta e nas áreas adjacentes.
As medidas de modernização incluem a pavimentação de becos e determinadas ruas, juntamente com a construção de esgotos e a melhoria do abastecimento de água. Esta reabilitação beneficiou quase 20 000 residentes e gerou cerca de 80 000 dias de trabalho, ao passo que as obras de conservação permitiram que mais de 60 aprendizes recebessem formação sob a orientação de 15 mestres-artesãos e 65 trabalhadores qualificados.
Os esforços foram realizados no sentido de proteger e melhorar os espaços públicos ao ar livre na Cidade Velha. No caso do Parque Zarnegar, a norte da cidade velha, recuperou-se um espaço degradado através da replantação, da instalação de sistemas de irrigação, pavimentação e construção de instalações públicas. O Parque oferece atualmente um descanso à sombra para milhares de visitantes.
Entre as iniciativas socioeconómicas apoiadas na Cidade Velha, estão os cursos de formação e alfabetização ao domicílio para mulheres, e a entrada em funcionamento de um balneário comunitário restaurado, cuja receita é usada para cobrir os custos de modernização do bairro. Está atualmente a ser restaurado um segundo balneário. A equipa do AKTC continua a trabalhar em estreita colaboração com membros da Comissão da Cidade Velha de Cabul para supervisionar o desenvolvimento do tecido histórico, assim como oferecer apoio técnico aos urbanistas do Município de Cabul e do Ministério do Desenvolvimento Urbano. Em 2008, iniciaram-se as obras de formulação de um modelo de planificação para a Cidade Velha, e a elaboração de propostas para uma política nacional de preservação do património urbano, com o apoio do Banco Mundial.
O Jardim de Chihilsitoon, um local público com 12,5 hectares, é o maior jardim histórico público de Cabul. Com base na reabilitação bem-sucedida e na operação sustentável do Jardim de Babur, em 2015, o Fundo Aga Khan para a Cultura iniciou um programa de reabilitação plurianual no Jardim de Chihilsitoon com a intenção de oferecer espaços públicos de alta qualidade para serem usados em interação social e cultural, programação educacional e atividades desportivas e recreativas.
AKTC
O Jardim de Chihilsitoon, um local com 12,5 hectares, é o maior jardim histórico público de Cabul.
O local ficou fortemente danificado em 1979-1980, ficando inutilizado e negligenciado nos anos seguintes. Continuou a ser usado pelo público em geral para atividades recreativas e desportivas, tornando-se um dos jardins públicos mais importantes da cidade, apesar da sua condição degradada.
Entre 2015 e 2018, reabilitámos o Jardim e Palácio de Chihilsitoon com o objetivo de oferecer espaços públicos de alta qualidade para interações sociais e culturais, programação educacional, e atividades desportivas e recreativas. Em todo o bairro em redor do Jardim, também investimos na modernização do sistema de drenagem e em iniciativas de formação socioeconómica para apoiar a sustentabilidade a longo prazo da zona e garantir uma melhoria nas condições ambientais e nos meios de subsistência e uma distribuição equitativa dos recursos.
Atualmente, o Jardim oferece aos seus utilizadores paisagens de alta qualidade e espaços de construção capazes de incluir e promover as ricas e diversas formas de expressão social, cultural e económica manifestadas no Afeganistão.
A reabilitação do Jardim foi uma colaboração entre o AKTC, o Governo do Afeganistão e o Ministério Federal dos Negócios Estrangeiros da Alemanha/KfW.
Palácio Stor, Cabul, restaurado pelo Fundo Aga Khan para a Cultura.
AKDN / Simon Norfolk
O lendário Palácio Stor do século XIX (também conhecido como Qasre Storay) foi restaurado e devolvido ao seu antigo esplendor pelo AKTC em colaboração com os governos do Afeganistão e da Índia. O projeto de conservação, que empregou mais de 300 artesãos e trabalhadores afegãos e gerou 282 000 dias de trabalho, ficou concluído em 2016.
O processo de restauro incluiu um levantamento físico abrangente, a reconstrução do telhado, o restauro de elementos decorativos e a modernização dos serviços de aquecimento, eletricidade e canalização.
Machine Khana, Projeto de Transformação da Frente Ribeirinha de Cabul (2021)
Simon Norfolk
O Projeto de Transformação da Frente Ribeirinha de Cabul (KARIT) apoia o urbanismo, a criação de espaços públicos de alta qualidade e a reabilitação da arquitetura industrial histórica para ser reutilizada como instalações para atividades contemporâneas que proporcionem benefícios económicos e culturais para os moradores e comerciantes do centro de Cabul.
O projeto está dividido em quatro módulos separados e visa concretizar:
O Módulo Um visa restaurar o complexo industrial histórico de Machine Khana e transformá-lo num local público para atividades comerciais, culturais e educacionais. Isto inclui a modernização e reutilização dos edifícios históricos existentes e a criação de jardins paisagísticos no interior do local.
O Módulo Dois concentra-se em melhorar o ambiente e melhorar o acesso dentro dos bairros históricos de Chindawool, Andarabi e Joy-e-Sheer. Este trabalho inclui a criação de espaços verdes públicos, a modernização de caminhos pedestres e do sistema de drenagem e a instalação de unidades de recolha de resíduos.
O Módulo Três visa melhorar o ambiente na área mais alargada em redor do local e criar uma rede pública de entradas e saídas ao longo da Frente Ribeirinha de Cabul, requalificando os espaços em desuso e transformando-os em paisagens onde podem ser realizadas atividades desportivas, recreativas e comerciais. Isto inclui a construção de uma nova ponte pedestre e a modernização de uma ponte pedestre já existente sobre o rio Cabul, criando passadeiras e ciclovias seguras.
O Módulo Quatro concentra-se em providenciar formação profissional em artesanato tradicional para jovens afegãos das comunidades próximas do projeto, permitindo que estes adquiram competências que lhes permitam contribuir para a melhoria dos seus meios de subsistência.
As obras de reabilitação são cofinanciadas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha através do Banco de Desenvolvimento KfW.
Fortaleza de Bala Hissar, Cabul (2021)
Simon Norfolk
O complexo militar de Bala Hissar incorpora uma das mais importantes estruturas e paisagens históricas que sobrevivem no interior do centro de Cabul. É um dos poucos espaços ao ar livre amplos que ainda existem dentro dos limites da Cidade Velha. É um exemplo de um recurso patrimonial finito e frágil, intrinsecamente ligado tanto à fundação como ao tempestuoso desenvolvimento histórico do país.
Embora as origens do Bala Hissar permaneçam em grande parte desconhecidas, é provável que no local tenha estado presente uma colónia defensiva ou militar sob alguma forma já no período pré-Aqueménida (Idade do Bronze). Cabul Antiga poderá ter sido mencionada por Ptolomeu em 160 a.C. pelo nome Kabura e talvez tenha sido também a cidade de Ortospana, segundo o registo do geógrafo grego Estrabão (64 a.C. - 2 d.C) na sua obra Geographica (7 a.C.).
Os arredores em torno de Bala Hissar caracterizam-se pela presença de numerosos complexos monásticos de origem cuchana (século I - IV d.C). Os relatos históricos dos invasores árabes muçulmanos referem "um burgo possuidor de uma sólida fortaleza conhecida pela sua força" durante o final do século X. Ao capturar a cidadela em 1504, Babur faz amplamente referência ao local nas suas memórias, a Baburnama. No entanto, as impressionantes ruínas visíveis ainda hoje têm a sua origem predominantemente nos séculos XVIII e XIX, com alguns elementos arquitetónicos mogóis de meados do século XVI espalhados pelo local.
Este projeto tem como objetivo levar a cabo a consolidação e conservação de estruturas que requerem atenção imediata e de médio prazo. O projeto no longo prazo acabará por reabilitar todo o complexo de Bala Hissar, tornando-o o maior espaço ao ar livre de gestão pública de Cabul e o primeiro classificado como parque patrimonial ou arqueológico na cidade. Poderá ainda fornecer informações adicionais sobre as origens da fundação de Bala Hissar.
As atuais obras de reabilitação em grande escala são financiadas pela Fundação ALIPH, com o apoio inicial do governo indiano. Os outros parceiros são a Delegação Arqueológica Francesa no Afeganistão (DAFA), o Departamento de Arquitetura da Universidade de Florença (DIDA) e o Fundo HALO.