Para o projeto-piloto, o AKTC-AKCSP forneceu assistência técnica e financeira. O projeto foi incluído numa estrutura integrada de desenvolvimento para toda a área da Cidade Murada. Esta estrutura está incluída num Plano Estratégico desenvolvido em 2008 e apoiado por dados de referência físicos e socioeconómicos estabelecidos pelo escritório do AKTC em Lahore, e por um novo sistema GIS para a Cidade Murada.

O banco de dados do GIS contém dados ao nível de parcelas para 21 800 propriedades. Os dados foram baseados num estudo de reconhecimento de toda a Cidade Murada e das suas imediações, que registou as características físicas, a historicidade e o valor patrimonial do ambiente construído numa avaliação parcela a parcela.

As razões pelas quais o AKTC concordou em intervir na Cidade Murada de Lahore são as seguintes:

• Um declínio acentuado na população – de 240 000 habitantes há cinco décadas para os 150 000. A demolição ou conversão em mercados e armazéns de propriedades históricas por parte do sector comercial. O plano estratégico reforçava a importância de melhorar as condições de habitação e disponibilizar serviços sociais básicos, evitando assim uma maior degradação e estabelecendo as bases para uma recuperação socioeconómica.


• O seu potencial patrimonial único. Os decisores políticos locais desejam transformar a Cidade Murada num destino de futuro para visitantes locais, nacionais e internacionais. Esta atitude positiva permitiu que o AKTC ajudasse na preparação do desenvolvimento económico da Cidade Murada, dando destaque ao aumento do número de visitantes e à criação de oportunidades de emprego para os moradores locais.

Ao implementar o Projeto-Piloto de Shahi Guzargah, cerca de 13% da área geográfica da Cidade Murada foi reabilitada, servindo aproximadamente a mesma percentagem da sua população residencial. Foi preparado um plano de reabilitação urbana e desenvolvimento de infraestruturas com um prazo de 15 a 25 anos para toda a Cidade Murada. Este integrou os serviços públicos com a reabilitação das fachadas do bazar e com outras melhorias.

Em 2010, levámos a cabo a conservação de Gali Surjan Singh como parte de um programa histórico de melhoria de casas históricas, agregada à integração e atualização dos serviços municipais. Este projeto foi coassinado com o Governo do Punjab e apoiado em parte por uma concessão por parte da Embaixada da Alemanha.

A Gali Surjan Singh é uma rua residencial transversal à Shahi Guzargah, a principal avenida que passa pela Porta de Deli da Cidade Murada. É composta por uma série de estabelecimentos residenciais, para além de pequenas lojas com um considerável valor histórico e arquitetónico. Estes complementam o valor cultural mais monumental de edifícios históricos como o Shahi Hammam e a Mesquita de Wazir Khan, contribuindo para o aspeto diversificado da textura cultural da cidade.

Historicamente, essas ruas não costumavam ser sujeitas a trabalhos de manutenção estética e arquitetónica. Os nossos projetos conceptuais visaram fornecer estruturas materiais necessárias para os moradores, juntamente com uma sensibilidade estética ao nível da reabilitação da paisagem e do perfil da cidade. A infraestrutura foi reformulada com a substituição dos canos de água e esgoto por PEAD e PVC-U, respetivamente. Também procedemos à consolidação e reorganização da rede de distribuição de eletricidade usando cabos que estivessem em harmonia com as características arquitetónicas das fachadas dos edifícios.

O projeto estabeleceu paradigmas de design para as infraestruturas e para a arquitetura que a Autoridade da Cidade Murada de Lahore (WCLA) tem vindo a replicar a uma escala maior noutras áreas da Cidade Murada. Recebeu uma Menção Honrosa no Prémio UNESCO Ásia-Pacífico 2014 para a Conservação do Património Cultural.

O AKTC realizou obras de conservação no Shahi Hammam, balneário público do período Mogol do século XVII situado na Porta de Deli. As intervenções incluíram:

• a exposição, conservação e apresentação dos sistemas originais de água, drenagem e aquecimento, assim como ao nível do pavimento histórico;


• procedimentos para impedir a entrada de água e posterior deterioração da estrutura;


• o restauro da entrada original, das câmaras internas e das características arquitetónicas, incluindo condições para iluminação interna e externa; e


• a conservação dos frescos originais do período Mogol.

Atualmente, a WCLA administra o hammam como um museu.

O Hammam Shahi, construído em 1634 durante o reinado de Shah Jahan, é um balneário construído segundo a tradição das instalações balneares persas e turcas. É o único balneário público monumental no subcontinente que sobrevive desse período.

Antes das obras de conservação, as paredes limítrofes a norte, oeste e sul do Hammam tinham sido apropriadas como lojas improvisadas. Partes da estrutura do edifício foram adaptadas para funcionarem melhor nesta nova função comercial. As condutas originalmente abertas, que tinham sido tapadas ou estavam obstruídas, causaram a infiltração de água nos alicerces do prédio. Isto contribuiu bastante para a esfoliação do emplastro e a perda considerável de muitos dos frescos do edifício. O interior do Hammam também tinha sido apropriado pelo sector público e usado para vários fins ao longo do tempo, desde uma escola masculina, uma escola profissional feminina, um dispensário e um escritório para departamentos governamentais. Ao mesmo tempo, algumas das câmaras a noroeste tinham sido alugadas como lojas, completando o ofuscamento do local enquanto monumento patrimonial.

A WCLA compensou os comerciantes locais que usurpavam as paredes externas do Hammam, deslocalizando-os para outro local. Foi construído um muro de contenção para evitar intromissões futuras. O nível da rua em torno do edifício foi rebaixado em dois metros, permitindo a exposição e exibição da totalidade da fachada histórica. Durante o processo de escavação, foram descobertos o sistema de hipocaustos e as fornalhas do Hammam. Estes revelaram a forma como a água aquecida era encaminhada para as várias câmaras de banho e como os pisos eram aquecidos através de fumo e ar quente que emanava dos fornos que aqueciam a água. Foram feitas obras de conservação na entrada original do edifício e nas características arquitetónicas para a iluminação interna e externa, tendo sido reciclados 65 000 tijolos históricos para restaurar várias secções do Hammam.

O Hammam foi aberto ao público como museu em 2016, e tem atraído visitantes locais e internacionais. Antes da atual crise de saúde pública, o Hammam era visitado por uma média anual de mais de 30 000 visitantes. Este edifício também providencia um local para a realização de eventos corporativos discretos, gerando receitas suficientes para fazer a sua manutenção de forma sustentável. Em conjunto com o Forte de Lahore, é cada vez mais o ponto central do turismo na Cidade Murada. Em 2016, o Hammam recebeu o Prémio de Mérito no âmbito do Prémio UNESCO Ásia-Pacífico para a Conservação do Património Cultural.

A Mesquita de Wazir Khan foi construída em 1634-35 por Hakim 'Ali ud din, subedar (governador) da província de Lahore, durante o reinado do Imperador mogol Shah Jahan. Era a maior mesquita de Lahore à época, com a construção da Mesquita de Badshahi ainda a cinquenta anos de distância. Localizado cerca de 260 metros para lá da Porta de Deli, o complexo da Mesquita de Wazir Khan era atravessado pelo Shahi Guzargah (Trilho Real) e cercado pelo denso tecido orgânico da Cidade Murada.

O complexo incluía a mesquita, o chowk (um espaço urbano introdutório), uma fileira de hujras (lojas) que foram integradas no sistema de entrada, destinadas especificamente a calígrafos e encadernadores, e outras lojas nas fachadas leste e norte construídas na estrutura do monumento. As abundantes decorações arquitetónicas que embelezam as superfícies externas e internas colocam a mesquita na linha da frente dos principais monumentos do período mogol.

Uma equipa de arquitetos e engenheiros de conservação do AKCSP determinaram a extensão dos problemas e adversidades enfrentados pela Mesquita, tendo publicado um relatório em 2012.

Uma dessas adversidades era a estabilidade das fundações da Mesquita. Esta estava a ser ameaçada pela entrada de água num depósito de terra acumulada com 2,5 metros resultante da elevação gradual do nível da rua ao longo dos séculos. Para além disso, os estabelecimentos comerciais incrustados no tecido da Mesquita estavam a causar danos à grande extensão de mosaicos vítreos talhados e às decorações pintadas à superfície. Uma vez que os esforços para garantir os fundos para a conservação de toda a Mesquita iriam levar tempo, foi adotada uma abordagem prática para iniciar a conservação faseada.

A conservação e reabilitação da fachada norte da Mesquita de Wazir Khan, com 85 metros de comprimento, foi concluída em Junho de 2016 com a assistência financeira do governo norueguês e do AKTC, e com a mediação da WCLA. O projeto envolveu a recuperação do nível original da rua, a reutilização adaptativa das hujras restauradas enquanto lojas a serem arrendadas para atividades comerciais controladas pela WCLA, a iluminação da fachada e a reabilitação da fachada norte, de forma a que fosse um modelo para a conservação de toda a mesquita.

A reabilitação do Chowk de Wazir Khan, o histórico átrio de 800 metros quadrados da Mesquita de Wazir Khan, foi iniciada em 2015 com financiamento do Fundo dos Embaixadores dos Estados Unidos para a Preservação Cultural e do AKTC, com mediação da WCLA.

A WCLA encarregou-se de retirar e compensar os comerciantes que circundavam o Chowk e que ocupavam as hujras na fachada oriental da mesquita. Esta obra foi realizada com uma contribuição de 300 000 dólares por parte do Governo de Punjab.

O projeto de conservação recuperou o espaço urbano através das seguintes medidas:

• o rebaixamento do Chowk para o seu nível original;


• a escavação e restauro da fachada oriental e das hujras da Mesquita de Wazir Khan;


• a conservação do Bazar dos Calígrafos e do dewrhi (adro) da Mesquita;


• a escavação e conservação do Poço de Dinanath; e


• a reabilitação do espaço urbano ao ar livre para benefício da comunidade.

A criação de condições para a realização de eventos comunitários e o paisagismo estratégico transformaram o Chowk reabilitado num oásis de atividades públicas no coração de um bairro urbano densamente povoado. Permite uma variedade de atividades, como espetáculos de qawwali (música devocional sufi) e melas (festivais) locais. O primeiro grande evento teve lugar em 14 de Agosto de 2017, com a WCLA a comemorar os 70 anos de independência.

Em 2017, o Governo de Punjab aprovou um orçamento no valor de 5 milhões de dólares ao longo de cinco anos para a conservação da Mesquita de Wazir Khan. As obras para o restauro completo do edifício histórico estão em andamento até ao final de 2023. Estamos a:

• eliminar as causas da deterioração, especialmente ao nível da crescente humidade;


• levar a cabo a estabilização estrutural;


• restaurar as decorações à superfície; e


• reabilitar a rede de serviços.

Em Setembro de 2015, o AKCSP iniciou a documentação da Muralha das Figuras do Forte de Lahore - um mural que adorna o Forte e que foi a principal razão para a inscrição do local na Lista do Património Mundial da UNESCO em 1981.

A Muralha das Figuras é um mural de 442 metros de extensão que cobre as fachadas norte e oeste do Forte de Lahore, com uma altura média de 15 metros. É decorada com mosaicos vitrificados e de faiança da era mogol, assim como alvenaria ornamentada, filigrana e frescos. Vai desde Hathi Pol (Porta do Elefante) até ao Quadrângulo de Jahangir. Outrora perto da margem do rio, a Muralha das Figuras foi minuciosamente decorada durante o período mogol no reinado de Jahangir em 1624 e concluída no reinado de Shah Jahan em 1632. Revela os temas que preocupavam a corte real da época - batalhas (humanas e animais), anjos e demónios, fadas, dança e música.

O nosso envolvimento neste local começou em Setembro de 2015 com a documentação da Muralha das Figuras. A esta seguiu-se a documentação do Forte de Lahore na sua totalidade, com financiamento por parte da Embaixada Real da Noruega. Desde então, o projeto passou a incluir o planeamento para a reabilitação do Forte e a melhoria das condições dentro de uma zona intermédia ao longo dos limites a sul e a leste. A Iniciativa do Forte de Lahore visa fomentar o desenvolvimento socioeconómico na histórica Cidade Murada, reformulando o sistema de gestão turística do Forte e reativando espaços que atualmente não estão a ser utilizados para gerar receitas.

Em 2017, o Governo de Punjab aprovou um orçamento de 9 milhões de dólares ao longo de cinco anos para a conservação do Forte de Lahore e dos seus monumentos. O AKCSP concluiu a conservação da Cozinha Real, do Sheesh Mahal, do Pavilhão Naulakha e do sistema de gestão de águas pluviais do Forte. A conservação da Muralha das Figuras ficará concluída até ao final de 2022.

O Plano Estratégico para a Cidade Murada está a ser implementado por fases, envolvendo diferentes secções. Nas áreas da Cidade Murada onde o AKTC tem concentrado os seus esforços, contamos com um aumento no número de monumentos reabilitados, e melhorias ao nível das condições de habitação dos moradores locais, do acesso a serviços públicos para estes moradores, do acesso aos monumentos históricos por parte dos visitantes e da segurança na rua.

O projeto de Gali Surjan Singh finalizado pelo AKTC para melhorar as condições de habitação definiu um alto padrão de qualidade e já está a ser replicado pela WCLA a uma maior escala. O projeto foi distinguido com um Prémio de Património UNESCO Ásia-Pacífico em 2014.

A remoção das lojas improvisadas que durante décadas obscureceram importantes monumentos históricos ao longo das principais artérias no interior da Cidade Murada, assim como a reabilitação destes monumentos, já está a ter um impacto visual e psicológico substancial - algo que levará a um aumento do número de visitantes.

Um dos impactos significativos destas iniciativas tem sido o aumento do turismo e da capacitação da população local ao nível dos ofícios e disciplinas relacionadas com a área da conservação. Isto tem levado ao aumento dos recursos disponíveis em matéria de especialistas e artesãos da área da conservação e reforça as oportunidades económicas para os moradores locais. O AKCSP tem sido capaz de transmitir competências práticas aos jovens locais através do seu programa de estágios para formação no local de trabalho. Alguns destes estagiários foram integrados nas equipas do AKCSP, enquanto outros conseguiram empregos na WCLA e junto dos empreiteiros que trabalham em projetos de conservação na Cidade Murada e noutros locais.

Existe uma crescente consciencialização acerca da importância histórica e sociocultural de Lahore, particularmente a sua herança mogol, entre empresários proeminentes, líderes políticos e a população mais qualificada. Esta consciencialização e o reconhecimento dos altos padrões das iniciativas de conservação e reabilitação do AKTC têm levado a uma série de parcerias importantes.

Entre os parceiros incluem-se o Governo de Punjab, a Autoridade da Cidade Murada de Lahore, o Banco Mundial, a Embaixada Real da Noruega, a Embaixada da Alemanha, o Fundo dos Embaixadores dos EUA para a Preservação Cultural, a New Jubilee Insurance e o Habib Bank Limited.

Veja mais sobre a Conservação da Cidade Murada de Lahore

Veja uma entrevista com Zeina Naseer, cientista de conservacionismo