Dr. Gijs Walraven, Diretor de Saúde da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento
Enquanto médico tropical, Gijs queria trabalhar num ambiente com pouco recursos, e em pouco tempo viu-se encarregado de um hospital distrital no noroeste da Tanzânia. Constatando os graves problemas ao nível da mortalidade materna, realizou um doutoramento nesta área. Passou sete anos a trabalhar para o Conselho Britânico de Investigação Médica na Gâmbia antes de se juntar aos Serviços Aga Khan para a Saúde (AKHS).
Os AKHS trabalham para melhorar a saúde do Jamat (a comunidade muçulmana ismaili) e das suas populações vizinhas. Fá-lo através da promoção da saúde, da prevenção de doenças e da prestação de serviços de saúde. Assegura que as pessoas tenham acesso a cuidados de saúde na medida correta, e que estes sejam acessível, económicos e façam sentido para cada família e população em particular.
Gijs explica a evolução dos AKHS, começando no na Ásia Meridional e na África Oriental na década de 1920, com maternidades e dispensários. Na década de 1980, foi adotada uma abordagem mais abrangente. Os sistemas de saúde foram criados de acordo com as necessidades de cada comunidade, garantindo a complementaridade com as prioridades do governo. Seguiram-se hospitais de cuidados secundários e terciários, com vertente de ensino e investigação, para além de cuidados complexos. Hoje em dia, os AKHS continuam a expandir-se e acabaram de abrir o primeiro centro de saúde em Salamia, na Síria.
Acesso
“O modelo radial pretende garantir que as pessoas tenham acesso a cuidados de saúde o mais próximo possível de suas casas, mas também assegurar um uso adequado de recursos limitados”, explica Gijs. Os agentes comunitários de saúde concentram-se na promoção da saúde e na prevenção de doenças, com cuidados curativos limitados a nível comunitário. Os pacientes são encaminhados dentro do sistema para que tenham acesso ao nível adequado de cuidados de saúde para o seu problema, desde os postos de saúde locais, passando pelos hospitais distritais, às unidades de especialidade.
Qualidade dos cuidados
Trinta e oito unidades dos AKHS obtiveram a acreditação da Joint Commission International, por terem demonstrado os mais elevados padrões nos cuidados de saúde. A ferramenta SafeCare desenvolvida pela AKDN e parceiros adapta estes padrões às circunstâncias em que a AKDN trabalha.
Preço acessível
Gijs destaca a interligação dos problemas que as agências da AKDN estão a trabalhar em conjunto para resolver. “A pobreza leva a problemas de saúde. Uma pessoa que nasça pobre poderá ter uma nutrição de menor qualidade e poderá adoecer com mais regularidade em criança. Poderá faltar mais à escola se não tiver uma alimentação e um esquema vacinal adequados. Mas a saúde precária também leva à pobreza. Se uma pessoa estiver doente e não conseguir ter um rendimento estável, como é que vai conseguir aceder e pagar por cuidados de saúde?”
Gils descreve um projeto de microsseguros de saúde levado a cabo pela Jubilee Insurance no norte do Paquistão e o trabalho com o First Microfinance Bank, a Pamir Energy e a Tcell, que informam os clientes acerca do acesso a cuidados médicos no Tajiquistão.
“É absolutamente incrível e único conseguir reunir todas estas entidades em torno de um mesmo objetivo, que é melhorar a qualidade de vida do Jamat e das suas populações vizinhas.”
Exemplo positivo
"Não podemos oferecer cuidados de saúde em todo o lado. Fazemo-lo nos locais onde o Jamat está presente”, diz Gijs. "Mas esperamos verdadeiramente que, ao avaliarem e documentarem o nosso trabalho, outros possam aprender connosco. Os governos, as organizações sem fins lucrativos e os prestadores com fins lucrativos estão interessados em usar a SafeCare.”
Os AKHS estão a partilhar com o público a sua calculadora de emissões de carbono apoiada pela Organização Mundial da Saúde. A ferramenta está preparada para ajudar os AKHS a reduzir as suas emissões em 60% nos próximos cinco anos e tem despertado o interesse de universidades, ONG e consultoras internacionais.
A organização também está a dar o exemplo a nível da igualdade de género. A maioria dos pacientes e funcionários, incluindo o pessoal administrativo, são mulheres, assim como quatro dos nove presidentes executivos.
“Mas acho que não devemos exagerar o impacto dos cuidados de saúde”, conclui Gijs. “Também é importante ao nível da educação, especialmente a educação das raparigas. É também importante ao nível da água potável, do saneamento adequado, da habitação condigna, etc. E a singularidade da AKDN é o que junta tudo isto."