Farrokh Derakhshani, Diretor do Prémio Aga Khan para a Arquitetura
Quarenta anos após ter assinado um contrato de cinco meses com a AKDN, Farrokh Derakhshani ainda continua por cá. Nos últimos 16 anos, tem sido o Diretor do Prémio Aga Khan para a Arquitetura. Numa altura em que o Prémio chega ao seu 45.º ano, reflete sobre a forma como este mudou as atitudes em relação à arquitetura.
“A arquitetura é uma das poucas disciplinas que toca todos os níveis da sociedade. Tem impacto no quotidiano de toda a gente”, diz Farrokh. “Se a qualidade de vida for só saúde, educação, dinheiro, não vai ser suficiente. Se não tivermos cultura, não haverá nada que junte todas estas coisas.”
Para Farrokh, os projetos mais importantes são aqueles, particularmente nas áreas pobres, que juntam pessoas de diferentes etnias e religiões. Isto está em linha com a importância que Sua Alteza o Aga Khan atribui ao pluralismo. “A arquitetura significa fazer algo pela sociedade”, diz Farrokh. “Isso é o mais importante”.
Farrokh recorda os primeiros tempos do Prémio, cuja primeira condecoração aconteceu pela primeira vez em 1977. “Deixe-me pôr isto numa perspetiva histórica. Hoje em dia... podemos ter toda a informação sobre um assunto de um momento para o outro. Há quarenta e cinco anos, não era assim. Uma pessoa em Marrocos não fazia ideia do que se passava na Indonésia. Por isso, um dos principais objetivos do Prémio passava por dizer às pessoas que havia uma outra pessoa que tinha arranjado uma solução inteligente com a qual elas podiam aprender.”
No tempo do modernismo, a arquitetura era vista como sinónimo de edifícios. O Prémio alargou as perceções acerca da disciplina: “Tivemos projetos como melhoria de favelas, engenharia, torres de água no Kuwait, por exemplo, projetos de restauro. Hoje falamos sobre os aspetos sociais da arquitetura, como esta tem um impacto na sociedade. Foi o Prémio Aga Khan para a Arquitetura que chamou a atenção para isso.”
Ao mesmo tempo, a série de seminários associados em países como Turquia, Marrocos e China foram preservados em publicações. Em conjunto com os livros do Prémio, estas foram enviadas para escolas de arquitetura de todo o mundo, criando uma fonte de conhecimento numa área que carecia de informação sobre a arquitetura em contexto muçulmano.
O Prémio trienal, atualmente no seu 15.º ciclo, continua a ser único. “Em primeiro lugar, não damos um prémio a uma pessoa. Nenhum projeto é produto de uma pessoa. Inclui sempre o cliente, os construtores, os arquitetos, os engenheiros. Em segundo lugar, fazemos uma pesquisa minuciosa acerca dos projetos e atribuímos prémios a projetos que estejam concluído e em funcionamento.”
Como é que a arquitetura pode enfrentar os desafios do futuro?
“Não sou vidente, mas acredito na capacidade das pessoas. Aprendi muito em relação a isso com Sua Alteza, porque pude ver como ele, em diferentes lugares, diferentes situações, dava espaço para proporem inovações, ajudando-os a trazer à tona a capacidade que estava escondida dentro deles. É por isso que acredito que, no futuro, serão resolvidos muitos dos problemas que hoje consideramos serem os maiores.”