Bangladesh · 9 novembro 2023 · 5 Min
Numa indústria tradicionalmente dominada por homens brancos, Nabanita Nawar está a reescrever a narrativa na área da química medicinal e no design de medicamentos. A ex-aluna de 28 anos da Escola Aga Khan (AKS) de Daca, no Bangladesh, é diretora executiva e cofundadora da HDAX Therapeutics – uma empresa de biotecnologia que procura criar tratamentos potencialmente transformadores para doenças debilitantes – foi incluída na lista 30 Under 30 da Forbes para a cidade de Toronto.
Embora esta seja mais uma numa longa lista de distinções e reconhecimentos obtidos por Nabanita, ela também promove o debate acerca da importância hoje em dia da inclusão, da diversidade e da igualdade no sector dos cuidados de saúde.
"Só percebi o seu impacto quando este se deu", refere sorrindo. "Ter nascido e crescido no Bangladesh e ser capaz de obter este reconhecimento em Toronto foi algo muito importante."
A inclusão na lista da Forbes chamou a atenção para a HDAX Therapeutics e para os seus desenvolvimentos pioneiros, para além de reconhecer Nabanita e a sua cofundadora pela criação de uma equipa liderada por mulheres e pessoas de cor. Esta conquista também faz de Nabanita a primeira bangladeshiana a ser incluída na lista.
“Ao crescer, não via aquilo que faço hoje como um modelo a seguir. A maioria dos empresários em Bangladesh eram homens; a maioria das mulheres da geração anterior a mim eram donas de casa.”
Nabanita atribui a sua paixão e confiança para quebrar barreiras aos seus professores na AKS de Daca.
De estudante a empreendedora
O período de Nabanita na AKS de Daca lançou as bases para a sua futura carreira na área da química medicinal, tendo ido para a Universidade de Toronto Mississauga estudar bioquímica. Ela apoiou-se nas competências que aprendeu na escola para concluir os seus estudos.
“Os hábitos que me foram incutidos, especialmente a gestão do tempo, foram extremamente úteis, porque o ritmo da universidade era bastante acelerado.”
Depois de obter o Bacharelado em Ciências em 2017, Nabanita começou no final desse ano o seu doutoramento em química medicinal e em design de medicamentos na mesma universidade. Durante este período, ela cofundou a HDAX Therapeutics com uma colega de doutoramento e com a ajuda de um professor. Ela atribui ao pai o mérito de tê-la inspirado a seguir a vertente do empreendedorismo.
"Uma das muitas razões pelas quais consegui dar este salto foi o facto de o meu pai ser um empreendedor na indústria do vestuário no Bangladesh", diz Nabanita. "Eu vi-o a construir um negócio. Não tem nada que ver com aquilo que faço hoje, mas a sua capacidade de correr riscos, a sua capacidade de trabalhar arduamente e de fazê-lo de forma consistente deu-lhe uma grande experiência ao nível das competências interpessoais.
"Na minha vida, assisti a partir da primeira fila ao desenvolvimento de um empreendedor de exceção."
Atacar a raiz da doença
A HDAX Therapeutics, criada em 2021, está a desenvolver a primeira terapia para a neuropatia periférica (NP), que afeta mais de 30 milhões de pessoas em todo o mundo. Os doentes com NP sofrem lesões nos nervos devido à quimioterapia, diabetes, traumatismos ou genética. Atualmente, não existe nenhum medicamento que possa retardar, interromper ou reverter a progressão da doença ou a dor e a imobilidade que a acompanham.
"Quando os pacientes com cancro são submetidos a quimioterapia, isto causa lesões graves nos nervos", explica Nabanita. “Isto leva a queimaduras nas mãos e nos pés. Também causa um declínio cognitivo porque danifica os nervos do cérebro. É sugerido aos pacientes que tomem analgésicos regularmente ou que ponham as mãos e os pés em baldes de gelo para aliviar as queimaduras, mas não existe nada que resolva realmente o problema subjacente.
“Estamos a tentar desenvolver uma terapia eficaz, procurando atacar a raiz da doença. Usamos a inovação para levar medicamentos seguros aos pacientes que realmente precisam, é esta a visão da empresa e a minha visão.”
Uma empresa liderada por mulheres
No entanto, em paralelo com o seu sucesso e o desenvolvimento da sua empresa, Nabanita tem enfrentado a sua quota-parte de contratempos e barreiras enquanto mulher de cor num cargo de liderança.
“Enquanto tirava o meu doutoramento, nunca pensei que ser mulher, ou ser mulher de cor, fizesse muita diferença”, diz. “À medida que fui assumindo um papel mais de empreendedora, fui vendo quem eram realmente os decisores, e tem sido sem dúvida um grande desafio na minha indústria; nas ciências da vida, cuidados de saúde, biotecnologia, indústria farmacêutica.”
De acordo com um estudo de 2022 da McKinsey & Company, 61% das mulheres estão em cargos de gestão de topo no sector da saúde, com este valor a diminuir para 45% em cargos de vice-presidência. Quanto às mulheres de cor, apenas 14% estão em cargos de gestão de topo, 8% em cargos de vice-presidência e apenas 4% como diretoras executivas.
"Sinto que fazer parte de uma minoria, ser mulher e uma pessoa de cor limita definitivamente algumas das oportunidades", diz Nabanita. “Há muitos preconceitos inconscientes não apenas por parte de homens, mas também de mulheres. A idade também é um fator. Tenho a certeza de que é igual na maioria das indústrias.”
Ousar e correr riscos
Para além destes desafios, Nabanita também tem enfrentado muitos choques culturais ao longo do seu percurso.
“Eu creio que, no geral, para uma mulher muçulmana de cor, é difícil ser ousada, como ir viver para o estrangeiro aos 18 anos. Tive de pressionar muito os meus pais.
"Tive de travar as minhas batalhas. Eu sei que muitas famílias de estudantes são contra essa mudança, especialmente de estudantes do sexo feminino. Eu apenas tentei encontrar um bom equilíbrio ao nível daquilo que poderia conseguir da parte dos meus pais, porque eu queria muito fazer isto.”
Embora tenha enfrentado muitas barreiras ao longo do caminho, Nabanita superou-as todas e conseguiu chegar a uma posição em que possa ser capaz de criar mudanças e inspirar outras pessoas. Esta motivação, o seu trabalho árduo e o apoio dos seus colegas foi o que lhe permitiu hoje receber um dos maiores reconhecimentos da carreira.
“Uma qualidade que me sinto orgulhosa de possuir é a minha capacidade de correr riscos e colocar-me em situações difíceis. Acho que essa é provavelmente a única coisa que me diferencia de outra pessoa na minha área.”
Depois de todo o sucesso obtido por Nabanita até ao momento e aquele que se vislumbra para o futuro, ela destaca o papel importante que a AKS de Daca teve na sua vida, especialmente o apoio e o carinho dos seus professores.
“Nós [os ex-alunos] sabemos o quanto essa comunidade contribuiu para as pessoas que somos hoje.”