Paquistão · 5 dezembro 2023 · 4 Min
A Dra. Fozia Parveen, ex-aluna da Escola Modelo do Jubileu de Diamante de Sonikot, é Professora Assistente no Instituto para o Desenvolvimento Educacional da Universidade Aga Khan. Enquanto cientista ambiental, uma das formas de colocar em prática a sua investigação passa por formar professores para que estes incentivem a próxima geração a cuidar do planeta.
Através da utilização do módulo criado por Fozia para as Alterações Climáticas e a Sustentabilidade Ambiental, os alunos podem experimentar atividades que vão da criação de composto ao cálculo da poluição atmosférica, enquanto os seus professores e pais podem escolher planos de aula estruturados. O módulo foi difundido por uma centena de mestres formadores e está agora a ser usado nas escolas Aga Khan e noutras escolas, tendo sido adicionado à secção de recursos de muitas agências governamentais.
Do amor pela natureza à ciência ambiental
Nascida em Gilguite-Baltistão, no Paquistão, Fozia afirma: “Sempre estive envolvida com a natureza. Andar sobre a relva, ouvir o som da água todos os dias, subir a uma árvore e comer um fruto interessava-me mais do que livros.”
Fozia começou na creche e passou a sua primeira década de ensino na Escola Modelo do Jubileu de Diamante de Sonikot, em Gilguite.
“Costumávamos fazer muitas atividades ao ar livre. Fazíamos canteiros quadrados com terra e escrevíamos o alfabeto e os números com pedrinhas. Gostávamos de procurar as pedras mais bonitas e competir para ver quem fazia as melhores letras. A memória influencia a forma como ensino, tanto os alunos adultos como quando estou a formar formadores para interagirem com as crianças em relação ao tema do ambiente.
“E eu sempre gostei de ciência. Com tanto espaço ao ar livre, podíamos observar e experimentar aquilo que estávamos a aprender. Quando estudámos a transpiração, metemos um saco de plástico por cima de uma planta e, no final da aula, fomos ver as gotículas de água.”
Educação para além da sala de aula
Fozia recorda as oportunidades de autoexpressão física e criativa.
“Gilguite ainda era uma região conservadora e a escola deu-nos oportunidades para nos expressarmos melhor. Havia exercícios na assembleia matinal nos quais podíamos ir além das dinâmicas tradicionais que as barreiras culturais normalmente permitiam às raparigas. No intervalo, éramos incentivados a jogar badminton, críquete e tantas outras coisas.
“Outro destaque era o facto de toda a gente ser incentivada a tomar a iniciativa e a representar a escola. Em eventos regionais, cantávamos em cada uma das línguas do país, e depois algumas crianças dessa região vinham vestidas com os trajes tradicionais e dançavam. Lembro-me de ser uma das dançarinas e mais tarde a vocalista.
“Eu tinha uma ligação e respeito pelos professores. Sempre fui muito ativa e confiante e creio que isso se deve em grande parte aos professores. Eles acreditavam em mim e recordavam-me muitas vezes que eu poderia ser uma líder.”
Experienciar a diferença
Para Fozia, o pluralismo foi uma experiência vivida.
A nossa não era uma escola de elite e, à época, dependia muito de subsídios. Relacionei-me com pessoas que falavam línguas diferentes e que tinham diferentes origens socioeconómicas. Foi construída para que um aluno cujo pai trabalhasse como auxiliar de limpeza no hospital fosse igual a qualquer outro aluno e tivesse acesso a todas as mesmas coisas. Neste sistema escolar, toda a gente se relacionava e ninguém era diferente.”
Emigrar e voltar
“Por vivermos numa cidade pequena, tínhamos poucas oportunidades, mas tínhamos a liberdade para sonhar em nos tornarmos pilotos, engenheiros e médicos. Por isso, estávamos todos preparados para salvar o mundo.”
Depois de obter o seu bacharelado e mestrado no país, Fozia realizou um doutoramento em Ciências da Engenharia na Universidade de Oxford.
“Fui para Oxford estudar ciências ambientais. Estar num lugar onde eram permitidos todos os tipos de conversas, culturas e identidades foi muito enriquecedor.
“Os meus professores estão muito orgulhosos de mim. Um aluno daquela escola ir para Oxford e voltar é um grande acontecimento. Sempre que volto a casa, participo em muitos eventos e encontro algumas das pessoas que me viram crescer.”
Pôr a investigação em prática
Regressada ao Paquistão, Fozia está atualmente a estabelecer novas áreas de investigação em ciência cidadã e política, como a importância dos espaços verdes em áreas urbanas, a monitorização da qualidade da água em Lahore e a instalação de sistemas para situações de emergência.
Também está a incentivar os professores a tomarem a iniciativa e a serem líderes – na frente climática.
Ainda que 95% dos professores tenham respondido num inquérito recente da UNESCO que querem ensinar acerca das alterações climáticas, apenas um terço referiu sentir a confiança para fazê-lo. Enquanto cientista ambiental, uma das formas de Fozia colocar em prática a sua investigação – relativa à poluição de plásticos, segurança alimentar e agricultura climaticamente inteligente, entre outras coisas – passa por preparar professores para que estes apoiem a próxima geração a cuidar do planeta.
“Recebi um subsídio da Embaixada dos EUA para formar 50 professores em Khyber Pakhtunkhwa, com investigação e conteúdo específicos para a região. E estou a supervisionar uma tese sobre o estabelecimento da importância do ambiente natural na primeira infância.”
Quando um dos seus alunos desenvolveu planos de aula para dentro e fora da sala de aula para observar quais os efeitos nos alunos, Fozia viu os mais introvertidos a juntarem-se e o grupo a mostrar empatia pelo ambiente. O resultado fez Fozia recordar as suas memórias dos tempos de escola: "Ao ar livre, os horizontes das crianças mudam e a conversa expande-se".