Kenya · 30 setembro 2021 · 4 Min
Gilbert Atukunda é professor de Língua e Literatura Inglesa na Escola Secundária Aga Khan de Kampala, onde ocupa ainda o cargo de Diretor do Departamento de Línguas desde 2017. Trabalhou com alunos e professores para construir uma tradição de poesia falada que capacite os alunos a se expressarem com confiança, colaborando ao mesmo tempo com outros alunos para criar poesia que eduque e entretenha o mundo. Enquanto artista de poesia falada, Gilbert tem prazer em organizar e apresentar a Poetry Café, a competição anual da escola, um evento altamente celebrado que atrai alunos de várias escolas do Uganda para partilharem a sua poesia falada e competirem por vários prémios.
Gilbert Atukunda.
AKDN
Gilbert obteve um Mestrado em Liderança e Gestão Educacional pelo Instituto para o Desenvolvimento Educacional da Universidade Aga Khan da África Oriental, e um Mestrado em Literatura e Cinema pela Universidade de Kyambogo.
Há quanto tempo ensina poesia falada e de que modo é que esta formação ajuda os seus alunos a crescerem e a desenvolverem-se de uma forma positiva?
Venho ensinando poesia a alunos entre os nove e os 17 anos desde 2014. Ser professor e poeta é uma parte fundamental da minha prática educativa. Uma vez que a poesia falada é a minha paixão, quis partilhá-la com os alunos e eles começaram a acolhê-la como uma forma artística porque perceberam que é muito mais do que apenas escrever num papel, ler e fazer um exame sobre isso. Nós encorajamos os nossos alunos a serem autênticos e a escreverem sobre aquilo pelo qual são apaixonados. Na minha opinião, a poesia deu aos alunos a voz para serem quem eles são.
Como é que a poesia falada ajuda a criar um ambiente de aprendizagem melhor e mais inclusivo?
A poesia falada abre uma plataforma para os alunos verdadeiramente falarem sobre aquilo que os entusiasma, e para mim isso é algo que eles apreciam bastante. Também fazemos disto um processo colaborativo no qual vemos os nossos alunos a desenvolverem-se imenso. Todas as quintas-feiras, temos aquilo a que chamamos “clínicas de poesia” durante as quais os alunos avaliam os poemas dos colegas. Às vezes, existem alunos que são muito bons a escrever, mas que dizem que não são capazes de ler em palco. Aí, arranjamos outro aluno que sente que não é muito bom a escrever, mas que, quando sobe ao palco para ler, é simplesmente explosivo. Emparelhamos estes alunos para que possam trabalhar em conjunto e aprenderem um com o outro, e no fim apresentarem um poema juntos.
Quando estamos nas nossas sessões da clínica de poesia, temos cerca de 50 poetas a partilharem as suas paixões e interesses, e eu consigo observar os níveis de confiança deles a subirem. Alguns destes alunos raramente falam na sala de aulas, mas quando estão nas clínicas de poesia vemo-los a ganhar vida. Para mim, a poesia falada tem-lhes dado um sentimento de pertença. Também oferece aos alunos a oportunidade de trabalharem com muitas pessoas, não apenas com as que fazem parte da nossa escola como também de outras escolas do Uganda. Este vínculo que todos os alunos têm com a poesia, a oportunidade que têm de debater livremente acerca das suas paixões, a avaliação feita pelos colegas e as sessões colaborativas juntam toda a gente para criar algo maior, e isso creio que dá aos alunos um sentimento de pertença social que eles merecem dentro de uma escola.
Enquanto principal organizador da competição anual Poetry Café na Escola Secundária Aga Khan de Kampala, quais foram os seus objetivos com este evento? Quais os sinais que mostram que esta iniciativa está a fazer a diferença, apesar dos confinamentos devido à COVID-19?
O nosso principal objetivo com a competição anual Poetry Café é fazer com que os alunos partilhem as suas opiniões sem medo e com confiança. Também queremos que os alunos adquiram bons conhecimentos acerca do assunto sobre o qual vão falar e que respeitem os colegas. Uma vez que não pudemos realizar a competição anual em 2020 devido ao encerramento das escolas, não queríamos que a mesma coisa acontecesse novamente este ano. Decidimos organizar a nossa competição anual Poetry Café online em Julho. Para nossa surpresa, o evento acabou por ser um sucesso de tal forma que os alunos ainda hoje falam dele nas várias plataformas de redes sociais. Como se isto não bastasse, tivemos tantas inscrições de alunos de outras escolas no evento que tivemos que encerrar as candidaturas mais cedo. No geral, o evento trouxe alegria a todos os alunos e serviu para fazer uma pausa na sua rotina normal de aprendizagem e estudo na sala de aulas.
Que conselho daria aos alunos que estão interessados em poesia falada, mas que não sabem por como começar?
Para ser um poeta da palavra falada com sucesso, é necessário estar bem informado sobre o mundo em seu redor, porque é daí que conseguirão retirar conteúdos. Têm de aprender a criar uma ligação com as pessoas e aprender com elas. Cada pessoa à nossa volta pode oferecer-nos uma experiência de aprendizagem diferente e, enquanto poeta, é preciso conhecer todas as experiências para escrever poesia que chegue ao coração das pessoas. Aos alunos interessados em se aventurarem na poesia falada, eu diria que devem aprender o máximo que puderem com toda a gente. A miríade de poetas que existe e o facto de vivermos numa era digital faz com esses poetas estejam facilmente acessíveis na internet, no YouTube ou em qualquer lugar, aprendam com eles e encontrem a vossa própria voz que fale por vocês porque isso é muito importante na poesia.