Bangladesh · 17 fevereiro 2021 · 5 Min
Sultan Ali Allana é o Diretor do Fundo Aga Khan para o Desenvolvimento Económico (AKFED) e tem como responsabilidade a supervisão dos investimentos do AKFED na área da banca e dos seguros. Allana, com mais de 35 anos de experiência na banca de retalho, corporativa e de investimento, é também presidente do Habib Bank Limited, o maior banco do Paquistão, com mais de 1650 agências e presença em mais de 15 países em todo o mundo. Desde 1997, Allana vem ocupando ainda o cargo de Diretor da empresa de Serviços de Promoção do Turismo do Paquistão, proprietária e gestora dos Hotéis Serena no Paquistão. Allana possui uma Licenciatura e uma Pós-Graduação pela Universidade McGill e pela Universidade de Wisconsin em Engenharia e Gestão.
Sultan Ali Allana
Qual a importância dos bancos comerciais na visão estratégica do AKFED?
O Fundo Aga Khan para o Desenvolvimento Económico (AKFED) procura investir, principalmente em economias emergentes, em iniciativas que contribuam para a criação de empresas sustentáveis e emprego. Neste contexto, a capacitação económica e o acesso ao financiamento são os fatores-chave. O portefólio de bancos e seguradoras do AKFED remonta às sociedades cooperativas e às seguradoras que foram estabelecidas na década de 1930 por Aga Khan III com o intuito de capacitar financeiramente as comunidades que tinham acesso limitado a serviços financeiros na era colonial e pós-colonial. A Jubilee Insurance foi fundada na África Oriental em 1930, a instituição antecessora do Banco DCB foi estabelecida na Índia em 1930 e a fundação do Grupo DTB remonta a 1946 na África Oriental. Com o estabelecimento do programa de crédito e poupança do Programa Aga Khan de Apoio Rural em 1982, lançaram-se as sementes do microfinanciamento no Norte do Paquistão, que evoluíram para a criação do First MicroFinanceBank no Paquistão em 2002. Quando o AKFED foi convidado pelo governo do Paquistão para se juntar ao processo de privatização do HBL em 2003, manteve a sua prática de apoio aa fortalecimento dos mercados de capitais em economias emergentes, tal como haviam feito em 2001 na República do Quirguistão, ao ajudar a criar o [Kyrgyz Investment and Credit Bank] Banco de Investimento e Crédito do Quirguistão (KICB) e o IPDC Finance Ltd em 1981 no Bangladesh. O AKFED dá destaque ao desenvolvimento dos recursos humanos locais em todas as suas instituições, em conjunto com a defesa das melhores práticas ao nível da administração corporativa e da inovação de produtos com foco na melhoria da qualidade de vida das populações.
Qual a relação de um banco como o HBL com a área do desenvolvimento?
O Habib Bank Ltd (HBL), enquanto maior banco comercial do país, está implantado no tecido social nacional, servindo 30 milhões de clientes em todo o país, dos vales mais remotos do Caracórum aos postos avançados de Thar. A liderança de conceito do HBL tem levado à promoção de iniciativas de financiamento para o desenvolvimento com vista à inclusão financeira da população carenciadas associadas aos sectores da agricultura e das PME. O banco liderou também o desenvolvimento do crédito hipotecário para ser tornar uma importante classe de ativos no Paquistão. Continua a desempenhar um papel importante na oferta de soluções ao nível da banca de investimento para empresas do sector público e privado que apostem em projetos de infraestruturas em energia, estradas e manufatura.
O HBL ocupa ainda uma posição de protagonista na promoção dos fluxos comerciais regionais entre os países da rede HBL e as iniciativas G2G no âmbito do Corredor Económico China-Paquistão, com as suas duas filiais em Pequim e Urumqi. O banco é membro da Associação Interbancária da Organização para a Cooperação de Xangai (SCO-IBA), o que lhe permite participar no debate com a SCO em relação à defesa dos fluxos comerciais na região.
Como evoluiu o microfinanciamento no contexto da AKDN?
A AKDN tem sido um forte impulsionador do microfinanciamento ao longo dos últimos 20 anos, altura em que tomou a decisão estratégica de dar um carácter institucional à questão da inclusão financeira. O First Microfinance Bank foi fundado no Paquistão em 2002 e a AKDN teve um papel central na conceção e promulgação da determinação legal do programa de microfinanciamento anteriores à implantação do banco no Paquistão em 2001. No seguimento desta medida, foram estabelecidos vários bancos e programas de microfinanciamento sob a égide da AKDN. Desde 2002, as iniciativas de microfinanciamento da AKDN já abrangeram mais de 2,8 milhões de clientes, entre os quais se incluem mais de 2 milhões de depositantes e mais de 750 000 mutuários, dos quais 255 000 são empresárias, ou seja, aproximadamente 34%. O programa de microfinanciamento da AKDN visa tirar as pessoas da pobreza e ajudá-las a melhorar a sua condição económica de forma sustentável. Os programas mais vastos de microfinanciamento no Paquistão e no Tajiquistão também procuram apoiar o “P” do segmento das PME e desenvolver microempresários.
De que modo é que a digitalização ajudou a melhorar a inclusão financeira?
A digitalização ajudou os bancos a chegarem àqueles que não têm acesso a serviços financeiros formais de uma forma económica, responsável e sustentável. Os clientes já não dependem das deslocações aos espaços físicos dos bancos - os bancos do portefólio do AKFED em África e na Ásia Central e do Sul têm conseguido dar resposta aos clientes através dos seus pontos de contato com recursos digitais nos locais mais remotos. Os nossos bancos estão a desenvolver parcerias digitais com comerciantes, fornecedores, pequenas e médias empresas, empresas de telecomunicações e outras empresas digitais para disponibilizar novos produtos e aumentar o envolvimento dos consumidores. Durante a pandemia, o nosso investimento obsessivo em tecnologia garantiu a ininterrupção dos serviços para os clientes do Quénia, Uganda, Tanzânia, República do Quirguistão, Índia e Paquistão.
No Paquistão, o HBL conseguiu estabelecer uma parceria com o governo do Paquistão para os pagamentos de segurança social. No âmbito do programa Kafalat, o HBL realizou pagamentos a mais de 3,3 milhões das mais meritórias mulheres de todo o país. Durante os confinamentos sem precedentes provocados pela COVID -19, o HBL tornou possível a colocação em prática do programa Ehsaas de Apoio Financeiro de Emergência, a maior rede de proteção social da história do Paquistão e da Ásia do Sul. O programa foi lançado pelo governo do Paquistão para apoiar os trabalhadores que ganham ao dia e ao trabalho, que viram os seus meios de subsistência arrasados devido aos confinamentos. Através dos seus vários pontos de contacto em todo o país, o banco conseguiu garantir a distribuição por mais de 12 milhões de famílias de um total de 175 mil milhões de rúpias paquistanesas (cerca de mil milhões de euros) ao longo de um período de dois meses. A HBL desenvolveu e lançou ainda um produto de poupança para os beneficiários de prestações sociais em situação de vulnerabilidade, oferecendo-lhes as ferramentas para desenvolverem uma resiliência económica e financeira contra choques de natureza económica.
O futuro dos serviços financeiros e da inclusão financeira está no nosso portefólio de bancos e seguradoras que estão a incorporar a tecnologia. Não deixaremos pedra sobre pedra no nosso intuito de converter as nossas instituições em centros de excelência e seguir as melhores práticas globais nos vários domínios das nossas iniciativas atuais e futuras, progredindo com confiança e otimismo.