Quénia · 15 março 2021 · 4 Min
Na província costeira do Condado de Kwale, no Quénia, muitos dos habitantes das zonas rurais não têm acesso a serviços básicos, o que dificulta as suas condições de vida, especialmente em famílias com crianças pequenas. Luciano Torriani, de 15 anos, estudante do 10.º ano da Academia Aga Khan (AKA) de Mombaça, residente no Condado de Kwale, cresceu a testemunhar esta realidade e sentiu que poderia modificá-la e ajudar os mais necessitados em seu redor. Com determinação e paixão, Luciano inventou um sistema económico de fornecimento de eletricidade e purificação de água com o intuito de melhorar a qualidade de vida da sua comunidade.
A invenção de Luciano, intitulada Sistemas Elétricos e de Purificação para Zonas Rurais (REPS), foi criada para ser o seu projeto pessoal no âmbito do currículo do Programa do International Baccalaureate (IB) para o Ensino Preparatório na Academia. Luciano percebeu que esta inovação acessível seria uma solução de longo prazo para as comunidades que vivem próximas de sua casa.
“A constante escassez de eletricidade e água potável incentivou-me a executar este projeto”, disse Luciano. “É lamentável ver a minha comunidade a ter dificuldades em aceder a serviços básicos, e isso inspirou-me a criar uma mudança.”
Luciano é um estudante curioso e combinou os seus conhecimentos de Engenharia Elétrica, Física e Química adquiridos na Academia para criar o REPS, tendo também colaborado com eletricistas e membros da comunidade ao longo do projeto. Na prática, o REPS tem dois componentes: um sistema elétrico e um filtro de água. Para o sistema elétrico, a energia é obtida a partir de uma mistura de lixívia e água que atravessa um ânodo de cobre catódico e folha de alumínio, que pode gerar energia numa lâmpada sem baterias ou qualquer outra fonte de energia. O componente do filtro de água envolve uma camada de materiais, que inclui rochas, relva, carvão e areia, que remove as impurezas da água e prepara-a para uma descontaminação adicional através da ebulição. No total, esta inovação pode ser construída com cerca de 40 xelins quenianos, cerca de 31 cêntimos de euro.
“Diria que a minha principal inspiração veio da minha exposição na infância aos sistemas elétricos e da minha paixão pela física e pela química”, disse Luciano. “Em criança, observava o meu pai a arranjar manualmente baterias de carro na sua profissão. Da mesma forma, poder misturar produtos químicos e realizar experiências abstratas na Academia contribuiu também para o meu entusiasmo em relação a este projeto.”
O supervisor do projeto de Luciano na AKA Mombaça, o professor de física Phelester Obdeno, disse que sempre admirou o compromisso de Luciano para com o seu projeto, para além das suas competências de pensamento criativo e inquisitivo.
“Luciano dedicou o seu tempo à conceção e reformulação do REPS de cada vez que nos reuníamos para assegurar que estava a utilizar materiais locais em pequena escala.”
Através do seu trabalho árduo e dedicação, Luciano pôde partilhar o seu projeto com várias comunidades no Condado de Kwale, chegando a mais de 100 pessoas. Para sublinhar a simplicidade e a relação custo-benefício do projeto, Luciano construiu também o seu sistema elétrico em poucos minutos perante alguns habitantes de uma comunidade.
“No início, estavam muito céticos, pensavam que eu estava a inventar porque há muita gente online a prometer eletricidade gratuita”, disse Luciano. “Porém, quando o sistema começou a trabalhar, eles ficaram muito chocados e muito felizes. Muitas pessoas contactaram-me logo de seguida para me pedirem os planos.”
Luciano atribui o seu sucesso com o REPS ao currículo único do IB na Academia, que o levou a “pensar fora da caixa” e mais como um líder de ética na sua comunidade.
“A minha aprendizagem enquanto aluno do IB sem dúvida que contribuiu para ter uma mente aberta e um pensamento e atitudes inquisitivas, algo que coloquei em prática ao longo do meu projeto. Estou extremamente grato pela educação e pelas oportunidades que tenho tido na Academia, e esta é uma das muitas razões pelas quais sou aquilo que sou hoje.”
Luciano é apenas um dos muitos alunos pelos quais as Academias Aga Khan têm grandes expetativas em relação ao futuro. No futuro, Luciano espera que o REPS continue a disseminar-se pelas comunidades e ajude a melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. Ele espera também poder vir a combinar a sua paixão por servir e colaborar com a sua comunidade com os seus objetivos futuros quando for para a universidade.
“Os meus objetivos de futuro em relação ao REPS passam principalmente por espalhar a palavra acerca do projeto. Quero que as comunidades sejam capazes de criar facilmente os sistemas na minha ausência. Embora não tenha ainda decidido o que vou estudar na universidade, economia e engenharia parecem ser boas áreas viáveis para investir e tornar-me um profissional autónomo e continuar a apoiar e colaborar com as pessoas da minha comunidade.”
Assista a este vídeo para ver Luciano a demonstrar a sua inovação.