Tanzânia · 1 setembro 2023 · 4 Min
Liberata Mulamula, aluna da Turma de 1975 da Escola Secundária Aga Khan de Mzizima, em Dar es Salaam, tem vindo a servir o seu país há mais de 35 anos, incluindo como Ministra dos Negócios Estrangeiros, Deputada, Secretária Permanente do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Embaixadora da Tanzânia nos EUA e no México. Equilibrada, atenciosa e acessível, ela recorda com uma gargalhada como Mzizima foi – “finalmente” – a sua primeira experiência numa escola mista. Nessa escola, os professores inspiraram-na ao afirmarem que “as raparigas eram tão boas ou melhores que os rapazes”.
Aos 17 anos, Liberata mudou-se do interior da Tanzânia para Dar es Salaam, onde completou os estudos de nível secundário na Escola Secundária Feminina de Tabora. Em Dar, ela e a sua irmã gémea, Illuminata, não foram admitidas diretamente nas escolas secundárias públicas, mas o pai – um convicto profissional do ensino – não estava disposto a deixar as coisas ao acaso.
“Havia poucas escolas secundárias para albergar todos os alunos. Por isso, era muito comum alguns alunos não serem admitidos, apesar de passarem nos exames e terem condições para continuar os estudos.”
Dada a sua capacidade limitada, as escolas secundárias públicas estavam no limite, admitindo apenas dois terços dos alunos habilitados. Enquanto administrador de educação, o Sr. Rutageruka escolheu o local onde as suas filhas iriam poder garantir uma instrução de qualidade com vista à realização dos exames de acesso à universidade.
«Quando nacionalizaram a maioria das escolas privadas, a Escola Aga Khan de Mzizima continuou a ser privada. Por isso, quando o nosso pai decidiu levar-nos para essa escola, ele fez um grande sacrifício, pois não era barata. Sendo ele professor, ele queria que tivéssemos a melhor educação possível.”
Liberata ficou impressionada com os edifícios modernos e o tamanho das turmas: “Estávamos habituadas a turmas grandes com mais de 50 alunos. Quando entrámos para a escola de Mzizima, creio que éramos 25. Os professores conheciam cada um de nós: os nossos pontos fracos e fortes.”
“A escola tinha um lema: ‘Melhor, sempre melhor’. Por isso, estávamos sempre a esforçarmo-nos para sermos melhores.” Mas isto não significava apenas ter um bom desempenho nos exames. Era importante aprender, ser mais curioso acerca do mundo, fazer as perguntas certas e aplicar o conhecimento de forma construtiva e interessante.
“Tínhamos um professor de economia que dava exemplos muito reais. Ele dizia: ‘A economia está presente em tudo o que fazemos todos os dias. Quando vão às compras, o que vão comprar? Quanto dinheiro têm, quais as vossas prioridades, quanto querem poupar?’ Ele tornava tudo muito simples e interessante."
O currículo abrangente e o grupo diversificado de colegas em Mzizima tiveram influência na decisão de Liberata de estudar relações internacionais na Universidade de Dar es Salaam. “Pude usar os meus conhecimentos de história mundial e geografia desde o ensino secundário. Para nós, tinha uma dimensão mais global.”
“Respeitávamo-nos uns aos outros nas nossas crenças religiosas. De onde sou oriunda, a maioria da população é predominantemente católica romana. Então, perante esta outra fé, a dos muçulmanos ismailis, tivemos de nos adaptar, para podermos coexistir e compreendê-los. E, claro, para que eles nos compreendessem.”
Ela recorda quando iniciou o seu primeiro emprego: “A Tanzânia faz fronteira com oito países e, naquela época, a maioria destes países estava em guerra ou conflito. Crescemos na nossa aldeia com refugiados do Burundi, do Ruanda, por isso, quando entrei para o serviço diplomático, interessei-me por aquilo que a Tanzânia estava a fazer para trazer a paz a estes países.”
Durante o seu trabalho em conflitos fronteiriços, Liberata viu que eram as mulheres quem sofria mais. Ao longo dos anos, à medida que foi assumindo cargos com cada vez mais responsabilidade, começou a acreditar que com mais mulheres em cargos de liderança a paz e a segurança poderiam ser mais exequíveis e sustentáveis.
“As mulheres têm um papel a desempenhar nos esforços de paz, mas também na prevenção de guerras. As mulheres são muitas vezes os olhos e os ouvidos no terreno. Interessamo-nos, somos muito curiosas, temos sempre a certeza ou o medo de que algo está para acontecer. Por isso, falem!
“Seja ao nível da família, da sociedade, da comunidade ou da nação, um líder pode construir ou destruir uma família, sociedade ou nação. É por isso que decidi ensinar liderança e colocar as mulheres no centro”, diz, referindo-se aos seus cursos sobre Mulheres e Liderança em África na Escola Elliott de Relações Internacionais da Universidade George Washington. “Eu pensei: ‘À geração mais jovem, eu talvez pudesse transmitir um pouco da minha experiência em liderança.’”
Ao longo da sua carreira, Liberata arranjou tempo para preparar e orientar funcionários juniores no Ministério dos Negócios Estrangeiros – muitos dos quais são hoje embaixadores, diretores, deputados ou vice-ministros. Ela sente que o seu maior contributo tem sido escutar e ajudar a próxima geração a ter sucesso: a mostrarem interesse e a gostarem do que fazem, a serem eles mesmos, a “não deixarem que ninguém lhes roube a confiança”, a esforçarem-se para serem melhores (“sempre melhores”) e extraordinários.
Um pouco como o professor de economia de Mzizima motivava os seus alunos: "Ele queria que todos nós tivéssemos sucesso."
O seu singelo conselho para os estudantes e jovens profissionais: “Sejam vocês mesmos. Podem seguir os passos de alguém, mas nunca tentem calçar os sapatos de outros. Tenho uma irmã gémea idêntica, mas não calçamos o mesmo número! E quando se fala em líderes, a maioria das pessoas olha para líderes icónicos, pessoas famosas. Mas eu digo, a liderança começa com vocês. Cada pessoa é um líder."