Crianças a caminharem para casa em Barsem, Tajiquistão. Um lago nas imediações causou uma torrente de lama em 2015, causada pelas altas temperaturas e por um rápido degelo da neve e glaciares. O lago submergiu a estrada, as linhas de energia, quintas e casas. A AKAH ajudou a comunidade a recuperar com novas habitações, sistemas de água e outras infraestruturas.

AKDN / Christopher Wilton-Steer

Quais são as outras principais áreas de atuação da agência?


Penso que é importante falar sobre a principal atividade da AKAH, que é o abastecimento de água e saneamento.


Ao longo dos últimos 18 anos, a AKDN levou água canalizada às casas de meio milhão de famílias. Passados dez anos, fomos convidados a avaliar aquilo que tinha sido construído. Noventa e seis por cento dos sistemas ainda estavam a funcionar de acordo com os padrões da Organização Mundial da Saúde.


A razão pela qual muitos deles continuavam a funcionar é a mesma razão pela qual sempre funcionaram: a engenharia é muito boa e foi dada muita atenção às fontes de águas para obtermos a qualidade de que precisamos. Mas o motivo pelo qual continuam a funcionar é porque a comunidade ajudou a construí-los e porque demos formação a membros da comunidade para realizarem uma manutenção regular. Não consertar depois de se estragar, mas sim fazer uma manutenção regular.


A primeira vez que vi um destes sistemas, foi-me dado um copo de água e eu fingi que dava um golo na água mas fechei a boca. O Presidente da AKAH Paquistão viu-me a fazer isso e disse: “Não, não, pode beber”. Eu disse: “Sou estrangeiro, não estou habituado a esta água, vai-me fazer mal.” Ele disse: “Se pode beber água Evian, também pode beber esta.” E eu bebi. Era perfeitamente salutar.


E isto é importante porque eu considero que aquilo que fazemos nos países em desenvolvimento deve ser tão bom ou melhor em matéria de qualidade que aquilo que fazemos em qualquer lugar do mundo. Eles precisam de qualidade tanto como qualquer outra pessoa.


De que modo é que algumas destas questões são diferentes para as mulheres e raparigas?


Um planeamento que crie oportunidades significa que deixamos de pensar apenas na sobrevivência das comunidades, mas também no modo como poderão, com o tempo, vir a sair da pobreza. Se fizermos isto, é muito importante perceber que esta é uma manobra intergeracional.


Hoje em dia, na maioria das sociedades em que trabalhamos, a imagem tradicional seria aquela em que os filhos homens da família seguiriam as pegadas do pai. Um exemplo simples, se eles são agricultores, os filhos provavelmente serão agricultores. Depois apercebemo-nos subitamente de que, se apenas uma das raparigas se puder tornar enfermeira, o que é possível na AKDN, toda a família terá um futuro completamente diferente.


Então este é um exemplo de uma família. Se multiplicarmos isto, não nos estaremos a concentrar apenas nos jovens, mas nas jovens do sexo feminino, que é onde reside o cerne da questão.


Digo isto sem qualquer menosprezo pelos rapazes. Eles podem e devem tirar o melhor partido das suas vidas também. Mas se nos concentrarmos verdadeiramente em capacitar as raparigas, acredito que o desenvolvimento pode ser muito rápido.


O que o inspira a fazer este trabalho?


Eu gosto de contar a história de uma aldeia que foi atingida pelo transbordamento de um lago glaciar. Houve muito trabalho na construção de um sistema de alerta precoce, monitorização de glaciares através de drones, todo tipo de coisas sofisticadas [para identificar o risco].


Mas, no final, foram dois rapazes com uma bandeira, sentados na encosta de uma colina a olharem para o glaciar, e dois rapazes do outro lado, a observarem o movimento da bandeira que avisava que o risco se tinha materializada e estava na altura de evacuar a aldeia. A isto se chama mobilização da comunidade. Ao combinar a mobilização da comunidade com a ciência, podemos resumir a questão à confiança depositada em quatro rapazes que ficaram acordados toda a noite e foram capazes de salvar, neste caso, 250 pessoas cujas casas ficaram inundadas.


Passei toda a minha carreira na área do desenvolvimento. E quanto mais eu viajava e mais conversava com as pessoas sobre o desenvolvimento e tentava entendê-lo, mais eu percebia que as respostas não residem nas contribuições de pessoas de fora, mas sim naquilo que a própria comunidade pode fazer.


Onno Ruhl é o Diretor-Geral da Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH). O Sr. Ruhl ocupou cargos no Banco Mundial, como diretor nacional para a Nigéria e, mais recentemente, como diretor nacional para a Índia.