India · 18 agosto 2019 · 4 Min
Em 2020, a média etária na Índia será de 29 anos, fazendo do país um dos mais jovens do mundo. Estão a entrar anualmente no mercado de trabalho entre 12 e 15 milhões de jovens, e estima-se que na próxima década irão juntar-se ao mercado trabalho mais de 250 milhões de jovens. De acordo com várias pesquisas industriais, 75-80% das pessoas empregadas não estão aptas para os seus empregos atuais e não têm as qualificações adequadas. Menos de 5% do mercado de trabalho do país possui qualificações formais. Para a juventude das zonas rurais, a situação é ainda pior, pois a falta de divulgação, educação e competências obriga-os a migrar para as cidades como mão-de-obra. O sector agrícola, que emprega mais de 124 milhões de cultivadores e 107 milhões de trabalhadores agrícolas, cresce apenas 2% ao ano, ao passo que a economia, no geral, cresce a uma taxa de 7% ao ano. Existe claramente uma urgente necessidade de dotar os jovens com as competências e a educação que os tornem empregáveis em sectores não-agrícolas e bem-sucedidos numa economia de mercado em mudança.
A história de Bhavana Bharda sintetiza as lutas e os sucessos de um grande número de jovens de zonas rurais. Bhavana tem 20 anos e vem da aldeia de Juthal, no distrito de Junagadh, Gujarate, e tinha deixado a escola devido às más condições económicas da sua família. O seu pai era um trabalhador agrícola sem terra, com um rendimento anual inferior a 420 dólares, com dificuldades para dar resposta às necessidades básicas da sua família. Bhavana foi sempre uma ótima aluna e estava determinada a sustentar a sua família. Certo dia, ouviu falar do centro Yuva Junction gerido pelo Programa Aga Khan de Apoio Rural (Índia), através de um dos mobilizadores que visitou a sua aldeia. Ao ver o leque de oportunidades oferecidas para o desenvolvimento das competências dos jovens, educação e empreendedorismo, Bhavana - apesar da sua escolaridade limitada - estava determinada a conseguir obter rendimentos para ajudar a sua família. Ela visitou o centro Yuva Junction Maliya para obter aconselhamento, tendo-se posteriormente matriculado e concluído o curso de CRM Domestic Non Voice (BPO), na área da assistência ao cliente. Com estas novas competências em assistência ao cliente por telefone, Bhavana conseguiu o seu primeiro emprego com um salário inicial de 113 dólares por mês. A sua determinação e confiança ajudaram-na a mudar-se para a cidade de Ahmedabad e a ser a primeira rapariga a deixar a sua aldeia para trabalhar numa cidade grande, uma fonte de orgulho para a sua família. Desde então, têm surgido muitas oportunidades para Bhavana; hoje trabalha na HDB Finance e ganha 253 dólares por mês. Ela apoia a sua família enviando para casa metade do seu ordenado, que o pai utiliza para investir na agricultura e desenvolver recursos. Quando lhe perguntaram acerca do programa, Bhavana disse:
“O Yuva Junction teve um papel vital na minha vida. É o meu mentor e guia. Estou muito agradecida ao Yuva Junction. Hoje sinto-me mais confiante e posso conversar com as pessoas à vontade."
Desde 2007, milhares de jovens como Bhavana, de aldeias remotas e zonas tribais, vêm-se juntando aos centros Yuva Junction para obterem formação em competências de empregabilidade e colocação no mercado de trabalho em sectores em crescimento, como o de retalho, BPO, telecomunicações e banca. Para preencher o fosso digital entre a Índia rural e a Índia urbana, o programa inclui cursos emergentes virados para o mercado de trabalho, incluindo vendas em retalho, BPO e contabilidade, para além de formações mais tradicionais em competências de costura e estética. Em todos estas áreas, o programa oferece apoio na colocação para adequar estes jovens a oportunidades de emprego dignas e apropriadas às suas competências.
Para além da formação específica da área, o Yuva Junction oferece aos jovens a hipótese de desenvolver as suas competências básicas em informática, internet, inglês básico e competências para a vida. Os módulos são ministrados através de vídeos de aprendizagem combinada, formação em sala de aula, dramatização, análises de mercado e visitas de exposição. Atualmente, a iniciativa - apoiada por parceiros de longa data, incluindo a Microsoft, a Quest Alliance, a fundação NASSCOM, a Fundação Axis Bank, o governo da Índia e as comunidades locais - opera através de 17 centros de formação situados em zonas remotas de dois estados: Gujarate e Bihar. Nos últimos 10 anos, formou mais de 35.000 jovens em competências digitais. Desde 2012, depois de adotar uma abordagem orientada para o mercado de trabalho, cerca de 5.000 mulheres e homens já concluíram a formação em competência de empregabilidade e 3.500 conseguiram emprego com salários iniciais anuais de 1.200 a 1.500 dólares, um rendimento considerado decente para o contexto indiano.
Nos últimos anos, as tecnologias de telemóveis e internet atingiram até as zonas mais remotas da Índia. Como resultado, mudaram também as aspirações da juventude rural. Não só querem trabalhar em centros urbanos, com aspiram também a tornar-se empreendedores, a concluírem estudos superiores e a tornarem-se profissionais. Para responder a estas novas aspirações, o Yuva Junction iniciou um programa de desenvolvimento do empreendedorismo para jovens de zonas tribais. O sucesso inicial é bastante encorajador e, nos últimos dois anos, mais de 50 jovens tornaram-se empreendedores, criando emprego para cerca de 150 membros da comunidade local.
E agora? Em colaboração com a Microsoft, o Programa Aga Khan de Apoio Rural (Índia) está a desenvolver o seu primeiro centro rural de entrega de serviços digitais em Gujarate. Este serviço apoiará o estabelecimento de empresas modernas na área - criando maiores oportunidades de emprego que correspondam às competências e aspirações dos jovens rurais da geração do milénio que buscam um melhor meio de vida.
Por Vivek Singh, Gestor Sénior (Desenvolvimento da Juventude), e Shabya Baroi, Gestora (Desenvolvimento de Competências), do Programa Aga Khan de Apoio Rural (Índia)