Pakistan · 13 fevereiro 2020 · 3 Min
Zeina, natural de Lahore, trabalha como Cientista de Conservação, tendo estudado Química na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. No segundo ou terceiro ano do seu curso, Zeina andava apreensiva com o facto de considerar a ciência uma disciplina muito rígida. Ela começava a interessar-se mais por história e cultura e queria seguir uma carreira que tivesse um benefício social e humanitário. O trabalho de conservação reuniu os seus interesses.
“Comecei a interessar-me pela arquitetura islâmica e queria ter contacto com a história islâmica e com todas as artes e técnicas utilizadas, em especial o património mogol, por isso estava convicta em voltar ao Paquistão depois dos meus estudos. Viver tão longe de casa fez aumentar o meu interesse na minha própria cultura e história.”
“A conservação é uma área muito gratificante, mas quando se trata da nossa própria cultura e património, existe um vínculo mais forte e uma dimensão mais pessoal.
“A conservação é uma área nova no Paquistão. Nos países vizinhos - como o Irão, Afeganistão, Tajiquistão e Índia - eles concentram-se principalmente na reconstrução, substituindo apenas aquilo que está a degradar-se por algo novo e não existe muita análise e investigação acerca dos materiais históricos. A ciência tem um papel importante quando nos concentramos na preservação e não na reconstrução. Este é um dos primeiros projetos no Paquistão focados na preservação - ou seja, salvar aquilo que resta - e este é o primeiro projeto em que a ciência esteve realmente envolvida.”
“Desde a revolução industrial, a ciência moderna fez muitas coisas positivas, mas aos meus olhos, a ciência tem sido bastante destrutiva, especialmente para o ambiente e tem destruído grande parte do passado. Acredito que agora está na altura da ciência preservar o passado.”
“É bastante importante que as gerações futuras tenham uma consciência cultural do seu passado. Não creio que se possa entender o passado ou o presente sem que os contextualizemos à luz do passado, especialmente se esse passado for muito bonito. O património mogol que possuímos é o apogeu do nosso desenvolvimento artístico e intelectual. Trazê-lo de volta, recordá-lo e ter uma materialização tangível deste passado é muito importante para a memória das pessoas. É uma forte evocação daquilo que perdemos."
Arquitetos, historiadores de arte, engenheiros, artistas plásticos, químicos, conservadores e ceramistas compõem a constelação de jovens qualificados que trabalham para o Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC) num dos maiores projetos de restauração do Paquistão.
A Muralha das Figuras do Séc. XVII da era mogol na Cidade Murada de Lahore tem-se vindo a degradar ao longo dos últimos 100 anos, mas graças aos esforços da Autoridade da Cidade Murada de Lahore, de doadores internacionais e da energia contagiante desta jovem equipa de conservadores, a muralha está a recuperar o seu esplendor original.
A primeira fase da restauração deste património mundial da UNESCO - cerca de 50 metros - ficou concluída no final de Março de 2019 e foi inaugurada pelo Primeiro-Ministro Imran Khan. A restauração dos restantes 400 metros desta estrutura inspiradora irá prolongar-se por uma década.
Este artigo foi publicado originalmente no blogue Wilton Photography.