Os compromissos assumidos por muitos países em desenvolvimento na questão do clima dependem do financiamento dos países mais ricos, cujo próprio desenvolvimento foi alimentado por combustíveis fósseis e cujas emissões foram as que mais contribuíram para as alterações climáticas. No entanto, a última cimeira da ONU sobre o clima terminou com os países ricos a oferecerem menos de um quarto dos 1,3 biliões de dólares esperados para apoiar uma transição justa. O Grupo dos Países Menos Desenvolvidos apelidou o resultado de “traição espantosa aos mais vulneráveis do mundo”.

Então, porque é que se espera agora que os países com baixas emissões limitem o seu próprio desenvolvimento através da redução do uso de combustíveis fósseis?

A energia limpa não é, a longo prazo, um custo, mas sim um investimento. Eis cinco maneiras pelas quais o abandono dos combustíveis fósseis pode beneficiar as pessoas, o ambiente e as economias nacionais.

Nos últimos 50 anos, houve cinco vezes mais catástrofes registadas. Só em 2022, as condições climatéricas extremas provocaram a deslocação de 12 milhões de crianças. Dois mil milhões de pessoas enfrentam a ameaça da seca - e quase o mesmo número está em risco de inundações. Para muitos, está demasiado calor para trabalhar.

A queima de combustíveis fósseis - principalmente carvão, petróleo e gás - gera mais de 75% das emissões globais de gases com efeito de estufa, retendo o calor do sol e provocando esta cascata de danos. O abate de florestas para combustível ou terras agrícolas só piora a situação.

As economias emergentes e em desenvolvimento foram responsáveis por mais de 80% do aumento da procura de energia no ano passado, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Essa procura pode alimentar ainda mais as alterações climáticas - ou pode alimentar um futuro de energia limpa. As energias renováveis, como a solar, a eólica, a hídrica e a geotérmica, estão a tornar-se mais baratas e mais eficientes, o que permite a muitos países passar diretamente para sistemas energéticos não poluentes.

Em 2024, as energias renováveis forneceram 32% da eletricidade mundial. Se as emissões forem reduzidas para metade até 2030 e quase erradicadas até 2050, ainda poderemos evitar os piores impactos das alterações climáticas.

Cozinhar e obter aquecimento com carvão, madeira ou estrume enche as casas de fumo tóxico. As partículas finas - incluindo a fuligem, o carbono negro e o pó - entram nos pulmões e na corrente sanguínea, causando pneumonias, doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais, cancro do pulmão e complicações na gravidez.

As crianças são especialmente vulneráveis: respiram mais depressa e têm sistemas imunitários menos desenvolvidos. Em 2019, a poluição atmosférica foi associada a quase um terço de todas as mortes de bebés com menos de 28 dias de idade.

No exterior, a poluição industrial também prejudica a saúde física e mental. Um estudo escocês recente encontrou uma ligação entre o dióxido de azoto - proveniente do trânsito e das centrais eléctricas - e o aumento das entradas hospitalares por perturbações comportamentais e de saúde mental.

A mudança para as energias limpas evita estes perigos. Pequenos projetos fora da rede podem levar a eletricidade às casas pela primeira vez - alimentando a iluminação, os aquecedores, os frigoríficos e até melhorando a segurança alimentar e a nutrição. A energia fiável também mantém os hospitais a funcionar.

Na Síria e no Afeganistão, a energia solar alimenta atualmente as instalações de saúde da Aga Khan, evitando tanto a escassez de gasóleo como a poluição atmosférica.

A extração de combustíveis fósseis - através da exploração mineira, da perfuração ou do fracking - prejudica os ecossistemas e as comunidades. Contamina o solo e a água, e dá origem a resíduos nocivos, poluição e ruído - e, por vezes, até a terramotos. As fontes de água locais são desviadas para o uso industrial e as florestas são arrasadas para dar lugar às minas.

Em contrapartida, uma vez construídos, os painéis solares geram energia limpa. As grandes turbinas eólicas requerem terrenos e infraestruturas, mas não poluem. A energia hidroelétrica em pequena escala tem um impacto ecológico mínimo.

A nível mundial, mais de metade das árvores cortadas são utilizadas para lenha ou carvão. As alternativas de energia limpa podem reduzir a desflorestação, permitindo que as florestas continuem a refrescar o ar, a prevenir as inundações, a filtrar a poluição e a abrigar polinizadores e animais selvagens. Os elefantes, os chimpanzés e inúmeras outras espécies podem manter as suas casas em vez de serem forçados a entrar em contacto - e muitas vezes em conflito - com os seres humanos.

A AKDN plantou árvores para:

• refrescar as cidades,
• filtrar as águas residuais,
• armazenar carbono,
• fornecer alimentose
• impulsionar os rendimentos.

A energia limpa ajuda a reduzir as disparidades entre ricos e pobres, homens e mulheres e habitantes das zonas urbanas e rurais.

Após a instalação inicial, a energia solar e a energia eólica são mais baratas do que os combustíveis fósseis, cujo preço aumentou desde 2019. Para as famílias que anteriormente não podiam pagar a eletricidade, a energia limpa traz acesso a ferramentas que poupam trabalho, dão a capacidade de carregar telemóveis e as oportunidades para gerir pequenas empresas ou aceder a serviços digitais. Também evita a prática comum de instalar centrais elétricas poluentes perto das comunidades marginalizadas.

Em muitos locais, as mulheres e as raparigas passam horas por dia a recolher lenha. Isso tem custos em termos de tempo, saúde, segurança e oportunidades - incluindo a escola e o trabalho. A energia limpa significa maior segurança, liberdade e dignidade.

É frequente que as zonas urbanas tenham um melhor acesso à eletricidade do que as zonas rurais. No Paquistão, por exemplo, quase todos os habitantes das cidades têm eletricidade, em comparação com apenas 54% nas zonas rurais. Os painéis solares, as micro-hídricas e as pequenas redes eólicas oferecem soluções descentralizadas, que podem chegar a 700 milhões de pessoas globalmente, que não podem contar com as infraestruturas nacionais.

A energia limpa cria oportunidades - para indivíduos, comunidades e países inteiros. E, em 85% do mundo, é atualmente mais barato construir infraestruturas de energia eólica e energia solar do que centrais elétricas alimentadas por combustíveis fósseis.

Quando as casas têm eletricidade, as crianças podem estudar depois de escurecer e os adultos podem investir em equipamento ou tecnologia para desenvolver pequenas empresas ou explorações agrícolas. Com a redução do trabalho doméstico, as mulheres têm a oportunidade de entrar no mundo dos negócios. Nas zonas rurais, um fornecimento estável de eletricidade permite a existência de telecomunicações, atraindo empresas e encorajando os jovens a permanecer no país. No Norte do Paquistão, espera-se que oito novos centros tecnológicos de energia limpa deem apoio a mais de 140 empresas.

A energia limpa também oferece a possibilidade de uma independência energética nacional. A Missão Solar Nacional da Índia já triplicou o seu objetivo inicial, dando ao país a quarta maior capacidade de energia solar do mundo - e ajudando a impulsionar a procura de empregos qualificados. A indústria solar da Índia está agora a criar trabalho ao nível da conceção, fabrico e instalação. E a utilização de energia renovável distribuída, como os painéis solares nos telhados, pode gerar até 25 vezes mais emprego do que a energia proveniente de combustíveis fósseis.