Kenya · 24 agosto 2014 · 5 Min
A magia por detrás da utilização por parte da Academia Aga Khan de Mombaça do software ABRACADABRA de alfabetização infantil começou em 2010.
Tudo começou quando a Universidade Concordia, em Montreal, acolheu a Fundação Aga Khan do Canadá para a exposição da AKF “Pontes Que Unem". Depois de uma subsequente interação e debate entre as instituições, estas decidiram avançar com um projeto-piloto que usaria tecnologia inovadora para apoiar a alfabetização infantil em língua inglesa em Mombaça, no Quénia.
O programa O projeto envolveu a criação de uma parceria entre a Academia Aga Khan de Mombaça e o Centro para o Estudo da Aprendizagem e Desempenho (CSLP) da Concordia no sentido de utilizar o software ABRACADABRA (ABRA) para fortalecer as competências de alfabetização das crianças nas escolas quenianas.
O ABRA é um programa gratuito e interativo de alfabetização online, desenvolvido para os alunos do ensino primário, os seus professores e pais. O CSLP da Concordia desenvolveu e validou o programa para ajudar a resolver o problema das taxas globais de alfabetização assustadoramente baixas. O ABRA ensina através de histórias digitais e atividades interativas, oferecendo apoio em competências como compreensão da leitura e escrita.
Estão já concluídas duas fases do projeto e uma terceira está em andamento.
Na primeira fase, seis professores locais de inglês de Mombaça e as suas turmas de segundo ano usaram o software ABRA na sala de informática da Escola Júnior da Academia ao longo de um período de 13 semanas. Outro conjunto de seis professores e os seus alunos funcionaram como um grupo de controlo, aprendendo os mesmos conteúdos em condições normais nas suas escolas. Na segunda fase, o grupo de controlo trabalhou com o software na sala de informática. Durante todo o processo, os professores receberam apoio por parte de mestres locais da Academia Aga Khan de Mombaça, assim como da equipa do CSLP de Concordia em Montreal. O sucesso de ambas as fases excedeu as expectativas.
Em 2013, o CSLP recebeu uma subvenção do Conselho de Investigação em Ciências Sociais e Humanidades do Canadá para continuar o projeto para uma terceira fase com o objetivo de chegar a um número maior de alunos e professores.
Sucessos e desafios
Para o Prof. Phil Abrami, Diretor do CSLP, e Anne Wade, Gestora e Especialista em Informação do CSLP, o uso do programa ABRA no Quénia não esteve isento de obstáculos. Mas o sucesso da iniciativa superou em muito os problemas.
“Trabalhar a distância levanta sempre desafios - só a nível logístico, chamadas telefónicas e ligações de Skype que caem, o envio de material ao longo de grandes distâncias, e por aí fora”, disseram Phil e Anne. Estas limitações tecnológicas, disseram, tornam o uso da ABRA no Quénia mais desafiante do que em outros países em que trabalharam.
Apesar disto, estão bastante satisfeitos com as melhorias no ensino e na aprendizagem, não apenas no que diz respeito à alfabetização - como evidenciado pelas notas pós-avaliações - mas também em outras disciplinas, o que se comprova por notas mais altas nos exames curriculares nacionais. E tem sido óbvio o entusiasmo e o envolvimento de professores, administradores escolares, funcionários do governo e funcionários da Academia Aga Khan.
Benefícios da Parceria
A parceria entre a AKA de Mombaça e o CSLP em Concordia é mutuamente benéfica.
"Este projeto não poderia ser um sucesso sem o envolvimento ativo e contínuo da Academia Aga Khan e do seu verdadeiro apoio de proximidade junta da comunidade", disseram Phil e Anne. “A Academia não oferece apenas um espaço, mas incentiva igualmente os seus funcionários a envolverem-se de forma significativa em atividades comunitárias, neste caso, desenvolvendo e apoiando um programa de desenvolvimento profissional de professores através da integração de tecnologias.”
Jonathon Marsh, por parte da Academia Aga Khan, concordou: O projeto conjunto exemplifica o “alinhamento da visão e missão das duas organizações que foi o que nos uniu."
Progresso
O projeto cresceu substancialmente desde o seu lançamento há dois anos, e está atualmente a abrir 17 centros de formação em Mombaça, Malindi, Nairobi e no Vale do Rift.
Ainda que isto tenha aumentado as complexidades a nível logístico, o potencial para um impacto positivo é significativo, observou Jonathon.
"Existe uma vontade e um entusiasmo crescente no país para que os professores tenham um melhor acesso às ferramentas de TIC e que sejam capazes de usá-las de forma mais eficaz para apoiar na aprendizagem dos alunos", disse.
"Observámos resultados muito positivos nos dados dos alunos, o que indica que os estudantes que usam o software não apenas têm melhores resultados ao nível da alfabetização, como também apresentam um melhor desempenho em todas as disciplinas", disse Jonathon. "Tivemos uma ótima resposta da parte dos professores que ficaram espantados ao descobrir que as crianças que eles julgavam não saber ler tinham perfeitas capacidades de aprendizagem assim que se descobrisse as formas corretas de motivá-las"
Opiniões dos Professores
Terry Muthoni Terry Muthoni, uma estudante de pós-graduação em TI, usa o ABRA em sessões de formação com professores e com a filha em casa. A sua experiência com o ABRA influenciou-a a prosseguir os seus estudos em educação.
"Esta é a única ferramenta que encontrei até hoje que apoia as crianças, os pais e os professores com informações, recursos e guias relacionados na mesma plataforma", disse. “O programa abriu-me os olhos a uma visão diferente do sector educacional e ao impacto de ter boas competências de base na alfabetização da primeira infância, algo que muitas vezes é tido como garantido.”
Rosemary Waga Rosemary Waga descobriu o ABRA através de um curso na Academia Aga Khan e continua a usar o programa na sua sala de aula e na formação de professores.
Com o ABRA, "é fácil monitorizar o que os alunos estão a fazer acedendo ao portal do professor... para descobrir os seus pontos fortes e fracos e saber abordá-los", disse.
Rosemary verificou isso mesmo em primeira mão quando uma aluna que costumava ter dificuldades começou a ler sozinha com relativa facilidade.
"Ela até leu um livro que eu tinha escolhido para ela", disse Rosemary. "Fiquei muito animada."
Rosemary também passa algum tempo a visitar outras escolas, monitorizando a utilização do ABRA e trocando experiências com outros professores.
“O ABRA mudou a minha forma de pensar a aprendizagem, porque na maioria das vezes os professores gostam de estigmatizar os alunos, dizendo que são alunos lentos, incapazes e por aí adiante”, disse. “Estes alunos precisam de ser compreendidos e também precisam de aprender ao seu próprio ritmo, e o ABRA permite que os alunos aprendam ao seu próprio ritmo até que o objetivo seja alcançado.”
O Futuro Phil e Anne esperam obter um impacto em maior escala.
"Esperamos melhorar drasticamente as competências educacionais essenciais dos rapazes e raparigas em todo o Quénia e em outros países em desenvolvimento em África e no Médio Oriente", disseram.
Eles perspetivam também assumir missões que vão para lá da alfabetização com a ajuda da Academia Aga Khan.
“Queremos garantir implementações de alta qualidade e um uso sustentado ao longo do tempo. Embora a alfabetização seja a competência educacional mais importante, existem outras competências importantes, como a numeracia e a pesquisa, as quais esperamos vir a trabalhar com os nossos parceiros. Neste sentido, vemos como vital para os nossos planos de futuro a expansão e fortalecimento contínuos da nossa parceria com a Academia Aga Khan."
Para os interessados em aprender mais sobre o ABRACADABRA, visite: http://www.concordia.ca/research/learning-performance/tools/learning-toolkit/abracadabra.html