Uganda · 26 janeiro 2020 · 4 Min
O aumento da produção agrícola e a proteção do ambiente perante os caprichos climáticos, assim como as pragas e doenças, é um ponto de investigação fundamental para os cientistas. Existe um número crescente de bocas para alimentar, mas os terrenos cultiváveis estão a ser sobreutilizados, e as estações do ano são pouco fiáveis.
Com o apoio do Nation Media Group (NMG), o projeto Clínicas Sementes de Ouro para a Agricultura, que terminaram em Dezembro de 2019 no Uganda no Instituto de Investigação e Desenvolvimento Agrícola para a Zona de Buginyanya (BugiZARDI), deu especial atenção à agricultura inteligente adaptada ao clima com o intuito de promover a segurança alimentar.
O diretor da BugiZARDI, Dr. Lawrence Owere, focou as suas observações iniciais nos desafios climáticos que estão no centro da investigação nas estações da Organização Nacional de Investigação Agrícola (Naro).
“Temos de arranjar formas de lidar com as alterações climáticas. Os cientistas da Naro estão a tentar oferecer aos agricultores produtos resistentes à seca porque estes precisam de melhorar a sua produção agrícola e obter colheitas mais rentáveis”, afirmou Owere.
Produção de sementes de batata reforçada
A solução para esta questão passou pela apresentação da tecnologia revolucionária de mudas apicais enraizadas, que foi desenvolvida pelo International Potato Center.
Anteriormente, as sementes de batata eram pesadas para serem transportadas, e a sua qualidade não ficava garantida. As mudas apicais enraizadas são uma tecnologia de baixo custo com potencial para aumentar a produção. As mudas apicais envolvem plântulas de cultura de tecidos que são usadas como plantas-mãe em caroços de coco para a produção de mudas.
Em seis semanas, uma planta-mãe pode ser multiplicada para produzir até 10 plantas, e este número pode ascender a mais de 15 em 12 semanas. Estas mudas são transplantadas para o canteiro de sementes, e depois de serem enraizadas, são transferidas para estufas de rede ou campos abertos para a produção de sementes de tubérculos. Esta tecnologia de baixo custo, de acordo com Michael Bosli, produtor de sementes de batata do distrito de Kween, no leste de Uganda, permite a produção de espécies inteligentes adaptadas ao clima.
"Este método de produção de sementes é essencial para melhorar a produtividade dos sistemas de cultivo de batata e a eficiência no uso dos recursos", disse Bosli.
Entre os muitos benefícios, a semente é certificada como limpa, e fica ainda mais económica, com cada uma a custar 500 xelins [12 cêntimos], em comparação com os tubérculos de plantio.
Ele calcula que sejam suficientes cerca de 400 tubérculos para um acre [0,4 hectares], por oposição aos oito sacos de tubérculos para a mesma área.
Crop agronomist explains to farmers how the Fall Armyworm has taken advantage of climate change to attack maize fields.
AKDN
Trigo resistente à seca
O centro de investigação também está na fase final do projeto de aumento da produção de trigo nas terras altas, para além do incremento da produção nas zonas de altitude média. Isto deve-se em parte ao facto de os terrenos nas terras altas não serem facilmente aráveis de forma mecânica e existirem mais terrenos disponíveis em altitudes mais baixas, entre os 1.000 e os 1.500 metros acima do nível do mar.
Stephen Wobibi, técnico sénior de zootecnia, diz que as variedades candidatas estão a ser testadas para determinar a sua adequação às condições semiáridas e a sua tolerância ao calor.
"Os resultados são impressionantes e devemos poder divulgá-los aos agricultores em breve", diz.
O problema no Uganda continua a ser o alto volume de importações que equivalem a 95% dos produtos disponíveis no mercado.
Silvicultura sustentável
Com estudos recentes a sugerir que a cobertura florestal tem diminuído no Uganda, com o país a perder cerca de 90.000 hectares entre 1990 e 2010, existem esforços renovados para a plantação de árvores mais novas.
A World Agroforestry (ICRAF), que esteve entre os expositores, apresentou as melhores práticas que podem garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental, tendo em exposição árvores favoráveis.
O ICRA promove aquilo a que chama árvores produtivas, que são mais resistentes e lucrativas, tendo em conta a saúde do solo, dos terrenos e das pessoas.
Geoffrey Kimenya, especialista em agrossilvicultura, observou que é importante plantar árvores levando em consideração o tipo de ambiente no sentido de obter melhores resultados.
Finanças no centro da agricultura
Todas as boas práticas agrícolas podem revelar-se em vão se não houver financiamento. No entanto, o Uganda oferece hoje mais plataformas para os agricultores terem acesso ao financiamento.
O Mecanismo de Crédito Agrícola (ACF) do Banco do Uganda é uma ferramenta essencial que os agricultores podem utilizar para dar um impulso às suas práticas agrícolas.
O ACF ficou finalizado em Outubro de 2009 e tem como objetivo facilitar a prestação de financiamento de médio e longo prazo a projetos de Agricultura e Agroprocessamento, com especial atenção para a comercialização e adição de valor, e permitir aos agricultores uma maior liberdade financeira.
A Diretora de Análise Orçamental do Banco do Uganda, Sarah Mubuke Nantongo, destaca que o ACF tem em conta as alterações climáticas, oferecendo um período de carência de três anos e um período de empréstimo de até oito anos.
"Uma pessoa precisa de um empréstimo para transformar a sua agricultura, especialmente em alturas como esta em que o clima é altamente imprevisível", disse Mubuke. O ACF está disponível em todas as instituições de microfinanciamento de captação de depósitos e instituições de crédito.
A Iniciativa Empresarial para a Agricultura (aBi) também está a financiar projetos agrícolas através do aumento da apetência por empréstimos.
A aBi tem colaborado com instituições financeiras como o BRAC e o Opportunity Bank, assim como Organizações Cooperativas de Aforro e Crédito (Saccos), e subsidia empréstimos até 50% sempre que a produção seja afetada por eventos naturais ou sempre que os agricultores não consigam escoar os seus produtos e não forem capazes de pagar dentro do prazo.
"Os agricultores que contraiam empréstimos deixam de ter de viver com medo de serem afetados por desastres naturais, pois os bancos podem dar-lhes a mão e reduzir o prejuízo", disse George Mutaggubya, gestor de mediação e comunicação da aBi.
Por George Katongole