Índia · 31 maio 2021 · 4 Min
A região de Saurashtra, em Gujarate, possui a linha costeira mais alta da Índia, o que a torna excecionalmente vulnerável a ciclones, inundações e tsunamis. Por esta razão, Gujarate é há muito tempo uma das principais prioridades das iniciativas de preparação e resposta e de Redução do Risco de Desastres (RRD) da Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH).
Quando o Ciclone Tauktae atingiu a costa de Gujarate em 17 de Maio de 2021 e deixou um rastro de destruição significativa à sua passagem, a AKAH estava preparada. Tinha já realizado uma Avaliação de Risco de Vulnerabilidade a Perigos, uma parte essencial da iniciativa de RRD.
Utilizando inspeções no terreno, dados de deteção remota e o conhecimento da comunidade, para além de dados de agências centrais do Governo da Índia, a AKAH faz uma avaliação das regiões onde trabalha para determinar o tipo de desastres e a exposição das comunidades ao risco. Com base nestas informações, a AKAH trabalha com as comunidades e parceiros locais para criar um plano de preparação e resposta em caso de desastre.
Ter estes planos e informações prontamente acessíveis antes da chegada do Ciclone Tauktae permitiu à AKAH supervisionar um esforço de evacuação rápido e concentrado. O Ciclone Tauktae foi categorizado como uma Tempestade Ciclónica Extremamente Severa e foi a tempestade mais mortífera a atingir Gujarate em mais de duas décadas. O ciclone causou mais de 100 mortes e danos materiais substanciais.
Na altura em que o Ciclone Tauktae começou a formar-se no Mar Arábico, a AKAH começou a monitorizar a tempestade e a avaliar as informações mais recentes através do Departamento Meteorológico da Índia e de outras fontes para acompanhar a sua trajetória variável. Assim que ficou claro que Tauktae iria atingir Gujarate, a AKAH começou imediatamente os preparativos para os esforços de socorro e evacuação.
Um profissional da AKAH e voluntários a carregarem material de apoio.
AKDN / Nazim Kachchhi
A AKAH montou um Centro de Operações de Emergência virtual e um Posto de Comando de Incidentes para liderar a resposta, fazendo a ligação com os socorristas, líderes comunitários, agências governamentais e outras partes interessadas. Transportou ainda material de emergência para centros de distribuição designados perto das áreas atingidas pela tempestade. Este material incluía EPI e equipamentos de segurança contra inundações para os socorristas. Foram enviados membros da Equipe de Busca e Salvamento (SART) para locais estratégicos para ficarem a postos para liderarem a resposta, de acordo com as exigências no terreno.
Os líderes da comunidade local e as Equipas Comunitárias de Resposta a Emergências (CERT) retiraram as famílias mais vulneráveis de zonas de alto risco ou a baixa altitude em cidades e aldeias de Gujarate. As pessoas retiradas foram acomodadas em centros comunitários, habitações sociais e outros abrigos seguros.
Devido à devastadora segunda vaga da COVID-19 que varreu a Índia, foram necessárias medidas de segurança para minimizar o risco de transmissão. Todos os esforços de socorro e evacuação foram levados a cabo com a aplicação, o máximo possível, de precauções como máscaras, desinfetantes e distanciamento físico.
Após o ciclone, as Equipas de Avaliação e Resposta a Desastres (DART) têm estado a realizar Avaliações das Necessidades Pós-desastre para determinar as necessidades das comunidades em áreas onde casas e povoações ficaram danificadas. As avaliações irão identificar as necessidades de curto prazo, como água, alimentos, saneamento, abrigo e segurança, assim como as necessidades de longo prazo de apoio à recuperação e reconstrução.
A preparação, mitigação e resposta a desastres são os pilares da estratégia de gestão de desastres da AKAH. A eficácia da resposta a desastres é determinada não apenas pelas ações tomadas quando um desastre é iminente, mas também pelas medidas proactivas tomadas como preparação para desastres que possam ocorrer no futuro. A AKAH desenvolve competências com vista a transformar os avisos de desastre em informações concretas, avaliar e mitigar riscos, realizar esforços de socorro e apoiar a reabilitação pós-desastre.
Conforme ficou evidenciado pelo Ciclone Tauktae, a existência de protocolos e estruturas em vigor permite à AKAH agir de forma rápida e eficiente sempre que ocorre um desastre. A preparação para situações de desastre reduz a exposição da comunidade aos danos, encurta os tempos de resposta, e muitas vezes pode significar a diferença entre a vida e a morte.
No âmbito das operações de preparação e resposta, a AKAH realiza regularmente atividades de simulação, tal como exercícios práticos (TTx), em diferentes partes da Índia. Estes exercícios são semelhantes às simulações, e colocam as equipas como responsáveis pela resposta durante um desastre hipotético. Há alguns anos atrás, foi realizado um TTx baseado num evento semelhante ao Ciclone Tauktae com o comando local de Una e os voluntários treinados da AKAH.
“Este ciclone foi muito severo e causou muitos estragos”, disse Tameeza Alibhai, Presidente da AKAH na Índia. “Descobrimos que os nossos sistemas funcionavam bem. Mas com cada nova situação percebemos o quanto ainda é preciso fazer em matéria de preparação.”
Outro princípio orientador da estratégia de gestão de desastres da AKAH é a mobilização das comunidades e a construção de parcerias. A formação de membros das comunidades locais reduz drasticamente os tempos de resposta e permite que estes prestem assistência no período crítico imediatamente após um desastre. Por exemplo, as CERT são constituídas por voluntários da comunidade com formação em primeiros socorros e recursos básicos de socorrismo. Em caso de desastre, estes membros da comunidade estão capacitados para iniciar os esforços de socorro sem ter de esperar por equipas externas que podem não ser capazes de chegar ao local devido a condições adversas.
A sinergia entre a AKAH e as comunidades provou ser uma grande vantagem em situações de desastre. “Temos muita sorte em ter uma forte colaboração de base estabelecida com as comunidades que servimos”, observou Alibhai. “Mas mesmo assim, temos de melhorar, perante a intensidade as situações que temos presenciado. A preparação é fundamental, mesmo ao nível das famílias.”