Fundação Aga Khan
Moçambique · 28 março 2023 · 3 Min
Em Moçambique, cerca de 80% dos meios de subsistência dependem dos recursos naturais. Com quase 20 milhões de pessoas a viverem em regiões costeiras, muitos dos meios de subsistência destas populações dependem dos recursos marinhos proporcionados pelo Oceano Índico Ocidental. As oportunidades de emprego ao longo da costa do país são limitadas; a maioria das comunidades depende da pesca artesanal e do abate de árvores e manguezais para produzir lenha e carvão. No entanto, a crescente frequência e intensidade de cheias, ciclones e secas causadas pelas alterações climáticas está a criar uma enorme pressão sobre o ambiente marinho local e, por sua vez, sobre as populações costeiras de Moçambique.
Com base em mais de 20 anos de experiência em iniciativas de desenvolvimento comunitário em Moçambique, e em particular nas áreas da conservação ambiental e da resiliência climática, a Fundação Aga Khan (AKF) está a estabelecer uma parceria com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) através do projeto LEAP de Proteção de Áreas Localmente Capacitadas. Em conjunto, estão a apoiar comunidades de zonas costeiras para aprenderem e adotarem diversas estratégias sustentáveis de subsistência e conservação, garantindo a preservação a longo prazo da biodiversidade e dos recursos marinhos naturais ao longo desta extensão da costa.
A iniciativa é financiada pelo Ministério Federal Alemão para o Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear, e pela Iniciativa Climática Internacional. De acordo com Hirondina Mondlane, Coordenadora do Programa da AKF em Moçambique, o LEAP “irá promover a integração das comunidades deslocadas sem colocar em perigo o ambiente, ajudando-as a encontrar formas de subsistência alternativas de uma forma sustentável”.
O projeto LEAP irá tirar conclusões de um recente projeto da AKF na Ilha de Moçambique, na província de Nampula, onde se levou a cabo uma bem-sucedida replantação e proteção de manguezais por parte de membros da comunidade local. Em vez de cortarem as árvores para carvão e lenha, os grupos locais - liderados principalmente por mulheres – estão agora a criar abelhas de mel nos manguezais, providenciando assim uma fonte sustentável de rendimento e apoiando o ambiente marinho local.
Adotando uma abordagem semelhante liderada pela comunidade à conservação e desenvolvimento, o projeto LEAP irá trabalhar com quatro comunidades costeiras em Metuge, província de Cabo Delgado, para melhorar os meios de subsistência e reduzir a pressão sobre os recursos naturais. A AKF também irá apoiar as comunidades a desenvolverem os seus conhecimentos existentes sobre conservação e meios de subsistência, obtendo conhecimento técnico junto de outros projetos da AKF, de consultores técnicos e de comunidades próximas.
A partilha de conhecimento entre as comunidades será absoluta. As comunidades em Metuge terão a oportunidade de participar em intercâmbios com outras comunidades que desenvolvem atividades semelhantes há mais tempo. Por exemplo, uma ONG local chamada Associação Ambiental tem vindo a liderar uma iniciativa semelhante no distrito vizinho de Mecufi, oferecendo um exemplo em contexto real às populações de Metuge do modo como a conservação liderada pela comunidade pode ser bem-sucedida em zonas litorais.
Durante o seminário de lançamento, a IUCN e os parceiros visitaram um projeto já existente da AKF. Aqui, a AKF partilhou a sua experiência de colaboração com organizações comunitárias na promoção da sociedade civil, do desenvolvimento local e dos meios de subsistência sustentáveis. União Internacional para a Conservação da Natureza
Os representantes visitaram algumas das comunidades em Metuge para falarem com membros da comunidade que já estão a implementar práticas sustentáveis de subsistência usando recursos locais, como a produção de pesticidas orgânicos, cobertura morta e a associação de culturas. O projeto irá utilizar estruturas comunitárias já existentes, incluindo organizações de desenvolvimento de aldeias e conselhos comunitários de pesca, para integrar as práticas eficazes de conservação e inovação nos planos locais de desenvolvimento. Estas organizações são o coração das comunidades, recolhendo e consolidando as necessidades e prioridades de todos os membros da comunidade e funcionando como representantes da comunidade em diálogos importantes com parceiros externos, como o governo, ONG e o sector privado.
O projeto LEAP irá apoiar tanto os membros das comunidades anfitriãs como as populações deslocadas internamente, com o objetivo de chegar a mais de 2000 pessoas. O governo provincial será um parceiro importante, trabalhando em estreita colaboração com as comunidades de modo a apoiar as suas iniciativas de conservação. Em última análise, o projeto está alinhado com o plano da AKDN em matéria de ambiente e alterações climáticas, o qual procura uma gestão responsável do ambiente, ao mesmo tempo que melhora a qualidade de vida dos mais vulneráveis.