Agência Aga Khan para o Habitat
Síria · 4 outubro 2023 · 4 Min
"Antigamente bastava escavar um metro no subsolo para encontrar água", diz um morador da aldeia de Khurais, em Salamia. “Hoje em dia, é preciso descer até aos 50 ou 100 metros.” A Síria enfrenta atualmente a sua pior seca em 70 anos, como resultado de um nível anormalmente baixo de precipitação desde o outono de 2020. Mais de 60% dos solos na Síria são vulneráveis à seca. Muitas famílias têm de comprar água a camiões-cisterna privados, um serviço que é caro, insustentável e de qualidade variável.
"Os recursos hídricos no distrito de Salamia são muito limitados", diz Yasmin Haidar, Gestora de Planeamento e Construção da Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH). "Dependemos dos riachos em redor do distrito e das condutas de água de Alkantara e Alshomarieh. Cada família tem um tanque de água de 500 a 1000 litros no telhado e, a cada 7 a 10 dias, dependendo da localização, as autoridades enchem-nos de água. Cada pessoa tem direito talvez a 100 litros por semana. Por isso, torna-se difícil conseguir ter água para lavar, beber e ainda para regar. O problema nas aldeias como Barri é o mesmo. Isto também se deve às alterações climáticas, porque a precipitação tem vindo a diminuir nos últimos 5-10 anos e está a diminuir a cada ano.”
A AKAH levou a cabo um estudo de mapeamento e modelagem dos recursos hídricos em Salamia. Este apresenta as possíveis formas de desenvolver os recursos e infraestruturas hídricos nas duas áreas mais densamente povoadas do distrito, a cidade de Salamia e a aldeia de Barri Oriental. Também mostra como as soluções temporárias de curto a médio prazo, como poços alimentados a energia solar, podem beneficiar outras comunidades.
“Algumas sugestões são feitas pelas comunidades, nós verificamo-las junto da autoridade hídrica e depois decidimos quais os projetos a implementar”, diz Yasmin. São selecionados de acordo com critérios que incluem o índice de gravidade de cada área, o número de beneficiários e a sustentabilidade da intervenção proposta.
Conheça abaixo três destes projetos.
Construir bombas alimentadas a energia solar
O sistema de abastecimento de água canalizada da aldeia de Barri fornece água apenas uma vez por quinzena, em média, e os moradores têm de comprar água a camiões-cisterna privados para responderem às suas necessidades diárias.
Morador de Barri
Barri foi selecionada para receber uma das seis instalações de painéis solares. Os painéis fornecem energia para bombear a água do poço da aldeia para um tanque em altura no centro da aldeia. O sistema segue as diretrizes nacionais para garantir uma extração sustentável de águas subterrâneas. A comunidade contribuiu com 10% do custo e decidiu criar um comité para gerir a distribuição. A AKAH deu formação a três membros ao nível da gestão da água e da manutenção das infraestruturas, e continua disponível para prestar assessoria.
Conservar água
“Quando eu era criança, os terrenos estavam cobertos de vegetação e algodão”, recorda Mohammed Zidane, morador de Barri. “Os pastores beduínos traziam o gado até aos nossos canais de água desde as fronteiras com o Iraque. Costumávamos colher cevada e trigo e depois usar as terras para plantar vegetais. Cerejas, maçãs, pêssegos e peras eram culturas comuns naquela época.
“Mas hoje em dia os terrenos ficam vazios após a colheita. As nossas culturas de antigamente exigem mais água e um clima mais ameno. Mas a temperatura está cerca de três graus mais alta e a precipitação diminuiu drasticamente. Plantamos apenas azeitonas, figos e videiras, pois são mais resistentes à seca e às altas temperaturas. Quando fiquei com a minha família numa aldeia próxima, eles mal conseguiam tirar um litro de água das torneiras. Estou muito preocupado com os próximos 5-10 anos. As alterações climáticas têm afetado todos os aspetos da nossa vida."
Mohammed e a sua família voluntariaram-se para um sistema-piloto em sua casa de reciclagem de águas domésticas. Em colaboração com a família, a AKAH introduziu um sistema que recolhe as águas usadas em casa – para lavar loiça, lavar roupa e tomar banho – e recicla-a para reutilização doméstica e para a rega de plantas e árvores. A família supervisionou as obras e aprendeu a fazer a manutenção do seu sistema. "Mohammed incentivou os seus vizinhos a instalarem projetos semelhantes para pouparem a enorme quantidade de água doméstica que é desperdiçada", disse Ziad Alfeel, da AKAH.
Captar a água da chuva
A AKAH implementou cinco tanques de captação de águas pluviais em aldeias de Salamia e Al-Khawabi para providenciar uma fonte segura de água potável ao nível doméstico. As famílias receberam formação para instalar e utilizar os sistemas.
Com base na sua experiência até ao momento, a equipa desenvolveu uma abordagem em três frentes para encontrar soluções a longo prazo. “Temos de construir vínculos com recursos hídricos externos e sustentáveis, desenvolver as infraestruturas de distribuição para evitar a perda de água ao longo do caminho e apoiar as comunidades locais a encontrarem soluções sustentáveis para o acesso e a preservação da água. Precisamos de incentivar as pessoas a gerirem os recursos hídricos, porque uma gota de água aqui vale ouro”, diz Yasmin.