Kenya · 12 fevereiro 2020 · 4 Min
Uma nova iniciativa tem como objetivo dar oportunidades e inspirar os jovens do norte e das regiões costeiras do Quénia.
A Ilha de Lamu, conhecida pelas suas praias, pela história mercantil e pela sua cidade Património Mundial da UNESCO, tem conseguido evitar, até recentemente, grande parte da instabilidade que vem afetando o Quénia continental. No entanto, as rápidas mudanças sociais e económicas e uma insurgência ao longo da fronteira com a vizinha Somália estão a transbordar e a afetar a região. Apenas 21% das pessoas estão empregadas formalmente, e a ilha possui uma das mais baixas taxas de alfabetização do país. Apenas 13% de uma população de 115.000 pessoas tem formação secundária ou superior.
“Quando era criança, a comunidade era muito unida, as pessoas partilhavam tudo. Uma pessoa que trabalhasse conseguia sustentar toda a família”, diz o Vice-Governador de Lamu, Abulhakim Aboud Bwana. “Hoje, Lamu faz parte do mercado livre. O turismo, os manguezais, a pesca - estão todos em declínio e as únicas pessoas com segurança no emprego são as que têm um emprego formal, o que é raro. As pessoas estão assustadas. Sentem que foram deixadas para trás."
Os jovens estão particularmente vulneráveis às influências negativas e destrutivas que se tornaram uma séria ameaça à segurança regional.
"Sem educação e sem trabalho, o impacto na sociedade é o crime, o roubo e o abuso de drogas", diz Walid Ahmed, Diretor da Aliança da Juventude de Lamu. “Temos um problema com o uso de heroína. As mulheres são preparadas para casarem demasiado cedo para tentarem garantir o seu futuro. Os jovens simplesmente abandonam o sistema.”
The Foundation supports passionate local youth leaders who are committed to forging a more positive path for youth in Kenya. Walid Ahmed, head of Lamu Youth Alliance, grew up facing the same problems young people do today, but was able to navigate and excel with the support of those who saw a bright future in him. He was invited by the Clinton Global Initiative in New York where Barack Obama recognised him in his speech in 2014.
AKDN / Christopher Wilton-Steer
Criar Oportunidades para os Jovens no Norte do Quénia
Como resposta a estes desafios, e com o apoio da União Europeia, a Fundação Aga Khan está a trabalhar com a Islamic Relief Kenya e o recém-criado Conselho Nacional de Educação Nómada no Quénia para enfrentar a complexo espectro de problemas com que debatem os jovens dos condados de Lamu, Garrissa e Mandera.
Reconhecendo a necessidade da educação e formação, a Fundação está a trabalhar com as principais escolas e organizações de jovens para providenciar as competências que os jovens precisam para poderem aproveitar as oportunidades de emprego. A Fundação também está a trabalhar em estreita colaboração com empresas locais para garantir que os jovens estão prontos para o mercado de trabalho e com o governo local para garantir que os jovens têm a noção dos seus direitos.
O objetivo desta iniciativa passa por dar oportunidades a 16.000 jovens de ambos os sexos em situações de vulnerabilidade, entre os 15 e os 35 anos, que irão, por sua vez, apoiar mais de 25.000 familiares e a comunidade em geral.
A Fundação está a apoiar muitas organizações civis como estas para ajudar a orientar, formar e dar representação aos jovens do norte do Quénia. Estes grupos funcionam como plataformas através das quais os jovens podem aproveitar as oportunidades. Eles também ajudam os jovens a envolverem-se de forma construtiva com o governo local em questões de desenvolvimento local.
De forma surpreendente, estas organizações começaram a negociar programas de aprendizagem com grandes empresas do sector privado, como por exemplo grandes empresas de serviços públicos, assim como com empresas locais, tais como oficinas de carpintaria e salões de beleza.
Abood é um bom exemplo. Abood, outrora um jovem desocupado que ganhava a vida com os turistas no porto, ouviu falar de um curso na oficina de carpintaria de Maja Ali através da Aliança da Juventude de Lamu. Já se encontra a aprender o ofício há vários meses. "Um dia, quero montar o meu próprio negócio e dar emprego a jovens como eu", diz ele.
A visão de longo prazo, de acordo com Atrash Ali Mohamed, Gestor da AKF para a Região Costeira, “é investir em 'superformadores' para melhorar a qualidade dos produtos, como o mobiliário, que irá ajudar estas empresas a crescer e ser capaz de contratar um maior número de jovens.”
O Salão de Beleza Mabruk é um exemplo de outra empresa identificada como tendo potencial. Com investimento financeiro para comprar mais equipamentos, em breve será possível contratar muitos mais estagiários. O seu proprietário, o jovem empreendedor Nuru Mohamed Obo, sente um forte sentido de responsabilidade cívica: “Há muitas raparigas em Lamu em casa sem competências e sem nada para fazer, gostaria de ajudá-las.”
Com o potencial existente para o regresso do turismo, também foi identificada a necessidade de formação para os serviços de táxi aquático. Os estagiários recebem uma licença oficial ao concluir um curso subsidiado que lhes permite prestar serviços de táxi aquático legalmente.
A AKF também trabalha com o Centro de Formação Profissional de Lamu. O investimento em equipamentos básicos, como materiais de costura, ferramentas de formação em eletrodomésticos, hardware de TI e equipamentos desportivos fez disparar o número de turmas de apenas uma mão cheia há um ano para um número superior a mil.
Foco no Fortalecimento da Sociedade Civil Local
A AKF tem uma parceria com o Ministério da Educação para integrar a educação baseada em valores nos currículos escolares, promovendo a tolerância, a paz e o pluralismo, para unir grupos díspares e construir um pilar contra ideologias extremistas. A AKF está comprometida em construir e fortalecer grupos cívicos, como a Aliança da Juventude de Lamu. A AKF orienta e apoia estes grupos para que cresçam e prosperem, para que possam continuar o seu trabalho importante e essencial durante muito tempo para lá da conclusão do programa.
Os grupos são formados em contabilidade, marketing, angariação de fundos e relações públicas, para que se tornem mais resilientes e sustentáveis e para que possam inclusive apoiar outros grupos cívicos.
Um Futuro Mais Auspicioso para os Jovens Quenianos
A região está numa encruzilhada. O investimento em organizações locais fortes da sociedade civil que promovam valores como a inclusão, tolerância e abertura é vital. Estas organizações são fundamentais para ajudar os jovens a percorrer a estrada acidentada por diante, e são um poderoso bastião contra aqueles que procuram dividi-los e prejudicá-los.
Adaptado de um artigo escrito por Nicholas McGrath no