Fundação Aga Khan
Quénia · 9 agosto 2023 · 8 Min
Embora a África Oriental não tenha sido tão fustigada em número de casos de COVID-19 como outras regiões do Sul Global, os seus sistemas de saúde não deixaram de sentiram a pressão deste vírus imprevisível e de rápida mutação. Mas seriam os impactos socioeconómicos a revelarem as maiores vulnerabilidades. A desigualdade de rendimentos e o desemprego foram exacerbados pelas medidas de confinamento e por uma queda súbita da atividade económica. A crescente população jovem da região foi particularmente atingida, verificando-se um aumento das necessidades em matéria de saúde mental, um crescimento da violência de género e a perda de oportunidades de criação de rendimentos.
Em Junho de 2023, chegou ao fim um dos programas mais transformadores da AKDN na África Oriental. Lançado em Dezembro de 2020 no Quénia, Uganda, Tanzânia e Moçambique, o programa ajudou mais de 140 000 pessoas a resistirem à evolução do impacto da pandemia da COVID-19 na saúde e a nível social e económico, abrangendo mais 10 milhões de pessoas através de campanhas de sensibilização.
Com financiamento da União Europeia (UE), o Programa de Resposta à COVID-19 da AKDN para a África Oriental foi conduzido pela Fundação Aga Khan (AKF) em parceria com os Serviços Aga Khan para a Saúde (AKHS), a Universidade Aga Khan (AKU) e a Triggerise. Baseou-se na experiência de vários parceiros, incluindo organizações locais da sociedade civil (OSC) e grupos comunitários de poupança (GCP).
O programa concentrou-se na resiliência das comunidades, no fortalecimento dos sistemas de saúde e na saúde e nos meios de subsistência dos jovens. Explore os destaques de cada pilar abaixo.
Primeiro pilar: Desenvolver a resiliência das comunidades
Fundos de resposta rápida
Foram distribuídos mais de 1 milhão de euros em fundos de resposta rápida às OSC e aos GCP em toda a região, para que pudessem distribuir apoio financeiro às pessoas e grupos mais necessitados.
Mohammed Rimba Kadzo recebeu apoio através de uma OSC chamada Agenda de Desenvolvimento Humano no condado de Kwale, no Quénia. Os fundos de resposta rápida ajudaram-no a comprar uma nova perna artificial, permitindo-lhe gerir da melhor forma a sua deficiência. Desde então, foi capaz de arranjar um novo emprego como auxiliar numa escola para sustentar a sua família. Assista à sua história.
Histórias de Esperança
Um aspeto fundamental para a construção da resiliência das comunidades foi o aumento da sensibilização acerca da COVID-19 e a partilha de histórias positivas de esperança que servissem de contraponto ao ciclo de notícias negativas. O programa Histórias de Esperança, levado a cabo pela Escola Superior de Média e Comunicação da AKU em Nairobi, ajudou 18 jovens jornalistas a aperfeiçoarem as suas competências e a desenvolverem histórias; desde então, já foram partilhadas mais de 125 histórias.
Tutu Tusiime, uma jornalista do Uganda, disse: “Numa altura de pandemia, em que nós, enquanto seres humanos, tivemos de fazer uma adaptação tão grande, a partilha de histórias acerca das formas como as pessoas o fizeram é muito importante. Mostra que somos capazes de ser humanos e enfrentar quaisquer desafios que nos sejam colocados.” As competências que Tutu e os seus colegas adquiriram foram muito além das histórias que desenvolveram e abriram o caminho para uma futura geração de jornalistas capacitados na África Oriental.
No total, o programa chegou a mais de 10 milhões de pessoas através de campanhas na comunicação social.
Apoio sobre rodas a pessoas que vivem com VIH
No ano anterior à pandemia, havia 1,4 milhões de pessoas no Uganda a viverem com VIH. O surto da COVID-19 tornou a vida ainda mais desafiante – era difícil para as pessoas com VIH terem acesso a alimentos nutritivos, apoio psicossocial e tratamento médico.
Através das OSC locais, a AKF distribuiu alimentos e outros artigos essenciais para minimizar o impacto da pandemia nas pessoas que vivem com VIH. Os agentes comunitários de saúde receberam bicicletas para que pudessem chegar até aos seus pacientes mais rapidamente e prestar apoio domiciliar.
Segundo pilar: Fortalecimento dos sistemas de saúde
Sensibilização e testagem à COVID-19 generalizadas
Quando o programa começou, a COVID-19 estava a disseminar-se rapidamente por toda a região. A desinformação era abundante e havia um certo grau de ceticismo entre as comunidades que tinham acesso limitado a mensagens rigorosas de saúde pública. Ao longo do programa, a AKF e os AKHS chegaram a mais de 10 milhões de pessoas com mensagens atualizadas através dos meios de comunicação nacionais e regionais, incluindo a Citizen TV, o principal canal de televisão do Quénia.
Os AKHS também trabalharam para aumentar a capacidade de testagem e melhorar os sistemas de rastreio da COVID-19, realizando mais de 14 000 testes à COVID-19 em comunidades com baixos rendimentos. No assentamento informal de Mukuru Kwa Njenga, em Nairobi, que tem mais de 700 000 habitantes, os AKHS criaram clínicas temporárias de testagem à beira das estradas para que os transeuntes pudessem observar que fazer um teste era seguro, rápido e indolor.
Penina, profissional de saúde, realiza testes em Mukuru Kwa Njenga
O ritmo da pandemia de COVID-19 afetou os sistemas de saúde em todo o mundo, e muitos não possuíam infraestruturas para suportar a afluência de pacientes. Na África Oriental não foi diferente, e apesar de ter tido menos casos registrados do que em outras partes do continente, o número real de pessoas que necessitaram de cuidados médicos atingiu um nível sem precedentes.
Trabalhando em parceria com 25 unidades de saúde públicas, desde grandes hospitais a pequenas clínicas de saúde comunitárias, a AKF e os AKHS forneceram equipamentos de proteção individual, kits de testagem à COVID-19, equipamentos de cuidados intensivos e material médico, tendo igualmente melhorado as infraestruturas existentes, incluindo as plataformas digitais de saúde.
Formação de profissionais de saúde
Para além de necessitarem de novos equipamentos e infraestruturas para lidarem com a pandemia, os profissionais de saúde de todo o mundo também tiveram de aprender novas formas de trabalhar. A AKF e os AKHS formaram mais de 1700 médicos em toda a região; grande parte da formação foi ministrada através de plataformas digitais, facilitando a divulgação de aprendizagens a outros funcionários, incluindo trabalhadores de proximidade em comunidades remotas.
No Hospital do Condado de Kisumu, no oeste do Quénia, os funcionários receberam formação em suporte avançado de vida cardiovascular, reforçando a sua capacidade de responderem a emergências do dia-a-dia e a futuras crises de saúde. A enfermeira Jane Akinyi disse: “Salvámos vidas devido a esta formação. Agora quero iniciar um laboratório de competências para que um maior número de profissionais de saúde possam aprender e atualizar estes conhecimentos fundamentais.”
Terceiro pilar: Apoiar a saúde e os meios de subsistência dos jovens
Melhorar o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva
Com as restrições à circulação e o encerramento das escolas impostos durante a pandemia, tornou-se ainda mais difícil para as raparigas e mulheres jovens conseguirem aceder aos serviços de direitos de saúde sexual e reprodutiva (DSSR).
Através do programa, a AKF estabeleceu uma parceria com a Triggerise, uma ONG global que usa o poder da tecnologia para ligar os jovens aos serviços de saúde, a redes comunitárias e a competências para a vida. Em conjunto, divulgámos a aplicação Tiko da Triggerise por toda a região, conferindo aos jovens acesso a produtos e serviços gratuitos de DSSR. Durante o nosso programa, a plataforma foi usada por mais de 32 000 jovens. Os jovens estão no centro destas iniciativas; a plataforma Tiko conta com mobilizadores comunitários para aumentar o conhecimento acerca da sua oferta e garantir um funcionamento eficaz junto das pessoas a quem se destina.
Steasy Atieno, mobilizadora comunitária da Tiko no Quénia
Capacitar os jovens empreendedores e melhorar a empregabilidade
A África tem a população mais jovem do mundo, com 70% da população da África Subsaariana a ter menos de 30 anos. Esta população jovem dinâmica antecipa uma oportunidade de crescimento económico, especialmente após o choque da COVID-19, mas é necessário um apoio que permita aos jovens realizarem todo o seu potencial.
Através do programa, cerca de 10 000 jovens já receberam formação em competências de empreendedorismo e empregabilidade, permitindo-lhes explorar novas ideias de negócio, expandir empresas já existentes ou entrar no mundo do trabalho. A formação foi ministrada por parceiros locais do sector do desenvolvimento empresarial, com o apoio de OSC lideradas por jovens, sendo que atualmente os alunos já estão a transmitir os conhecimentos adquiridos a outros jovens. Em muitos casos, os jovens empreendedores têm conseguido dar emprego aos seus colegas e desenvolver as competências dos jovens através de trabalho remunerado, assumindo o controlo do crescimento económico local.
Conheça Asma e Emmanuel, dois jovens empreendedores, abaixo.
Apoio à saúde mental
O Instituto para o Desenvolvimento Humano (IDH) da AKU organizou a vertente do programa que aborda a saúde mental, tendo prestado apoio aos jovens ao nível da saúde mental e tendo colaborado com as escolas para aumentar a consciencialização. No Quénia, o IDH estabeleceu uma parceria com algumas OSC para ministrar um curso de literacia em saúde mental em 15 escolas, chegando a 2828 jovens. Após o curso, os jovens demonstraram uma atitude renovada em relação à saúde mental. Verificaram-se mudanças positivas no seu bem-estar geral, com uma redução nas taxas de depressão e ansiedade.
Em colaboração com escolas de Nairobi e Mombaça, o IDH organizou quatro eventos de grande impacto para promover discussões sobre saúde mental entre os jovens. Estes eventos incluíram palestras, aconselhamento, encenações teatrais, competições de dança e jogos. Durante o programa, o IDH também ofereceu contribuições valiosas à comunidade científica, publicando artigos de investigação acerca de intervenções de saúde mental junto dos jovens e apresentando o trabalho que vem realizando em conferências reputadas no Quénia e em França.
Explore as publicações:
Um impacto duradouro
O Programa de Resposta à COVID-19 da AKDN para a África Oriental adotou uma abordagem holística, fomentando soluções sustentáveis que beneficiassem as comunidades muito para lá do fim da pandemia. Ao longo do período de dois anos do programa, as necessidades das comunidades da África Oriental foram mudando e, neste sentido, a AKF e os seus parceiros foram adaptando a sua resposta para apoiá-las.
Em conjunto, concentrámo-nos em capacitar as comunidades a reconstruírem as economias locais e a fortalecerem os sistemas existentes contra crises futuras. Desde agentes comunitários de saúde mais capazes de responder a emergências de pacientes a jovens equipados com competências para lançarem e sustentar novos negócios, milhares de pessoas no Quénia, Uganda, Moçambique e Tanzânia são hoje o exemplo do impacto duradouro deste programa, levando as suas comunidades em direção a um futuro mais resiliente.
Saiba mais sobre os impactos do programa nesta lista de vídeos do YouTube ou leia o artigo original para ver mais fotos.
Este é um projeto financiado pela União Europeia e pela Fundação Aga Khan e implementado pelas agências da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. As opiniões expressas vinculam exclusivamente o(s) seu(s) autor(es) e não refletem necessariamente as da União Europeia. Pelo que nem a União Europeia nem a autoridade concessora podem ser responsabilizadas por elas.