Egypt · 29 setembro 2021 · 4 Min
No âmbito de uma iniciativa alargada de divulgação do património islâmico do Cairo, a Mesquita de Altinbugha al-Maridani, localizada no distrito histórico de Darb al-Ahmar, no Cairo, - perto de souqs famosos e ao longo da principal coluna medieval que liga a Cidadela do Cairo islâmico ao Cairo Histórico - foi restaurada pelo Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC) com financiamento da União Europeia. O projeto de restauro da Mesquita, iniciado em Dezembro de 2018, ficou concluído em Junho de 2021.
A mesquita foi construída em 1340 por Amir Altinbugha al-Maridani com o patrocínio do sultão al-Nasir Muhammad. Foi um dos exemplos mais marcantes da arquitetura mameluca da dinastia Bahri no Cairo, mas permaneceu inalterada durante mais de um século desde que foi restaurada pelo Comité de Conservação de Monumentos da Arte Árabe (1895-1905).
O restauro da Mesquita foi um dos três componentes de um projeto intitulado "Criar Acessos para o Património Cultural Islâmico do Cairo". O subsídio da União Europeia financiou as seguintes atividades:
Egyptian officials from the Ministry of Tourism and Antiquities, the Ministry of Endowment, a member of the Egyptian Parliament, and the Cairo Governorate join European Union ambassadors and a delegation from the Aga Khan Trust for Culture in an event following the inauguration of the Altinbugha al-Maridani Mosque in Cairo.
AKDN
No âmbito do projeto, o AKTC desenvolveu bens e serviços para o sector do turismo. A Mezalla, uma organização de desenvolvimento registada e gerida localmente, transferiu as capacidades técnicas e de gestão para a população local, tanto ao nível do desenvolvimento de artesanato local para o mercado turístico como da disponibilização de competências de marketing e formação em serviços relacionados com o turismo.
Ao financiar o projeto, o objetivo da União Europeia era preservar e celebrar o rico e significativo património cultural islâmico do Cairo, assim como promover o turismo cultural como um grande estímulo para o desenvolvimento socioeconómico local.
Importa referir que, ainda que cerca de 70 por cento da Mesquita tenha sido restaurada, a conservação total do monumento irá exigir mais 12 meses de obras e financiamento adicional. Entre os trabalhos concluídos incluem-se os levantamentos arquitetónicos iniciais focados não apenas nos principais componentes estruturais da Mesquita, mas também nas suas peças e ornamentos, como as portas históricas, os tectos de madeira pintados e entalhes em reboco.
Os trabalhos preparatórios começaram com um minucioso levantamento arquitetónico e com uma documentação fotográfica do edifício, seguido de uma análise detalhada e de uma avaliação das suas condições e estado de conservação. A avaliação incluiu uma revisão das questões estruturais, assim como do estado dos seus elementos decorativos, cujas excecionais qualidades estéticas começaram a ficar visíveis depois de terem estado escondidas durante décadas sob espessas camadas de poeira e sujidade.
Um componente essencial do projeto foi a salvaguarda da reabilitação total da envolvente do edifício de modo a garantir a sustentabilidade do monumento ao longo do tempo. Este incluiu a substituição de todo o telhado e de um inoperante sistema de isolamento de águas por uma nova membrana de isolamento à base de betume que cobriu todos os 2000 metros quadrados da superfície do telhado. O telhado foi então coberto por uma argamassa de betonilha inclinada para escoar as águas pluviais. Para além disso, os diferentes tipos de danos e deterioração na cobertura exterior da mesquita, como fissuras, assentamento parcial, perda e deterioração de material, foram cuidadosamente mapeados e corrigidos, incluindo, sempre que necessário, a substituição de unidades individuais de pedra, particularmente na base das paredes para garantir a estabilidade geral do edifício.
A cantaria das fachadas exteriores foi sujeita a uma limpeza suave com emplastro e ferramentas manuais, tendo sido revelado o padrão decorativo original da fachada com faixas alternadas de pedra vermelha e amarela. Foram também realizadas obras de conservação para preservar os importantes elementos decorativos encontrados no interior da Mesquita e na sala de oração. A limpeza manual e as técnicas intensivas de conservação foram aplicadas nas superfícies de pedra bicolor no pátio interior, assim como nos mosaicos de mármore policromado e nos painéis de mármore encontrados na parede da quibla e no espaço do mirabe. As janelas de gesso manchado foram restauradas por especialistas, assim como as superfícies pintadas e douradas do teto de madeira. Isto exigiu uma limpeza suave, a consolidação das superfícies pintadas e a reintegração das peças em falta.
O mimbar, o púlpito de madeira de onde são conduzidas as orações, foi escrupulosamente reintegrado segundo os mais altos padrões de marcenaria, marchetaria, travamento e acabamento, tudo feito à mão sem o uso de cola, pregos, parafusos ou outros dispositivos de fixação.
Esta abordagem exaustiva exigiu o recrutamento de conservadores, artesãos, arquitetos de conservação especializados e um consultor de engenharia altamente qualificados, para além da formação de vários trabalhadores. Sempre que necessário, foram chamados especialistas internacionais para reforçar as capacidades da equipa local. Ao longo do processo de conservação, as visitas regulares por parte dos inspetores do Ministério de Antiguidades do Egipto proporcionaram oportunidades valiosas para partilhar conhecimento e discutir acerca das soluções técnicas a serem implementadas. O projeto foi ainda uma oportunidade para formar profissionais juniores e aprendizes nos vários ofícios necessários para o restauro da mesquita.
Veja aqui uma galeria de imagens da Mesquita antes e depois do restauro.