Fundação Aga Khan
Quénia · 11 agosto 2022 · 5 Min
Mtomondoni é uma aldeia dos arredores de Mombaça, a segunda maior e a mais antiga cidade do Quénia. Longe da agitação do centro de Mombaça, aqui a comunidade está unida, apesar dos desafios que enfrentam. As taxas de emprego são baixas, particularmente entre os jovens, e foram exacerbadas pelos impactos continuados decorrentes da pandemia da COVID-19. A falta de oportunidades para a juventude nesta aldeia é uma grande barreira no sentido de quebrar o ciclo da pobreza.
Lucy Nyawira tem vivido em Mtomondoni a maior parte da vida. Com 27 anos, vive com os pais, o irmão mais novo e o filho de sete anos. A pandemia atingiu fortemente a sua comunidade. “Os jovens que tinham emprego foram despedidos, os que estavam na escola ficaram trancados em casa”, diz Lucy. “O facto de as pessoas não poderem trabalhar e pagar a sua comida deu azo a muitos problemas como a violência de género e os assaltos.”
Em comunidades como a de Mtomondoni, os grupos comunitários são essenciais para formar uma frente unida contra os problemas sociais, como a pobreza, a violência baseada no género e a radicalização, e para melhorar o acesso aos cuidados de saúde, à educação e ao emprego. No pico da pandemia, estes grupos foram uma tábua de salvação para jovens como Lucy, que é membro de um grupo local de jovens chamado Mwamko, e também de uma organização maior chamada Safe Community Youth Initiative (SCYI), a Iniciativa Jovem para uma Comunidade Segura. “Não tínhamos comida, foi muito difícil”, explica. “A SCYI deu-nos milho, farinha e óleo para podermos cozinhar. Também nos deram máscaras e desinfetante para as mãos para nos protegermos contra o vírus.”
Lucy já faz parte da SCYI há muitos anos e tem assumido várias funções enquanto voluntária, incluindo como mobilizadora comunitária (que incluir fazer a ligação entre as raparigas e os serviços de planeamento familiar), recebendo ainda formação para se tornar uma agente comunitária de saúde. Isto manteve-a ocupada durante a pandemia, uma vez que passou muito tempo a informar a sua comunidade acerca da COVID-19, para eliminar o medo e a desinformação, que ela diz ser abundante. Apesar da importância deste cargo, o mesmo não era remunerado e, como muitos dos seus colegas, Lucy tinha dificuldades em encontrar trabalho devido à pandemia.
No final de 2021, teve a oportunidade de participar num novo programa de formação oferecido pela SCYI com o apoio do programa mais alargado de resposta à COVID-19 da AKF na África Oriental. O programa financiado pela UE divide-se em três pilares: a resiliência da comunidade, o reforço do sistema de saúde e o bem-estar e a subsistência dos jovens. Este último inclui proporcionar formação em empreendedorismo aos jovens, para que possam começar os seus próprios negócios e tornarem-se mais autossuficientes, e não estarem dependentes das limitadas oportunidades de emprego disponíveis desde a COVID-19. Lucy é um dos quase 2000 jovens em todo o Quénia, Uganda e Tanzânia que já concluíram a formação até ao momento.
Embora pequena em estatura, Lucy enche uma sala com a sua presença – mas, como ela diz, descobriu esta confiança recentemente. “Desde o início da formação até agora, houve grandes mudanças. Se alguém tivesse uma foto do antes e depois, poder-se-ia ver bem a diferença!”
Como resultado da formação em empreendedorismo, Lucy está atualmente a gerir dois negócios de sucesso a partir de casa, em Mtomondoni. Como qualquer bom empreendedor, Lucy identificou uma necessidade na sua comunidade como a base para o seu negócio. “Inicialmente, tive três ideias para um negócio. A primeira era vender água potável a partir de um tanque no meu jardim porque não há água aqui em Mtomondoni.”
Depois de apresentar esta ideia ao seu grupo de jovens, eles ajudaram-na a garantir um empréstimo para lançar o seu negócio. Com o empréstimo, ela comprou e instalou um tanque de água de 5000 litros. Menos de três meses após o início da formação, o ‘Lulu's Water Point’– como ela orgulhosamente lhe chama – estava a funcionar, fornecendo água potável limpa e segura à sua comunidade. Ela vende a água a um preço acessível – apenas 20 xelins quenianos por 20 litros (cerca de 0,17 €) – porque, como ela diz, “quero ganhar a vida e ajudar a minha comunidade”.
Após o segundo mês de formação, e com a sua confiança a aumentar, Lucy iniciou um segundo negócio. Com um bacharelato em Biologia, Lucy sempre sonhou ter o seu próprio viveiro de plantas. Combinando as suas novas competências de empreendedora com os seus conhecimentos de horticultura, ela fez uma proposta à Organização de Investigação Agrícola e Pecuária do Quénia (KARLO) para lhes fornecer 6000 mudas de manga e 5000 mudas de limão até ao final de 2022. O contrato foi aprovado e Lucy está agora a cultivar as mudas no seu jardim, a poucos passos de distância do tanque de água. Ela já forneceu 1450 mudas de manga à KARLO e tem distribuído outras pelos agricultores locais em Mtonondoni.
Depois de apenas seis semanas de formação, Lucy não conseguia acreditar na rapidez das mudanças. “Se me tivessem dito em Dezembro, ‘Lucy, tu vais ter não um, mas dois negócios, e vais ter o viveiro que sempre desejaste’, eu não teria acreditado que era possível. Agora consigo ver que estou a ir na direção certa – eu só precisava de uma oportunidade.”
Grata por esta oportunidade, Lucy quis partilhar o conhecimento que adquiriu para ajudar outros jovens aspirantes a empreendedores. Após cada sessão de treino, Lucy regressava ao Grupo de Jovens Mwamko e partilhava com os seus colegas as competências que tinha aprendido. “Há uma [pessoa] que tem uma loja de verduras, uma que cria galinhas e outra que vende roupa em segunda mão.” Até agora, no Quénia, já tiveram acesso à formação em empreendedorismo apoiada pela AKF mais de 1800 jovens, através de iniciativas de aprendizagem entre colegas como a de Lucy.
Enquanto jovem mãe, Lucy é particularmente solidária para com as mulheres que tiveram uma experiência semelhante à dela. Muitas das mulheres do seu grupo foram mães aos 15 ou 16 anos. Tiveram de abandonar a escola e desde então têm tido dificuldades em encontrar trabalho, mas Lucy está a mostrar-lhes que elas não têm de desistir. “Eu disse-lhes, ser mãe cedo não é o fim do mundo. É como uma pausa – têm de se sentar, refletir sobre a vossa vida e voltarem a levantar-se, porque a vida é curta. Vocês podem adquirir novas competências e, tal como eu, serem os vossos próprios chefes!”
Com o apoio dos seus grupos de jovens, Lucy conseguiu cumprir o seu potencial. Ela seguiu o seu sonho de ter um viveiro de plantas, ajudando ao mesmo tempo a sua comunidade através do ‘Lulu's Water Point’ e da partilha das suas competências empresariais com os seus colegas. O seu espírito empreendedor inato e o desejo de ajudar a sua comunidade mudaram a sua vida para melhor, e a partir do seu jardim – entre os seus dois negócios emergentes – o futuro parece risonho.
Um agradecimento especial à Lucy por partilhar a sua história e à equipa da Safe Community Youth Initiative pelo seu apoio.
Este é um projeto financiado pela União Europeia e pela Fundação Aga Khan e implementado pelas agências da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. As opiniões expressas vinculam exclusivamente o(s) seu(s) autor(es) e não refletem necessariamente as da União Europeia. Pelo que nem a União Europeia nem a autoridade concessora podem ser responsabilizadas por elas.