Paquistão · 16 maio 2021 · 4 Min
A maioria das pessoas que se submete a cirurgias recupera sem complicações. Mas de acordo com os estudos, um em cada cinco pacientes experiencia complicações graves no mês seguinte à cirurgia que podem colocar a sua saúde em risco.
Estes problemas mais complexos - que incluem situações potencialmente fatais, como septicemia e gangrena causadora de deficiência - obrigam os pacientes a voltar ao hospital para receber cuidados de emergência ou serem readmitidos para tratamento.
Para além de ser dispendiosas e inconvenientes para os pacientes, as reospitalizações devido a complicações aumentam a pressão sobre os sistemas de saúde.
“A maioria dos sintomas pós-operatórios graves conseguem ser tratados se os pacientes receberem um acompanhamento mais criterioso durante o período fundamental de 30 dias após a cirurgia”, disse Aiman Chippa, estudante de pós-graduação na Universidade Aga Khan em Karachi, no Paquistão, e fundadora da Maseeha Health (Messias Saúde), uma plataforma de telemedicina que visa melhorar o processo de recuperação pós-cirúrgica.
Aiman passou os últimos dois anos a desenvolver a Maseeha Health na incubadora i2S da Universidade, gerida pelo Critical Creative Innovative Thinking Forum (CCIT). Ao longo deste tempo, falou com uma série de pacientes, cuidadores e profissionais de saúde envolvidos no período pós-operatório.
“Existe uma grande ansiedade quando um familiar regressa de uma cirurgia”, acrescenta Aiman. “É recomendado repouso absoluto à maioria dos pacientes, o que significa que os cuidadores têm de se ajustar para zelar por todas as suas necessidades básicas, tal como os pais que têm de aprender a cuidar de um recém-nascido.”
A investigação de Aiman levou-a a analisar o processo de recuperação de uma grande variedade de cirurgias: desde procedimentos comuns, como a remoção do apêndice e a reabilitação de fraturas ósseas, a cirurgias de coração aberto, e detetou uma série de questões que podem determinar o sucesso da recuperação de um paciente.
O primeiro desafio é educar os pacientes e cuidadores em relação às possíveis complicações após o momento da alta. Os relatórios de alta são normalmente escritos em linguagem muito técnica e, embora os pacientes recebam geralmente aconselhamento sobre o processo de recuperação, muitos saem do hospital com informações desadequadas sobre os sinais de alerta aos quais devem prestar atenção. Isto significa que tendem a ignorar sintomas preocupantes como cheiros invulgares, a pele mais quente do que o habitual em torno da incisão ou mudanças de cor na ferida.
Mesmo que os pacientes tenham informações suficientes, muitos tendem a adiar as consultas, o que leva a atrasos na procura de assistência médica. Por fim, muitos dos pacientes que sentem necessidade em receber aconselhamento não conseguem fazê-lo em tempo útil, sentindo-se frustrados com as dificuldades em entrar em contacto com o cirurgião ou com o longo tempo de espera nas linhas de apoio do hospital.
A Maseeha Health ajuda a resolver estes problemas, melhorando a ligação entre os pacientes e os especialistas médicos, através da implementação de um processo formal de acompanhamento. A plataforma exige aos pacientes que se inscrevam num site, façam o upload do seu relatório de alta e insiram os detalhes da sua cirurgia. Durante a inscrição, os pacientes têm de observar fotos de diferentes complicações, algo que ajuda na sua consciencialização acerca das complicações mais graves.
Após o envio do formulário, a Maseeha Health avalia o risco de complicações do paciente e prepara uma série de chamadas de acompanhamento em intervalos regulares para detetar sintomas que se possam agravar rapidamente sem um tratamento oportuno, como dor excessiva, febre e vermelhidão ou pus em redor da incisão.
“O nosso objetivo é identificar os sintomas numa fase inicial em que a intervenção médica pode ser mais eficaz”, diz Aiman. “Abordar as complicações em tempo útil não é positivo apenas para os pacientes, mas também ajuda a reduzir o volume de readmissões, que é um indicador fundamental para o desempenho de um sistema de saúde.”
Aiman está pronta para testar o projeto Maseeha Health e está neste momento à procura de financiamento. Ela agradece à equipa de inovadores do CCIT - especialmente o diretor do CCIT, Dr. Asad Mian, e ao seu mentor na i2S, Rafeh Ahmed - por tê-la posto em contacto com cirurgiões e especialistas em áreas como desenvolvimento empresarial e tecnologias de informação que a ajudaram a desenvolver a sua empresa startup.
Ela diz: “O CCIT desempenhou um papel importantíssimo na minha vida. Fui capaz de tornar a minha ideia num protótipo totalmente desenvolvido graças ao apoio que recebi na i2S. Encontrei sempre alguém disposto a abrir-me uma porta na incubadora do CCIT e não creio que teria feito o mesmo progresso com a minha startup noutro lugar qualquer.”
Aiman sentiu-se tão inspirada com o apoio que recebeu que decidiu ingressar no CCIT em 2020 como bolsista de inovação para ajudar outras startups. Durante o seu ano como bolsista de inovação, em que trabalhou sob a supervisão dos seus mentores, Aiman ajudou outras 15 incubadas do CCIT a ter sucesso em parâmetros relacionados com o estudo dos mercados, o desenvolvimento do modelo de negócios e a prototipagem das suas ideias.
“Os meus mentores preocuparam-se imenso com a minha startup e eu quia ser igualmente generosa com o meu tempo e apoio prestados a outras startups no CCIT. Foi por isso que ingressei como bolsista de inovação. Tal como outros empreendedores, considero a minha startup como o meu bebé. Estou ansiosa por ver o meu investimento a crescer e por poder ajudar outras pessoas a realizarem também os seus sonhos!”
Este texto foi adaptado de um artigo publicado no site da AKU.