Afghanistan · 16 janeiro 2020 · 4 Min
Segundo a Organização Mundial da Saúde, as alterações climáticas são a maior ameaça à saúde global no século XXI. Estas põem em causa os ingredientes básicos para um bom estado de saúde: ar puro, água potável segura e adequada, uma fonte nutritiva de alimentos e um alojamento seguro. Para compensar estes efeitos, é necessário fazer grandes cortes nas emissões de gases de efeito de estufa.
Como alternativa à queima de combustíveis à base de carbono, a ciência permite-nos explorar a energia do sol. As tecnologias solares que convertem a luz solar em eletricidade e calor não só são mais sustentáveis e menos poluentes que a combustão de combustíveis fósseis como também são mais resistentes. Uma vez que as instalações solares podem ser disseminadas e compostas por vários dispositivos separados, estão mais bem protegidas contra eventos desestabilizadores, como tempestades, que podem cortar a energia a vastas populações apenas devido a danos num único gerador numa rede elétrica centralizada. Para além disso, depois de instalada, o custo de operação da tecnologia solar é relativamente baixo. O seu combustível - a luz e o calor do sol - é gratuito. As casas, escolas, empresas e instalações de saúde em locais remotos que enfrentam grandes despesas com a obtenção de energia de uma rede elétrica centralizada podem poupar dinheiro a saírem da rede com instalações de energia solar de pequenas dimensões.
Por esses motivos, em locais mais remotos e frágeis onde a energia da rede é cara, pouco fiável ou simplesmente indisponível, as instalações solares locais funcionam bem. É o caso de um número crescente de programas e instituições da AKDN: Da Pousada Kilaguni Serena Safari no Parque Nacional de Tsavo Oeste - o primeiro hotel do Quénia completamente alimentado a energia solar; ao Hospital Provincial de Bamyan, resistente a sismos e com alta eficiência energética, nas terras altas sem acesso ao mar no Afeganistão; às "casas de banho inteligentes” alimentadas a energia solar e os sistemas solares de irrigação que estão a mudar vidas em Bihar, na Índia.
Quénia: Pousada Kilaguni Serena Safari
Os Hotéis Serena esforçam-se para levar as melhores práticas de desenvolvimento social, cultural, ambiental e económico a algumas das áreas mais fascinantes, ainda que remotas e frágeis, do mundo. Ao longo das décadas, foram feitos esforços para minimizar a pegada ecológica das propriedades Serena, fazendo a transição de combustíveis fósseis para fontes de energia renováveis. Nos últimos anos, a Pousada Kilaguni Serena Safari, no Parque Nacional Tsavo Oeste, tornou-se o primeiro hotel do Quénia completamente alimentado a energia solar. O impacto no meio ambiente foi equivalente à plantação de dezenas de milhares de árvores ao longo de uma década.
A Pousada Kilaguni Serena Safari ficou concluída em 2017 e venceu o prémio “Extraordinary Business Case and CSR” [Atividade Empresarial e Responsabilidade Civil Corporativa de Exceção] na cerimónia de entrega de prémios de Melhores Práticas Globais 2018 em Itália. O prémio reconheceu o tratamento profissional de têxteis por parte da Pousada, 100% alimentado a energia solar através de serviços de lavandaria sustentáveis e com baixo consumo de energia - uma operação diária que obriga o sector hoteleiro a ter uma alta intensidade energética. Os Hotéis Serena, inspirados por este sucesso, já instalaram desde então mais quatro centrais de energia solar.
Afeganistão: Hospital de Bamyan
Os cuidados de saúde nas montanhas do Afeganistão podem ser um desafio, particularmente para mulheres e crianças. Até recentemente, muitas das áreas tinham apenas um médico para cada 50 000 habitantes, os programas de formação de parteiras estiveram inativos até ao início dos anos 2000 e mais de 90% dos estabelecimentos farmacêuticos privados não tinham sequer cinco medicamentos essenciais disponíveis.
Desde a sua conclusão em 2017, o novo Hospital Provincial de Bamyan aproximou os seus serviços de saúde acessíveis e de qualidade das comunidades rurais remotas. Mais de metade da energia utilizada nas suas instalações é fornecida por painéis solares, o que leva a menos cortes ou perturbações energéticas, contribuindo assim para intervenções mais seguras.
O Hospital de última geração com 141 camas não é apenas altamente eficiente a nível energético como é também estruturalmente seguro e resistente a sismos. As suas instalações - que dão especial atenção à saúde de mulheres e crianças e que incluem uma maternidade dedicada - são feitas em taipa, o que proporciona um melhor isolamento, outra razão para haver um menor consumo de energia.
Índia: “Casas de banho inteligentes” e sistemas solares de irrigação
Em Bihar, um dos estados mais pobres da Índia, a Fundação Aga Khan começou a instalar “casas de banho inteligentes” Garv nas escolas estatais como parte dos seus esforços para facilitar o acesso a um melhor saneamento e higiene em seis estados da Índia. Estas casas de banho têm descarga automática e acionam jatos que limpam automaticamente o piso após um certo número de utilizações. Todas as unidades podem funcionar com energia solar, o que garante que estejam sempre iluminadas e operacionais. Também inclui um biodigestor que trata os resíduos e á água de esgoto, para que, após a eliminação de todos os patogénicos, os dejetos passam ser efetivamente usados como fertilizantes orgânicos pelos agricultores.
Antes de instalar as casas de banho Garv, a escola secundária na área de Phulbari Sarif, em Patna, tinha apenas uma casa de banho em condições de ser usada. “…Muitos dos rapazes ousavam ir a céu aberto. No entanto, nós as raparigas tínhamos de voltar a casa sempre que precisássemos de usar a casa de banho”, diz Anchal Kumari, de 14 anos. Desde que tiveram acesso a estas “casas de banho inteligentes”, Anchal e as outras raparigas da escola já não têm de voltar a casa por este motivo e passam mais tempo a aprender na sala de aula.
Para além disso, em Bihar, onde 80% dos habitantes vivem em zonas rurais, a irrigação solar está a melhorar os rendimentos e os meios de subsistência dos agricultores. Num estado com cerca de 300 dias de sol por ano, os sistemas solares de irrigação oferecem uma alternativa económica às bombas alimentadas a gasóleo. O principal desafio é o alto custo inicial das instalações solares. O Programa Aga Kha de Apoio Rural reuniu um conjunto de pequenos agricultores para partilharem entre si estes custos iniciais, e hoje existe um sistema de bombeamento solar que produz colheitas maiores a custos mais baixos. A segurança alimentar fica garantida e os agricultores conseguem maiores rendimentos líquidos e um menor risco de quebras na produção agrícola. Também é bombeada água para a aldeia, que é uma fonte fiável de água potável para escolas e residências.