Afeganistão · 21 novembro 2022 · 4 Min
Por Onno Rühl, Diretor Geral da Agência Aga Khan para o Habitat
Pela primeira vez, a AKDN participou na COP27 como Observador oficialmente credenciado, associando-se a mais de meia dúzia de eventos – um nível de envolvimento muito superior quando comparado com o de anos anteriores. Porque participámos e o que conseguimos?
Os destaques da COP27 foram as negociações para definir se a meta de 1,5 graus seria ainda exequível e se os países ricos e os maiores emissores iriam disponibilizar fundos para apoiar a adaptação climática nos países em desenvolvimento e cobrir as perdas e danos causados por desastres climáticos. Com estes dois objetivos em mente, a AKDN chegou à COP27 com duas mensagens claras:
Enquanto ex-corredor, eu penso nesta questão deste modo: se formos capazes de mostrar que podemos superar o ritmo das alterações climáticas, encontrar melhores formas das comunidades se adaptarem, mesmo nas regiões mais complicadas, e partilharmos este conhecimento com quem quiser, estaremos a dar uma contribuição importante para a corrida global pela sobrevivência que a Humanidade está atualmente a enfrentar. Mas a adaptação por si só não será suficiente. O nosso adversário, as alterações climáticas, está a correr cada vez mais depressa. Também temos de fazê-lo abrandar se queremos ganhar a corrida.
Embora nenhuma organização sozinha consiga abrandar as alterações climáticas, a AKDN pode mostrar que a mitigação agressiva é possível, mesmo nas áreas mais remotas do mundo. Podemos inclusive mostrar que para atingir a Neutralidade Carbónica não é preciso deixar de prestar serviços de qualidade em saúde, educação, serviços de telemóvel, energia ou muitas outras coisas que queremos fazer. Pelo contrário, podemos mostrar que o facto de atingirmos a Neutralidade Carbónica irá na verdade melhorar os serviços, uma vez que iremos estabelecer parcerias com os países para diversificar as suas fontes de energia e encontrar novas e melhores formas de fazer negócio.
Durante a conferência, concentrámo-nos em mostrar e chamar a atenção para algumas questões práticas. A nossa equipa de saúde mostrou como estão a fazer um trabalho incrível para reduzir as emissões de todas as nossas unidades de saúde, continuando ao mesmo tempo a oferecer serviços de saúde de excelência. Esta é uma grande conquista, uma vez que o sector da saúde é responsável por uma grande quantidade de emissões difíceis de evitar porque não é possível pôr em causa a qualidade. Da mesma forma, a nossa equipa de educação defendeu a integração do clima nos sistemas educacionais, com o intuito de criar uma nova geração equipada com o conhecimento e as competências para lidar com a crise climática. E a minha própria equipa da Agência Aga Khan para o Habitat chamou a atenção para o dilema das comunidades de montanha na linha da frente das alterações climáticas e mostrou como estas comunidades podem desenvolver a sua resiliência apesar do rápido avanço das alterações climáticas.
Depois de terminar a conferência, estou a refletir sobre o impacto da nossa participação. Mudámos mentalidades? Valeu a pena? Creio que sim, mas ainda não é suficiente. Em algumas das sessões, como a que abordou o nosso trabalho transformador de mitigação de avalanches nas altas montanhas do Afeganistão, Paquistão e Tajiquistão, cheguei a sentir que algumas pessoas na plateia tinham dificuldades em acreditar no potencial de eficácia da combinação da mobilização comunitária com a ciência de ponta ao nível da ação climática. “Vocês talvez consigam fazer isso, mas para nós seria muito difícil”, parecia ser o que estavam a pensar.
Por isso, acredito que devemos voltar no próximo ano e continuar a defender a nossa causa. Não podemos alcançar os nossos objetivos sozinhos. Agora que foi firmado um acordo para a criação de um fundo para as perdas e danos climáticos, os governos e outros parceiros irão procurar programas e projetos concretos para financiarem. Isto significa que as nossas ideias relativamente à ação climática têm de viajar por toda a parte, tal como no passado o modelo de desenvolvimento orientado para as comunidades da AKDN viajou pelo mundo. A maior ameaça à ação climática é que as pessoas possam achar que mesmo que essa ação seja necessária é muito difícil ou mesmo impossível de ser bem-sucedida. Se muitas pessoas pensarem que a humanidade irá falhar, a minha filha e muitas outras pessoas da sua geração não terão futuro.
É por isso que temos de continuar a trabalhar para correr mais rápido e mostrar que podemos fazer o nosso adversário abrandar. Ficaremos contentes em trabalhar com quem desejar o mesmo. É tarde, mas não demasiado tarde para ganhar a corrida!