Não disponível · 12 julho 2023 · 4 Min
Onno Rühl, Diretor-Geral da AKAH, ajuda a definir a estratégia climática da AKDN.
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Com as cheias, avalanches, ondas de calor e secas a tornarem-se cada vez mais frequentes, as populações com quem a AKDN trabalha estão cada vez mais expostas aos efeitos das alterações climáticas.
Onno Rühl, que faz parte do Comité para o Ambiente e o Clima da AKDN, ajuda a definir a estratégia da Rede ao nível da mitigação e adaptação às alterações climáticas. É Diretor-Geral da Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH), tendo liderado a sua criação em 2016 para ajudar as comunidades vulneráveis a prepararem-se e a responderem a desastres naturais e aos efeitos das alterações climáticas. No primeiro capítulo desta nossa série que explora o trabalho ambiental da AKDN, ele explica como se pode motivar uma mudança transmitindo urgência sem desespero e funcionando como modelo de desenvolvimento sustentável.
Que aspetos das alterações climáticas e de outros problemas ambientais é que estão a ser ignorados?
Nada é ignorado, é simplesmente negado. Mas creio que atualmente existem muito poucas pessoas a revelarem-se declaradamente negacionistas das alterações climáticas.
Hoje em dia, existem 300 a 500 milhões de pessoas no mundo a viverem num habitat ativamente ameaçado pelas alterações climáticas. E se perguntar a qualquer agricultor em qualquer lugar se as alterações climáticas são reais, ele vai dizer que sim, porque os agricultores sabem do assunto. Se perguntar a alguém a viver numa cidade na Ásia Meridional se as temperaturas estão mais altas que no passado, essa pessoa dirá que sim. Se essas pessoas viverem perto do mar, não vai precisar de lhes explicar nada. As fronteiras são as áreas costeiras de países em desenvolvimento, as nações insulares e as altas montanhas. Mas se vive num país desenvolvido e não entende a urgência da situação, então, obviamente, o financiamento para lidar com esta questão urgente não irá surgir.
Os voluntários da equipa comunitária de resposta a emergências da AKAH montaram tendas na aldeia de Immit, em Ghizer, no Paquistão, para albergar as pessoas deslocadas pelas cheias de 2022.
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Mas existem tantas coisas que têm sido universalmente divulgadas e aceites como sendo consequências das alterações climáticas. Na COP27, todos tinham em mente as cheias no Paquistão e perceberam que este não será um problema futuro. É um problema atual. Por isso deu-se o primeiro passo para um acordo de criação de um fundo de perdas e danos, e no Dubai veremos se alguém coloca dinheiro nele.
Existe uma tensão entre o desenvolvimento e os danos para o ambiente?
Nós tentamos criar crescimento nos países em desenvolvimento, em muitos casos em locais onde os níveis atuais de riqueza são ainda bastante modestos. Eu creio que é uma falácia afirmar que o combate às alterações climáticas impede a produção de crescimento – aquilo que impede é a produção de crescimento de forma irresponsável.
Se procurar o crescimento económico sem pensar nas alterações climáticas, irá criar um padrão insustentável de crescimento e consumo nesses países, porque os combustíveis fósseis não vão ser aquilo que são hoje, mesmo daqui a 10 anos. Pergunte a qualquer investidor de carteira se este pensa investir o seu dinheiro a longo prazo em combustíveis fósseis e ele irá dizer-lhe que não.
Mas para os países em desenvolvimento é mais fácil, porque grande parte do crescimento ainda está por acontecer. Em matéria de energia, não é necessário construir uma central elétrica a carvão, podemos apenas promover a energia solar e eólica, ou, como a AKDN faz, pequenas centrais hidroelétricas nas montanhas, onde produzimos alguma da eletricidade mais limpa e económica disponível em qualquer lugar do mundo.
O que é que provoca a mudança?
Os cenários apocalípticos não motivam as pessoas. Se estiver no Titanic e ele estiver a afundar, então vai estar só à espera de morrer, mais vale beber o champanhe a bordo. Essa narrativa não funciona.
Em vez disso, a AKDN procura mostrar que, em qualquer lugar, a mitigação e a adaptação são possíveis. O primeiro escritório que a AKAH equipou para usar energia solar, no âmbito do nosso compromisso com a neutralidade carbónica foi em Cabul. Não foi em Bombaim – isso teria sido muito fácil. Podemos mostrar a qualquer pessoa que acha que não podemos fazer nada em relação às alterações climáticas aquilo que estamos a fazer em Cabul, em Chitral, na Síria. Em linha com as nossas diretrizes de construção ecológica que abrangem toda a rede, estamos a afastar-nos das construções em betão, uma das maiores fontes de emissões do mundo, e estamos a desenhar edifícios urbanos mais frescos usando técnicas tradicionais em vez de ar condicionado.
A perfeição é uma meta inatingível, mas se dissermos às pessoas para tomarem medidas que tenham impacto e lhes dermos as ferramentas para o fazer, acho que a maioria das pessoas irá aceitar. Se todos fizessem algo de relevante, chegaríamos longe.
A mudança requer uma ação coletiva entre todas as nações. Isso é difícil de alcançar num mundo multipolar, que está atualmente a atravessar um mau momento ao nível da colaboração entre os EUA, China, Índia e Europa. É preciso haver estes quatro polos, e também África, que em breve terá mil milhões de pessoas com legítimas necessidades energéticas.
As organizações podem concentrar-se nos seus objetivos de curto prazo com vista a aumentar os lucros dos acionistas, ao passo que as organizações humanitárias só querem salvar vidas. E dada a realidade das alterações climáticas, não nos podemos dar ao luxo de assumir esse ponto de vista.
Mas nós, enquanto AKDN, enquanto instituição privada e organização da sociedade civil, podemos fazer coisas apenas para mostrar às pessoas que elas podem ser feitas. E isto é muito importante, porque iremos morrer enquanto espécie se acreditarmos que não podemos fazer nada em relação às alterações climáticas, quando na verdade podemos. Não se trata de engenharia avançada. Não é muito complicado. Em grande medida nem é desagradável.