India · 10 julho 2019 · 3 Min
Há pouco mais de um mês, li pela primeira vez as palavras de Marie Wilson, autora, organizadora política e fundadora do projeto White House: “Uma pessoa não pode ser aquilo que não consegue ver." Essas palavras não poderiam ter sido mais oportunas, tendo-as lido numa altura em que andava a viajar pelo Gujarate rural, a encontrar-me com muitos jovens homens e mulheres para quem o mundo que conhecem não vai além de um raio de cerca de 30 quilómetros de terrenos agrícolas que os rodeiam. Neste cenário rural, o Programa Aga Khan de Apoio Rural (AKRSP) oferece aos jovens entre os 18 e os 35 anos oportunidades de explorar diversas fontes de subsistência para além da agricultura tradicional, através do programa Yuva Junction.
Desenvolvimento de competências
Por toda a Índia, existe um esforço para desenvolver as competências dos jovens, com o objetivo de atingir 500 milhões de jovens até 2020. O Yuva Junction contribui de forma única para este objetivo nacional através do seu trabalho nas áreas incrivelmente remotas, tribais e rurais de Gujarate, Bihar e Madhya Pradesh, locais onde os rendimentos com base na agricultura são a principal fonte de subsistência. A Yuva Junction mobiliza a comunidade e trabalha ativamente com pais e ex-alunos para criar um ecossistema facilitador para que os jovens explorem os seus meios de subsistência potenciais e alternativos, derrubando também as barreiras associadas às suas restrições geográficas. As limitações das pequenas explorações agrícolas e do acesso aos mercados dificultam muito o aumento dos rendimentos apenas através de fontes agrícolas. Para a geração mais jovem, a necessidade de fontes de rendimento mais diversificadas é cada vez mais óbvia.
Recentemente, conheci Alkesh Vasava, um jovem de 20 anos da aldeia de Rampura, no distrito de Surate, que viaja mais de 22 quilómetros em cada sentido para frequentar um dos sete centros de formação do Yuva Junction em Gujarate. Alkesh é um típico formando da Yuva Junction - ele vem de uma família de cinco pessoas que possui cerca de 1,6 hectares, nos quais cultivam algodão e guandu, conseguindo um rendimento anual médio de cerca de 63.000 rúpias indianas (aproximadamente 816 euros). Alkesh irá terminar em breve uma formação de três meses no Yuva Junction, e irá provavelmente iniciar um trabalho de iniciante no sector do retalho em Surate, a quase 130 quilómetros da sua aldeia. O seu salário anual inicial será provavelmente de cerca de 84.000 rúpias indianas (aproximadamente 1089 euros). Alkesh sentiu-se mais determinado do que nunca em utilizar esta oportunidade para construir uma carreira para além daquilo que tinha imaginado para si. A sua energia? Contagiante.
Formação profissional holística
As origens do Yuva Junction remontam ao primeiro Centro Comunitário de Tecnologia e Ensino (CTLC), lançado em Madhya Pradesh em 2007 com a intenção de ensinar à juventude rural competências básicas de informática. O programa evoluiu para oferecer formação curricular em negócios, incluindo o sector de retalho, a Terceirização de Processos de Negócios (BPO) e Contabilidade, juntamente com formações estruturadas em inglês, conceitos básicos de informática e competências para a vida, no sentido de aumentar a preparação para o mundo do trabalho. Recentemente, o Yuva Junction começou a colocar os formandos em empregos de início de carreira em empregadores instalados em cidades próximas. Em 2014, formaram 1991 jovens em Gujarate e colocaram 567 destes no mercado de trabalho.
A AKRSP (Índia) reconhece também que muitos dos formandos do Yuva Junction enfrentam desafios associados à migração e a mudanças culturais. No sentido de avaliar o potencial de expansão do programa num futuro próximo, o Yuva Junction irá concentrar-se na prestação de serviços aos formandos que facilitem a sua transição e aumentem a taxa de colocações. O programa envolve os pais desde o início e disponibiliza serviços de aconselhamento durante a fase de colocação. Estes elementos são fundamentais para apoiar e reter os formandos após a sua colocação profissional, e são especialmente importantes para os formandos do sexo feminino.
Alkesh só havia visitado Surate uma vez, mas está genuinamente confiante na sua capacidade de triunfar. Tenho grandes expectativas para ele e para todos os pioneiros que o Yuva Junction gerou e que continua a capacitar. Juntos, levam um pouco do mundo para dentro das suas casas.
Este artigo, escrito por Farnaz Gulamhussein durante o seu estágio na AKRSP (Índia), foi publicado pela primeira vez em 2015 no site da AKF EUA. Ao longo dos últimos 10 anos, o programa Yuva Junction já formou mais de 25.000 jovens em várias competências e ajudou a colocá-los no mercado de trabalho através de parcerias com diversas indústrias.