Kyrgyz Republic · 8 fevereiro 2022 · 3 Min
Ao logo das últimas décadas, o número de raparigas e mulheres a explorar cursos e carreiras em ciências sem dúvida que aumentou. Mas quantas são hoje uma referência enquanto líderes nas suas áreas?
De acordo com a ONU, normalmente as mulheres recebem bolsas de investigação inferiores às dos seus colegas homens e, embora representem cerca de um terço de todos os investigadores, apenas 12% dos membros das academias nacionais de ciências são mulheres. O seu trabalho está sub-representado nas publicações de referência, e são muitas vezes preteridas em situações de promoção na carreira. Ainda há trabalho pela frente para colmatar estas lacunas, e as mulheres e raparigas precisam, entre outras coisas, de ter modelos com histórias que as ajudem a perseverar.
A Dra. Asel Murzakulova é uma cientista de excelência na Ásia Central pelo seu trabalho nas áreas de conflitos, migração, gestão de recursos naturais, religião e nacionalismo. Enquanto Investigadora Sénior da Universidade da Ásia Central (UCA), recebeu a Medalha Internacional da Comissão de Educação Nacional da Polônia pela sua contribuição para o desenvolvimento da educação cívica no Quirguistão.
Ela vê a investigação como uma forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas e incentivar jovens do sexo feminino que aspirem ser cientistas: “A investigação é paixão, e a investigação científica traz satisfação e felicidade, e até força.”
“[No entanto,] existem lacunas básicas a nível institucional e das infraestruturas que explicam o défice de mulheres na investigação, particularmente no Quirguistão. Cerca de 30% das crianças no país têm acesso a jardins-de-infância, e a maioria das escolas estão superlotadas na área de Bisqueque. Geralmente, presume-se que as raparigas desistam dos estudos quando não são forçadas a isso, e os resultados estão à vista, com um número inferior de mulheres no mercado de trabalho formal em comparação com os homens.”
O caminho de Asel tem sido definidamente diferente. Em 2008, a Dra. Murzakulova deixou Bisqueque para ir para Cambridge, Massachusetts, com uma bolsa de investigadora visitante atribuída Centro Davis para os Estudos Russos e Euroasiáticos da Universidade de Harvard; em 2013, ingressou no Instituto de Estudos Eslavos, do Leste Europeu e da Eurásia da Universidade da Califórnia, Berkeley.
Ao regressar à Ásia Central e ao juntar-se ao Instituto de Investigação de Sociedades de Montanha da UCA em 2015, a Dra. Murzakulova trouxe consigo uma vasta experiência para o estudo das práticas de gestão de recursos hídricos na zona fronteiriça entre o Quirguistão e o Tajiquistão. Ao longo dos cinco anos seguintes, o projeto recebeu especialistas em zonas fronteiriças de todo o mundo, tornando a região da Ásia Central um ponto de referência para a promoção do conhecimento relacionado com os desafios enfrentados pelas comunidades transfronteiriças. Atualmente, não existe uma única publicação acerca de conflitos fronteiriços que não cite a investigação ou resumo de políticas realizados pela equipa da Dra. Murzakulova.
“Infelizmente, também constatámos as limitações do estudo”, disse a Dra. Murzakulova. “Não fomos capazes de obrigar os políticos a agirem de acordo com os interesses do rio Isfara. Quando realizámos as nossas sessões de formação e os contactos com as partes interessadas junto dos decisores políticos locais, dissemos: ‘Vocês estão a agir de acordo com os interesses da população quirguize; estão a agir de acordo com os interesses da população tajique. E quem é que irá agir de acordo com os interesses do rio Isfara? Quem irá falar pelo rio? Quais são as suas necessidades?’”
Cuidar ao mesmo tempo do ambiente – as terras altas frágeis e imaculadas da região – e das populações é um ponto central no trabalho desta cientista.
Em 2021, a Dra. Murzakulova discursou na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas acerca da questão da inclusão digital com vista a aumentar a resiliência climática. Ela acredita que a investigação não se resume apenas a recolher informações e dados, mas também a assegurar um benefício para a sociedade: “Realizamos investigações científicas com o objetivo de partilhar as conclusões com instituições parceiras, como a Fundação Aga Khan e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Sociedades de Montanha, para que as consequências desses estudos possam chegar às populações o mais rápido possível.”
O Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência é celebrado todos os anos em 11 de Fevereiro para ajudar a alcançar um acesso completo e igualitário e uma participação na ciência para mulheres e raparigas, e para promover uma igualdade de acesso das mulheres ao emprego pleno e a um trabalho digno.