Tanzânia · 21 abril 2023 · 6 Min
Os professores de todo o mundo estão a preparar a próxima geração para responder à crise climática. O seu papel fundamental na formação dos alunos deve ser reconhecido. No Dia da Terra de 2023, partilhamos o que alguns disseram sobre a importância de investir nos nossos filhos e no nosso planeta.
“Um ingrediente essencial que está a faltar na reforma global da educação é o ativismo por parte dos professores. Este movimento mundial no qual perguntamos ‘qual é a resposta educacional à crise climática?’ é uma oportunidade para reiterar a necessidade de apoiar os professores e mostrar que são eles os líderes da aprendizagem”, diz o Dr. Andy Cunningham, Diretor Global para a Educação da Fundação Aga Khan (AKF).
A AKF, em parceria com o Learning Planet Institute, a Teach For All e vários parceiros, incluindo a Dubai Cares, a UNESCO e a 17 Rooms, lançou o Programa Professores pelo Planeta, convidando os educadores de todo o mundo a partilharem e discutirem as suas soluções para o clima e a educação ao nível das escolas e do sistema educacional.
“Contar com a luz da Comunidade de Educação Climática da Teach For All ajuda-nos a continuar a respirar e a lutar, e fortalece-nos por dentro”, diz Egoitz Etxeandia, uma professor do ensino secundário na Espanha e ex-aluno da Empieza por Educar (parte da rede global Teach For All). “Sinto uma ligação instantânea com outras pessoas de lugares como Zimbábue, Nigéria, Nepal e Paraguai, as quais nunca conheci.”
Egoitz, que ensina economia, empreendedorismo, gestão e marketing, usou o seu próprio interesse na economia circular para desenvolver aulas sobre os seus temas centrais e, ao mesmo tempo, causar impactos ambientais importantes.
“Os alunos serão os formadores de opinião da sociedade em menos de cinco ou dez anos, por isso não me quero limitar a explicar-lhes diferentes teorias económicas, quero que eles entendam a necessidade de serem ativistas sociais e de usarem diferentes metodologias de pensamento de design”, diz.
Egoitz leva os seus alunos a criarem negócios baseados em produtos, com uma ressalva – os produtos têm ser feitos a partir de resíduos. Os estudantes têm criado empresas que vendem sabão feito de restos de óleos de cozinha de restaurantes locais; móveis de estilo retro feitos de latas de refrigerante descartadas; e sacos de compras reutilizáveis feitos de máscaras descartadas (com conselhos por parte dos hospitais locais para garantir que são higiénicos). Cada projeto gera receitas que são usadas no próximo projeto.
Quando os alunos souberam que eram produzidas todos os anos em Espanha 17 000 toneladas de resíduos de café moído, começaram a recolher borras de café e a usá-las para cultivar cogumelos-ostra comestíveis no âmbito de um projeto chamado Funghi Thinking. Aprenderam a codificar placas-mãe para medir a humidade e a temperatura da área de crescimento a cada três minutos durante 40 dias, aprendendo também sobre grandes volumes de dados e análise de dados. Os alunos investigaram e desenvolveram protótipos para o embalamento dos cogumelos com materiais orgânicos e depois criaram planos para aprender princípios básicos de negócios, alfabetização financeira e competências de marketing.
Egoitz Etxeandia, professor
Espanha
“Os meus ex-alunos dizem-se que já se esqueceram de muitas teorias económicas, mas ainda se lembram dos projetos e da sua importância”, diz Egoitz. “Temos de repensar a forma como ensinamos. Mudámos de livros para iPads e de quadros de ardósia para quadros digitais, mas as metodologias persistem. Cada professor é diferente e cada aluno é diferente, por isso a forma como nos ligamos aos alunos tem de ser diferente, tem de mudar com o tempo.”
Esther Gacigi, professora do ensino primário e membro da Teach For Kenya (parte da rede global Teach For All), acredita que esta mudança tem de começar cedo. “Precisamos que a mudança de comportamento seja incutida nos alunos desde muito cedo. Se eles aprenderem a viver de forma sustentável agora, terão facilidade em fazê-lo no futuro”, diz ela.
O projeto de educação climática de Esther foi inspirado por uma lacuna que ela encontrou no currículo. Os seus alunos haviam aprendido sobre condições climáticas desfavoráveis e como cultivar jardins inovadores, mas nunca haviam aprendido o “porquê” por trás destas lições – as alterações climáticas e a insegurança alimentar.
Na comunidade de Esther, a insegurança alimentar e a gestão de resíduos são dois dos principais problemas. Com um enorme depósito de lixo localizado mesmo ao lado da sua escola em Nairobi, Esther convenceu os seus alunos do terceiro ano a recolherem e limparem resíduos plásticos e usá-los para plantar vegetais.
Esther Gacigi, professora
Quénia
A AKF e os seus parceiros lançaram o Escolas2030, um programa participativo de melhoria da aprendizagem que apoia os professores a criar e implementar microinovações ao nível da educação. Um dos projetos, Play, Pluralism and the Planet [Diversão, Pluralismo e o Planeta] promove novas soluções impulsionadas por professores para integrar melhor no currículo a educação climática informada, compreensiva e resiliente.
O ex-professor Shaibu Athuman é o coordenador nacional da AKF para a Escolas2030 na Tanzânia, trabalhando com o governo e 30 escolas secundárias na implementação de soluções climáticas, como as microflorestas.
Uma microfloresta é uma pequena floresta plantada (com 100 a 10 000 metros quadrados) que maximiza a densidade e a biodiversidade das árvores, reduzindo o dióxido de carbono atmosférico. Na sua conceção, a AKF destaca a proteção de espécies endémicas e autóctones e a plantação de plantas alimentícias e medicinais que podem ser úteis para as comunidades locais.
Shaibu Athuman, Schools2030 Coordinator
Tanzania
Até ao momento, já foram plantadas 15 microflorestas escolares com a participação de 275 alunos. Os professores aproveitam as microflorestas para ensinar disciplinas como biologia, conservação e matemática. As microflorestas também oferecem oportunidades para explorar temas como o pluralismo, a inclusão e o respeito pela diversidade, uma vez que cada microfloresta oferece um exemplo vivo concreto de como diferentes espécies podem viver juntas e depender umas das outras.
Kit Dashwood, que desenhou o projeto, elogia os professores envolvidos: “Fizeram medições e escolheram as variedades de árvores, e encontraram formas de integrar isso no currículo para lá daquilo que esperávamos", diz ele. “São capazes de adaptar contextualmente a lição da microfloresta às suas necessidades educacionais, ao ambiente local e à contribuição dos alunos.”
"Os estudos junto de professores mostram que 95% dos professores sentem que a educação ambiental é importante”, diz Alex Holland, gestor de desenvolvimento curricular das Escolas Aga Khan (AKS). “A principal questão é saber como o conhecimento das salas de aulas se irá traduzir em iniciativas junto das pessoas, das famílias, das escolas e da comunidade em geral?”
Os professores e administradores escolares das AKS estão a trabalhar para garantir que as lições ambientais na sala de aulas levam os alunos a tomar medidas com vista a uma mudança no mundo real.
Rubab Busheri é a diretora da secção de desenvolvimento da primeira infância na Escola Secundária Feminina do Jubileu de Diamante em Bombaim, na Índia. “As crianças pequenas são como uma esponja, elas absorvem tudo o que lhes ensinamos e depois vão para casa e partilham o que aprenderam com os pais e familiares”, diz Rubab. “Criámos lições adaptadas à sala de aulas em que mostrámos aos alunos fotos de ruas limpas em contraste com ruas sujas e pedimos-lhes que encontrassem formas de manter uma rua limpa. Mas também fazemos com que tomem medidas com as atividades de plantação de árvores e com a criação dos seus próprios sacos reutilizáveis.”
“O acompanhamento destas lições também é feito no ensino primário e secundário. Existe clubes de ecologia, viagens de estudo para a plantação de sementes e lições mais avançadas sobre a transformação de roupas velhas em sacos de pano. São ideias que surgem dos professores, com base nas melhores formas de os alunos aprenderem”, diz Rubab. “Às vezes, os alunos desenvolvem as suas próprias atividades e aí o professor torna-se um orientador”: a definição de sucesso para um professor que prepara a próxima geração a herdar a Terra.
Através das várias iniciativas, existe um objetivo claro para o futuro do clima e da educação – os professores têm de ser convidados a liderar e a imaginar o que é possível ser feito em parceria com as comunidades e os jovens com vista a codesenvolver uma melhor resposta educacional à crise climática.