Tanzânia · 5 dezembro 2022 · 9 Min
AKDN / Esther Ruth Mbabazi
A AKDN gere 700 unidades de saúde e 200 escolas, presta serviços financeiros a mais de 50 milhões de pessoas e planta mais de três milhões de árvores por ano. Este trabalho, e muito mais, seria impossível sem as dezenas de milhares de voluntários em escritórios, escolas, universidades e hospitais, em cidades, aldeias e cada vez mais online. O que inspira estes voluntários a oferecerem o seu tempo, conhecimento e competências? Que resultados têm obtido?
Sua Alteza o Aga Khan, Ottawa, Fevereiro de 2014
Responder às necessidades locais
Os voluntários de saúde como Joyce Nyanda fornecem aos membros das comunidades informações passíveis de salvar vidas acerca de saúde materna e infantil.
AKDN / Esther Ruth Mbabazi
Muitos voluntários sentem-se inspirados pela necessidade, no seio da sua própria comunidade, de melhorar a qualidade de vida daqueles em seu redor. Na Tanzânia, uma em cada 45 mulheres morre durante a gravidez ou o parto, mas muitas destas mortes podem ser evitadas com informações de saúde e cuidados profissionais. Joyce Nyanda está entre os voluntários de saúde comunitária da AKDN que fornecem informações passíveis de salvar vidas acerca de saúde materna e infantil e garantem que os membros da comunidade têm acesso aos cuidados de que necessitam.
“Eu estava grávida do meu quinto filho. E foi quando decidi tornar-me voluntária de saúde comunitária. Queria fazê-lo para salvar a vida das mulheres, e também de recém-nascidos e s crianças. Continuo a trabalhar porque tenho pena da comunidade e da forma como as mulheres sofrem.”
O estudante da Academia Aga Khan de Mombaça, Raphael Mwachiti (à direita), ajudou no laboratório de informática da sua antiga escola primária, a Saint Joseph's, incentivando os jovens estudantes a estudar mais para que pudessem “ser alguém”.
AKDN / Lucas Cuervo Moura
Venkat Reddy, Coordenador de Serviços de Criatividade e Atividade, Academia Aga Khan de Hyderabad
Nas Escolas Aga Khan, o serviço comunitário é parte integrante do currículo. Venkat Reddy, que coordena estas atividades no polo da Academia Aga Khan em Hyderabad, fala-nos sobre alguns dos projetos recentes dos estudantes:
“Eles ensinam crianças em orfanatos e escolas públicas, partilhando os seus conhecimentos em comunicação, desporto ou TI, e aprendem com elas a língua telugo, jogos e cultura. Angariaram fundos para contribuir para a instalação de uma estação de tratamento de água numa escola pública, que fornece água a 500 alunos. Quando o marido de uma supervisora de limpeza teve uma hemorragia cerebral, os alunos montaram uma banca de comida num jogo de futebol, conseguindo angariar cerca de 15 000 rúpias (cerca de 172 euros) para o seu tratamento.
Quando os estudantes assumem a responsabilidade desta função, eles fazem-no a 100%. E transmitem os projetos anuais aos alunos mais novos, para que sejam sustentáveis. Estou muito orgulhoso deles.”
Simaloi Wanjiru Ndegwa trabalhou com a Canon para ensinar fotografia a alunos locais.
AKDN / Simaloi Wanjiru Ndegwa
Simaloi Wanjiru Ndegwa, Estudante da Academia Aga Khan de Nairobi
Simaloi Wanjiru Ndegwa, da Academia Aga Khan de Nairobi, inspirou-se no seu interesse pela natureza para participar – e vencer – num concurso de fotografia. “Algumas das minhas fotografias vencedoras eram imagens de alunos de uma escola onde faço serviço comunitário. Devido aos efeitos da pandemia de COVID, decidi doar o meu prémio em dinheiro a estes alunos. Ver os alunos felizes e radiantes por receberem material artístico nos seus pacotes de presentes dados às famílias tornou esta experiência extremamente especial para mim. Com base nessa experiência, fundei a iniciativa ‘Arte para a Mudança’, que promove a expressão criativa junto de jovens estudantes menos favorecidos. Aprendi como é bom contribuir para a minha comunidade. Acredito mesmo que se todos começarmos a dar, iremos crescer para nos tornarmos melhores pessoas.”
Corrente de bondade
Para além daqueles que trabalham para aumentar a autossuficiência das suas próprias comunidades, a AKDN tem muitos voluntários inspirados em ajudarem o país de origem da sua família ou em partilharem os seus próprios privilégios. Ao fazê-lo, são capazes de desenvolver os seus próprios interesses e construir a sua carreira.
Raeesa Mohamed (segunda a contar da esquerda) com outros membros da equipa de voluntários da World Partnership Golf, em Edmonton.
AKDN
Raeesa Mohamed foi voluntária no torneio World Partnership Golf da Fundação Aga Khan (AKF), que desde 2000 já angariou mais de 18 milhões de dólares canadianos (cerca de 12,5 milhões de euros) para projetos de combate à pobreza na Ásia e em África.
“Eu tive a sorte de nascer neste país desenvolvido, com tudo o que precisava ao meu alcance. É devastador pensar que para os meus pais não foi assim e que ainda não é assim para milhões de pessoas neste planeta. Mudar o mundo pode parecer uma tarefa impossível às vezes, mas este evento está realmente a causar impacto em muitas vidas. O sentimento de fazer uma diferença global é verdadeiramente incomparável.”
Alguns dos fundos oriundos deste torneio permitem financiar o programa de bolsas International Youth Fellowship da AKF. Este ajuda jovens profissionais canadianos, como Jenna Mulji, de 23 anos, a lançar carreiras na área do desenvolvimento, trabalhando para uma organização de acolhimento em África ou na Ásia.
Jenna Mulji e os seus colegas visitaram o Hospital do Subcondado de Gesusu para avaliar as obras de renovação, no âmbito do Projeto COVID-19 da CE.
AKDN / Kennedy Mulama
Jenna Mulji, Bolsista da International Youth, Serviços Aga Khan para a Saúde de Kisumu
Jenna trabalha para os Serviços Aga Khan para a Saúde (AKHS) em Kisumu, no Quénia, onde a mãe cresceu. “Na sua essência, a saúde pública destina-se a servir as comunidades mais marginalizadas e vulneráveis, e é quase reconfortante saber que estamos sempre a trabalhar para ajudar outras pessoas a terem uma vida um pouco mais fácil ou mais gratificante.
A Bolsa pareceu-me uma forma incrível de ganhar experiência e desafiar-me. Enquanto Bolsista de Apoio Clínico, apoio os projetos de assistência do Hospital Aga Khan, que melhoram o acesso aos cuidados de saúde e fortalecem os sistemas de saúde. Atualmente, estamos a desenvolver uma campanha de imunização contra a COVID-19 para garantir que as comunidades têm acesso à vacinação e a informações rigorosas.
Estou a crescer pessoal e profissionalmente! Sou capaz de aplicar aquilo que aprendi nos estudos no trabalho que estou a fazer e estou a aprender muito sobre o sector do desenvolvimento internacional. Compreendo muito melhor a minha mãe depois de ter trabalhado no país onde ela cresceu e ter experienciado a sua cultura. Esta é definitivamente uma experiência que levarei comigo para o resto da vida.”
Angjelos Fero (à esquerda) voluntariou-se como Guia do Programa de Visitantes na Delegação do Imamat Ismaili, e cinco anos depois ainda lá está.
AKDN
Angjelos Fero, Guia do Programa de Visitantes da Delegação do Imamat Ismaili de Ottawa
Enquanto estudante na Universidade de Ottawa, Angjelos Fero voluntariou-se como Guia do Programa de Visitantes na Delegação do Imamat Ismaili, organizando visitas e dando assistência em eventos. Os guias informam os visitantes sobre os temas do desenvolvimento sustentável e do pluralismo, e sobre como a AKDN e a Delegação enfrentam os desafios globais da pobreza, desigualdade e exclusão. “As minhas experiências enquanto voluntário ensinaram-me a ter uma mente aberta em relação a todas as situações possíveis com que me possa deparar”, diz Angjelos. “Nunca saí de uma conversa sem ter aprendido algo novo sobre desenvolvimento, a Delegação ou a comunidade ismaili global. Sinto-me sempre inspirado pelos especialistas que cá vêm falar, porque espero seguir uma carreira na área do desenvolvimento.”
Voluntariado para a autocapacitação
Em muitos casos, o voluntariado não é apenas um recurso com vista ao desenvolvimento pessoal, mas também uma fonte fundamental de capacitação.
Gul Mahoor (ao centro) gere um fundo de assistência médica em Nasirabad, Paquistão.
AKDN
Gul Mahoor, Gestora de Fundo Comunitário de Assistência Médica em Nasirabad
Gul Mahoor ajuda as pessoas a ter acesso a microcréditos para poderem receber cuidados médicos urgentes. Com seis filhos, gado para alimentar e um negócio de cereja e maçã seca para supervisionar, Gul ainda arranja tempo para gerir um fundo de assistência médica em Nasirabad, Paquistão. Com a supervisão de Gul, o fundo – que a AKF ajudou a criar – já apoiou mais de 90 mulheres e crianças.
“Disponibilizamos empréstimos de emergência a qualquer pessoa que precise. Mantenho um registo e anoto aqueles que contraem um empréstimo. Quando o homem que costumava gerir o fundo ficou demasiado velho, o grupo de mulheres nomeou-me como gestora. Anteriormente, os homens eram responsáveis pelos rendimentos e pelos assuntos financeiros da família. Mas agora temos empresas e gerimos as finanças das nossas casas. Temos direitos iguais e trabalhamos juntos.
Durante o parto, muitas crianças não sobrevivem devido à falta de instalações. As mulheres não têm dinheiro para viajar para longe para fazer o parto. Nos seus últimos dias de gravidez, uma mulher foi encaminhada para Gilguite, a 80 quilómetros de distância, para ser operada. O marido chegou à meia-noite e pediu dinheiro para o transporte. A operação correu bem e agora tem uma filha saudável.”
Onno Rühl, Director-Geral da Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH), diz: “Temos 40 000 voluntários nos países em que trabalhamos, e 40% são mulheres. E face aos últimos recrutas, chegam aos 50%, pois fizemos disso um objetivo explícito. É uma tremenda fonte de capacitação a nível comunitário. Todos os voluntários estão muito orgulhosos por ter havido muitas mulheres voluntárias a tornarem-se líderes comunitárias. E eu creio que é um mecanismo muito poderoso.”
Shukria Amiri, de 23 anos, é voluntária na equipa local de preparação para avalanches.
AKDN
Shodmon Hojibekov, Diretor para a Gestão de Desastres da Agência Aga Khan para o Habitat
Shukria Amiri, de 23 anos, vive na aldeia de Serchishma, em Badakhshan, Afeganistão, uma região de alta montanha suscetível a avalanches. Incapaz de prosseguir os estudos nos últimos anos, encontrou satisfação em ajudar os outros a gerir as ameaças às suas vidas e às suas casas. Como membro de uma equipa de preparação para avalanches da AKAH, ela ajuda as pessoas a saírem das suas casas, resgata os seus bens e informa-as sobre os perigos nas zonas propensas a avalanches.
Shukria é um dos 40 000 voluntários que trabalham com a AKAH, preservando vidas e meios de subsistência no Afeganistão, Índia, Paquistão, Tajiquistão e Síria. Ao trabalharem com o apoio da AKAH, governos e parceiros internacionais, conseguem consultar os postos meteorológicos para ajudar a prever avalanches, limpar a neve de estradas entre aldeias, retirar residentes em situações de emergência ou especializar-se em busca e salvamento.
O diretor para a gestão de desastres da AKAH, Shodmon Hojibekov, é originário de uma comunidade de montanha no Tajiquistão. “O serviço voluntário sempre fez parte da vida e da identidade das pessoas nas regiões de montanha... Penso que a intensidade das ameaças realmente faz com que as pessoas percebam o quão importante é ajudarmo-nos uns aos outros. Apesar da globalização da aldeia, apesar das preocupações económicas e da alta rotatividade entre os nossos voluntários em alguns países, o espírito de voluntariado permanece forte.”
A solidariedade faz parte da vida nas montanhas. Mas os voluntários aqui também trabalham por outras razões, incluindo a oportunidade de treinarem em áreas como a gestão de comando de incidentes, fazerem novos amigos, serem valorizados por colegas e reconhecidos pelas autoridades e governos locais.
O seu impacto estende-se para além dos territórios da AKAH. Os doadores e parceiros como a Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, a União Europeia e as Nações Unidas estão impressionados com a dimensão da contribuição do voluntariado nos esforços de preparação e resposta a desastres naturais. O Programa Alimentar Mundial da ONU selecionou a AKAH como parceira para distribuir pacotes alimentares a mais de 78 500 famílias em Badakhshan e no Corredor de Bamyan, no Afeganistão, em 2020 e 2021. Outras ONG abordaram a AKAH para tentar replicar o trabalho noutros locais, ou para usar os dados meteorológicos que os voluntários recolheram para ajudar na organização de outros sectores e zonas do país.
Assista a este vídeo em que o voluntário Feda Hussain explica como as informações meteorológicas diárias mantêm a sua comunidade em Ners, no Afeganistão, a salvo de acidentes com avalanches.
Uma dádiva de tempo e conhecimento
Onno Rühl, Diretor Geral da Agência Aga Khan para o Habitat
Os voluntários impulsionam as capacidades da AKDN a todos os níveis e em muitos países, desde a melhoria da qualidade de vida local até ao avanço do progresso científico internacional que pode ajudar a resolver desafios nacionais e globais. Mais de 5000 voluntários da AKDN são ismailis que ofereceram o seu Tempo e Conhecimento Nazrana (TKN), como uma dádiva ao Imam e para prosseguirem uma tradição centenária de contribuir para as suas sociedades.
Faruq Vishram (à esquerda) trabalhou com um empreiteiro em Bamyan, Afeganistão, para melhorar a capacidade ao nível da energia solar do Hospital Provincial de Bamyan.
Faruq Vishram trouxe mais de 40 anos de experiência na indústria da produção de energia para o hospital gerido pelos AKHS em Bamyan, Afeganistão, ajudando a melhorar a central Solar PhotoVoltaic. Os painéis solares alimentam integralmente a unidade durante todo o dia, armazenando energia para ser usada durante e a noite e reduzir a necessidade de diesel.
Onno Rühl, da AKAH, recorda: “Outro voluntário da TKN reuniu uma equipa em Harvard, e estão a trabalhar com a nossa equipa de gestão de emergências, testando sistemas de previsão de avalanches baseados na aprendizagem de IA no Paquistão. Qual é a organização de desenvolvimento que tem acesso à IA, ainda mais de graça?”
Cada geração traz novos voluntários da AKDN, trabalhando em conjunto para melhorar a sua qualidade de vida e dos outros em mais de 30 países. Com base na tradição e na incorporação de novos serviços, estão a garantir o futuro do serviço voluntário. A AKDN agradece a todos.