India · 13 fevereiro 2020 · 4 Min
Sumitra Devi, de 35 anos, vive em Sakra, uma aldeia no estado de Bihar, na Índia. A sua família é composta pelo marido (um trabalhador agrícola), o filho, os sogros, o cunhado e a sua família numa pequena casa de tijolo com dois quartos. Até ao início deste ano, a família de nove elementos não tinha acesso a uma casa de banho. Em alternativa, tinham de sair para os campos atrás da casa para fazerem as necessidades.
Para assinalar o Dia Mundial da Água em 22 de Março, estamos a explorar as ligações entre a água potável e o saneamento - e o papel central que as mulheres como Sumitra Devi estão a desempenhar na melhoria da saúde das suas famílias, comunidades e ambiente.
A Iniciativa Abrangente de Saneamento da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, lançada em 2015, irá chegar a pelo menos 700 000 pessoas - com um foco especial nas mulheres, raparigas e grupos marginalizados - apoiando a construção de casas de banhos em 100 000 habitações rurais, melhorando o saneamento em 538 escolas estatais e criando blocos de saneamento administrados pela comunidade e projetos de água potável.
Nesta entrevista, Sumitra Devi discute o que levou a sua família a decidir construir uma casa de banho e o que mudou desde que a família teve acesso a saneamento. Também destaca as informações e o apoio que recebeu da parte do Programa Aga Khan de Apoio Rural (AKRSP), uma das várias organizações parceiras responsáveis pela implementação da iniciativa de saneamento.
Sumitra Devi at her water pump, Muzaffarpur, Bihar, India.
AKDN / Christopher Wilton-Steer
Pode contar-nos porque é que, após tantos anos, a sua família decidiu construir uma casa de banho?
Sumitra Devi (SD): A nossa decisão de construir uma casa de banho deu-se após a minha entrada no grupo de utilizadores de água da aldeia responsável pela gestão de um plano comunitário de água potável. Durante muitos anos, [a nossa aldeia] teve problemas em obter água limpa e estávamos a adoecer com a água disponível. Com a ajuda do Programa Aga Khan de Apoio Rural, criámos um plano comunitário de água potável na nossa aldeia. Para além de conseguirmos obter água limpa, também aprendemos a gerir a água e outras lições importantes sobre a higiene. À medida que fomos sabendo mais acerca da importância da higiene pessoal e do seu impacto na nossa saúde durante as reuniões comunitárias, começámos a compreender os riscos para a saúde da defecação a céu aberto. Foi quando comecei a discutir com a minha família a construção de uma casa de banho.
Encontrou alguns obstáculos à construção de uma casa de banho e, se sim, como é que os superou?
SD: No começo, a família do meu marido estava muito contrária à ideia de construir uma casa de banho e disse-me: “Vivemos tanto tempo sem uma, porque havemos de investir nisto agora?” Eles não entendiam os riscos para a saúde da defecação a céu aberto e também eram muito contra a ideia de ter uma casa de banho em casa. Como temos tão pouco espaço, estavam preocupados que uma casa de banho viesse a poluir a casa. Depois de discutir estas questões durante uma reunião comunitária a equipa de campo do AKRSP sugeriu que a minha família pensasse em construir uma casa de banho nas traseiras do nosso jardim. Também me disseram que poderíamos obter um subsídio do governo que nos ajudaria a cobrir os custos de construção da casa de banho. Com estas informações, voltei para casa e contei à minha família que desta vez podíamos arranjar uma casa de banho.
Parece que foi bastante difícil convencer a sua família. Porque continuou a insistir em ter uma casa de banho?
SD: Para além de ficar a conhecer o impacto negativo que a defecação aberta tem na saúde das pessoas, especialmente nas crianças, as opiniões positivas que ouvi de outras mulheres que conhecia na aldeia e que já tinham construído casas de banho recentemente deixaram-me ainda mais convicta de que isto viria a tornar mais fácil a vida da minha família, especialmente das mulheres. Tínhamos de andar longas distâncias de manhã cedo ou de noite adentro para fazermos as necessidades, e isto demorava muito tempo, principalmente para a minha sogra, que já é idosa e se cansa com facilidade.
Agora já tem uma casa de banho. É usada por todos na sua família, e que mudanças considera que produziu nas vossas vidas?
SD: Construímos a casa de banho pouco antes das monções e, desde então, é usada por todos os membros da família que comentam como isto tornou a sua vida mais fácil! A minha sogra costuma dizer-nos que está muito mais feliz por não ter de ir para o exterior para fazer as necessidades e até assumiu a responsabilidade de verificar se a casa de banho está limpa e a funcionar. O meu filho e o meu marido também me dizem que estão felizes por termos construído uma casa de banho, pois é muito mais conveniente e acham mais higiénico para eles. Por mim, estou muito feliz por a minha família ter acesso a água potável e a uma casa de banho limpa, e tenho reparado que nos sentimos todos mais saudáveis. Ainda que seja pequena, a nossa casa de banho produziu uma grande mudança nas nossas vidas.
Adaptado a partir de um artigo publicado originalmente no