Portugal · 14 maio 2020 · 3 Min
Dado que muitos dos migrantes em Lisboa não falam português, vêem-se impossibilitados de obter acesso às principais mensagens de saúde relacionadas com a COVID-19. A Fundação Aga Khan (AKF) em Portugal tem trabalhado com o governo e com tradutores voluntários para garantir esse acesso. Sandra Almeida, da AKF, fala sobre o trabalho que está a ser realizado pela AKF e pelos voluntários.
Resumidamente, qual é a situação atual em Lisboa no que se refere à COVID-19? Quem beneficia com este trabalho? São eles pessoas vulneráveis? Como?
Portugal não foi tão afetado pela COVID-19 quanto a sua vizinha Espanha, mas está vulnerável. Tem mais cidadãos com mais de 80 anos do que qualquer outro país da UE, exceto Itália e Grécia, e um serviço de saúde mal equipado e subfinanciado. Possui também o menor número de camas de cuidados intensivos por cada 100 000 pessoas na UE.
Lisboa é a casa de um grande número de comunidades asiáticas migrantes do Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão e outros países, que vivem frequentemente em condições precárias no centro multicultural da cidade. Não é invulgar haver oito pessoas a partilharem um quarto num apartamento com apenas uma casa de banho. Como tal, estes grupos estão particularmente vulneráveis à disseminação da COVID-19 e esta vulnerabilidade é exacerbada pelo facto de haver muito poucas mensagens de saúde relacionadas com a COVID-19 em outros idiomas que não o português.
Fale-nos sobre este projecto: Quem está envolvido e o que estão eles a fazer? Qual é o papel da AKF?
Para apoiar estas comunidades migrantes vulneráveis, muitas das quais não sabem ler português, o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Lisboa Central solicitou à AKF Portugal que ajudasse a traduzir a “lista de avaliação dos critérios de habitabilidade e viabilidade para o isolamento domiciliário”, com o intuito de avaliar a necessidade de um internamento em quarentena.
A AKF em Portugal não possui um portefólio de saúde, mas trabalha em colaboração com o sistema público de saúde e as comunidades de migrantes para garantir que os migrantes conseguem contribuir, participar e beneficiar do sistema de saúde.
Começámos desde logo a traduzir estes documentos para inglês e, depois de serem validados por profissionais de saúde, envolvemos a nossa rede de representantes dos migrantes para traduzi-los para outros idiomas. Em pouco tempo angariámos vários voluntários para apoiar neste projeto e, literalmente da noite para o dia, o folheto foi traduzido para bengali, hindi, nepalês e urdu. Foi incrível ver uma resposta desta dimensão. No dia seguinte, estes recursos começaram a circular entre os centros de saúde e agora estão a ser utilizados pelos profissionais de saúde.
Em seguida, o ACES Lisboa Central solicitou à AKES Portugal a tradução de três documentos adicionais: “Dez dicais a seguir durante o isolamento domiciliário”, “Medidas de isolamento recomendadas para pessoas que partilhem casa com uma pessoa suspeita ou infetada por Covid-19” e “Procedimentos para evitar a propagação do vírus”.
Health documents translated into different languages by volunteers.
AKDN
As versões em inglês foram produzidas pela AKF. As versões em bengali, nepalês e hindi surgiram logo de seguida, após serem traduzidas pela rede de voluntários da AKF. Os arquivos de áudio das “Dez dicas a seguir” foram criados pelos voluntários com o apoio da AKF e carregados para o YouTube para garantir que esta informação chegue ao maior número possível de pessoas.
Qual o objetivo deste projeto?
Em geral, este projeto tem como objetivo identificar as lacunas nas mensagens relacionadas com a COVID-19 e, de seguida, trabalhar com os serviços públicos de saúde e as comunidades de migrantes para adaptar esses materiais de modo a suprir essas lacunas. A divulgação das mensagens-chave junto das comunidades vulneráveis é uma parte da resposta da AKF no sentido de desacelerar e interromper a transmissão da COVID-19 e minimizar o seu impacto nas comunidades em Portugal.