Doha, Qatar, 31 de Outubro de 2024 - A arte ao vivo e a performance musical combinaram na perfeição na estreia mundial de um espetáculo pioneiro que contou com a participação da pintora e artista visual Tazeen Qayyum e dos Mestres Músicos Aga Khan. Esta performance, coapresentada pelo Museu Art Mill e pelo Programa Aga Khan para a Música, foi encomendada para a inauguração da Manzar, uma mostra inovadora que celebra a arte e a arquitetura do Paquistão. Assinala uma nova parceria entre o Programa Aga Khan para a Música e as instituições culturais do Qatar.
Esta performance, intitulada Isma'u wa'u, juntou a célebre artista visual paquistanesa/canadiana Tazeen Qayyum aos membros fundadores do coletivo de Mestres Músicos Aga Khan Basel Rajoub e Feras Charestan, numa apresentação imersiva baseada na caligrafia, na música improvisada, no transe e no movimento.
O nome Isma'u wa'u – que em português significa "Ouve e aprende" – é inspirado numa conhecida expressão árabe atribuída ao líder religioso e escritor do século VII, Quss Ibn Sa'ida. Tendo essa expressão como ponto de partida, Qayyum selecionou quatro palavras-chave que transmitem algumas das suas ideias principais: Sama (ouvir), Basr (ver), Fehm (entender) e Dikr (lembrar). Todos estes termos evocam vários significados e sentimentos entre culturas, sendo falados e compreendidos em urdu (a língua materna de Qayyum), árabe e farsi.
A mostra e a performance atraíram um público distinto de ilustres figuras internacionais, incluindo o Emir do Qatar, Sua Alteza Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani, Sua Excelência Sheikha Al-Mayassa bint Hamad bin Khalifa Al Thani, e o Primeiro-Ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif.
Trabalhando a partir do centro de uma grande tela colocada no chão, Qayyum inscreveu as quatro palavras usando uma caligrafia intrincada, formada em círculos concêntricos que se foram expandindo para fora, ficando maiores e mais expansivos à medida que a performance avançava. A escrita de Qayyum tornou-se quase uma espécie de dança a solo, com os seus movimentos íntimos de escrita a serem refletidos pelos movimentos igualmente intrincados de Basel Rajoub (saxofone) e Feras Charestan (qanun) nos seus respetivos instrumentos. Foi ao mesmo tempo um exigente teste de resistência física para a artista e os músicos, e também uma jornada profundamente emocional, uma espécie de peregrinação filosófica aos conceitos profundos que as palavras escolhidas por Qayyum representam.
Basel Rajoub e Feras Charestan observaram a escrita e os movimentos de Qayyum como parte da sua performance e responderam de forma cuidadosa com a música que improvisaram em dueto, tendo por base as tradições do Médio Oriente que tão bem conhecem. Tal como a intrincada caligrafia de Qayyum, também o seu complexo processo de criação musical ocorreu de forma espontânea, numa improvisação coletiva com a artista visual, com os três artistas a unirem-se num ato observável da criação. Embora a resposta musical de Rajoub e Charestan estivesse profundamente enraizada na tradição, não deixou de oferecer um novo contexto e propósito a esta música tradicional, incentivando assim a uma nova e revigorada relação com ela.
Qayyum tem vindo a criar obras semelhantes de caligrafia circular em espaços internacionais ao longo da última década. A escrita dos seus textos escolhidos transforma-se numa performance, explicou Qayyum, e exorta ao envolvimento dos observadores com o processo de criação de uma obra de arte, através da observação e escuta simultâneas. Qayyum admite que muitas vezes entra num estado de transe, à medida que os significados das suas palavras dão lugar às suas formas e movimentos necessários para escrevê-las. Apesar de se basear na rica história da caligrafia islâmica, Qayyum ofereceu uma perspetiva particularmente moderna focada no ato da criação em si, e também nas suas ligações materializadas com a performance musical. O seu objetivo, segundo a própria, é que todos os participantes – ela, os músicos e os observadores do evento – abrandem os seus pensamentos e ações e se concentrem na escrita e na execução musical, e contemplem as imagens, o som e os movimentos, e as semelhanças e contrastes entre eles. O espetáculo Isma'u wa'u incentivou uma observação atenta da obra que estava a ser espontaneamente criada, à medida que as quatro palavras escolhidas – ouvir, ver, entender, lembrar – se foram tornando sugestões de formas de interagir com a obra.
O espetáculo Isma'u wa'u teve lugar após o pôr-do-sol no Museu Nacional do Qatar, em Doha, um edifício projetado pelo ilustre arquiteto francês Jean Nouvel. Esta performance abre caminho para a uma nova parceria entre o Programa Aga Khan para a Música, o Museu Art Mill e o Music Lab, uma instituição inovadora dedicada a capacitar jovens talentos locais.
A mostra Manzar, aberta ao público até 31 de Janeiro de 2025, reúne cerca de 200 exposições – da pintura à fotografia, e do vídeo a instalações e tapeçarias – que representam mais de oito décadas de criação artística. A mostra explora temas de continuidade e descontinuidade, resiliência e desafios ecológicos através do trabalho de quase 100 artistas e arquitetos do Paquistão e de todo o mundo, explorando as suas linguagens visuais profundamente pessoais, bem como as ligações a estilos nacionais e internacionais. A mostra faz parte do programa de outono/inverno da Qatar Creates, o programa anual de artes e cultura no Qatar que visa integrar as artes e a cultura na sociedade do Qatar e incentivar um acesso alargado ao melhor da cultura do Qatar e não só.
Acerca dos artistas
Tazeen Qayyum, nascida em Karachi e atualmente a viver em Ontário, no Canadá, é uma pintora e artista visual internacionalmente reconhecida, cujo trabalho engloba o desenho, a instalação, a escultura, o vídeo e a performance. Já foi nomeada para vários prémios de arte conceituados – incluindo o Prémio Jameel de 2013 e o Prémio KM Hunter de 2014 – e recebeu o Prémio de Excelências nas Artes de 2015 da Iniciativa Comunitária para as Artes do Canadá, bem como uma bolsa da UNESCO em 2000 para trabalhar e estudar em Viena. Elementos como a repetição, o ritmo, o equilíbrio e a geometria misturam-se nas suas obras visualmente complexas, as quais oferecem uma compreensão com múltiplas perspetivas dos materiais e técnicas utilizados na sua criação.
O virtuoso músico e compositor de qanun Feras Charestan é originário da cidade de Al-Hasakeh, no nordeste da Síria, e vive atualmente em Estocolmo, na Suécia. Realizou os seus estudos de qanun em Damasco e o seu trabalho engloba música tradicional, bem como géneros populares e contemporâneos, incluindo atuar como solista de qanun com orquestras sinfónicas. É um dos membros fundadores dos Mestres Músicos Aga Khan.
Basel Rajoub, saxofonista, multi-instrumentista, compositor, improvisador e professor, nasceu em Alepo e vive em Genebra. É conhecido como um intérprete pioneiro da música do Médio Oriente no saxofone e tem criado nova música reunindo músicos do Médio Oriente, Norte da África, Ásia e Europa. É também um dos membros fundadores dos Mestres Músicos Aga Khan, membro fundador do Projeto Soriana, que reúne música e músicos da Síria e do Ocidente, e Diretor Artístico do Ensemble Oriental da Haute École de Musique de Genebra.
Programa Aga Khan para a Música
Fundado em 2000, o Programa Aga Khan para a Música (AKMP) colabora com músicos e conjuntos tradicionais da Ásia Central, Médio Oriente, Norte de África, Ásia Meridional e África Ocidental. O AKMP celebra a música como uma expressão elementar da espiritualidade humana e um meio crucial de promover a tolerância, a curiosidade e o pluralismo, unindo indivíduos e comunidades e levando o trabalho dos músicos a um público global. Embora respeite e apoie as tradições muitas vezes antigas das comunidades, o AKMP também incentiva novos projetos de artistas contemporâneos imersos nessas ricas heranças, produzindo música inspirada, mas não condicionada, pela tradição.
O AKMP desenvolve o seu trabalho através de uma rede de escolas de música e centros de desenvolvimento em todo o Médio Oriente e Ásia Central, em países como o Egipto, o Quirguistão, o Paquistão e o Tajiquistão. Os seus objetivos passam por repensar o modelo tradicional de aprendizagem entre mestres e aprendizes nestas regiões à luz dos nossos tempos contemporâneos e proporcionar oportunidades de aprendizagem e atuação para jovens músicos de mérito.
Os Mestres Músicos do AKMP formam um conjunto de intérpretes de exceção escolhidos entre os artistas de topo que têm trabalhado com o AKMP desde a sua criação. Os Mestres Músicos olham para lá das suas tradições individuais para trocar ideias e conhecimentos musicais em atuações inovadoras, e para transmitir as suas competências enquanto professores, mentores e curadores. Criados em 2018, os Prémios Aga Khan para a Música distinguem a criatividade, o potencial e o empreendedorismo de excelência na música em todo o mundo.