Comunicados de Imprensa
Mestres Músicos criam ligações fortes na primeira digressão pela China
Suíça · 4 dezembro 2024 · 7 Min
Genebra, Suíça, 4 de Dezembro de 2024 - Os Mestres Músicos Aga Khan (AKMM) – o ensemble residente de músicos do Programa Aga Khan para a Música (AKMP) – concluíram este outono uma bem-sucedida digressão de quatro concertos na China, tendo realizado concertos, workshops e debates para um público alargado e entusiasmado.
A música tradicional chinesa representou um dos pilares centrais das atuações, com esta digressão a fazer parte das celebrações do 75.º aniversário da fundação da República Popular da China.
Os eventos também serviram para celebrar o aclamado álbum de estreia dos AKMM, Nowruz, com novas músicas inspiradas em tradições da China, Ásia Central, Médio Oriente e Norte de África, ligando a China a essas regiões do mundo através das tradições e património partilhados.
Os AKMM são Wu Man (pipa), Basel Rajoub (saxofone, duclar, doholla), Feras Charestan (qanun), Sirojiddin Juraev (dutar, tanbur), Jasser Haj Youssef (violino e viola d'amore) e Abbos Kosimov (bateria de quadro e percussão da Ásia Central).
Com a participação em dois concertos da famosa cantora e compositora Sanubar Tursun, cuja música reflete a sua herança cultural uigure, os AKMM atuaram em Pequim, Hong Kong, Shenzhen e Urumqi.
A inclusão da música uigure realçou a diversidade das tradições culturais dentro da China e vincou os vínculos históricos da China com a Ásia Central. Estes vínculos foram o mote para um álbum editado em 2012 em CD numa coprodução do Programa Aga Khan para a Música e da Smithsonian Folkways Recordings, intitulado Borderlands: Wu Man and Master Musicians from the Silk Route [Terras de Fronteira: Wu Man e os Mestres Músicos da Rota da Seda]. As 14 faixas do álbum incluem música de origem hui, cazaque, tajique e uigure.
Para além disso, a digressão dos AKMM celebrou vínculos culturais mais abrangentes entre a China, a Ásia Central, o Médio Oriente e o Norte de África.
“Muitos dos Mestres Músicos vêm de países vizinhos ou quase vizinhos da China”, explicou Wu Man, “Contudo, para boa parte do público chinês, – certamente para o público de Pequim, Hong Kong e Shenzhen – esses países ainda estão geograficamente muito longe. Nesse sentido, muitos dos espectadores nunca tinham visto instrumentos como o dutar ou o doira.”
Wu Man, virtuosa intérprete de pipa nascida em Hangzhou, tem promovido uma maior consciencialização da diversidade cultural da China ao longo da sua carreira e foi com grande entusiasmo que aceitou participar no projeto de gravação de Borderlands. Fairouz Nishanova, Diretora do AKMP, destacou o papel que o projeto desempenhou na preparação do terreno para a realização da recém-concluída digressão.
“Borderlands, gravado e produzido entre 2010 e 2012, é uma extraordinária coleção de peças musicais nas quais a mestre de pipa Wu Man e os seus colaboradores de origem uigure, cazaque, tajique e hui exploram os vínculos entre os mundos musicais da China e da Ásia Central. Já foi descrita como uma “magistral mistura de tradições conexas” e celebra a diversidade musical da China. Estamos muito satisfeitos por esta relação musical se ter continuado a desenvolver durante a digressão inaugural na China de Wu Man e dos restantes AKMM.”
“Este sentimento de afinidade musical e pessoal ficou evidenciado ao longo da digressão”, acrescentou Nishanova. “No final de um dos concertos, Wu Man recebeu não apenas uma ovação de pé, mas também o maior sinal de respeito e amizade – ser vestida com roupas tradicionais uigures numa declaração pública de amor e aceitação enquanto um membro da família.
“Os vídeos dos concertos da digressão tiveram mais de um milhão de visualizações nas redes sociais chinesas, e muitas pessoas disseram que um vínculo como este só poderia acontecer através da música.”
A própria Sanubar Tursun comentou: “A colaboração com este ensemble foi algo novo para mim, mas já parecíamos uma família. Depois de ouvir os Mestres Músicos Aga Khan e de atuar com eles, sinto que aprendi imenso.”
Sanubar Tursun
Wu Man continuou: “Dizemos que estas músicas e instrumentos vêm de outras culturas. Mas que quer isso dizer? O meu próprio instrumento, a pipa, veio da Pérsia e da Ásia Central através das rotas comerciais da Rota da Seda há 2000 anos e foi aperfeiçoado na China. Também temos versões chinesas de alguns dos outros instrumentos da Ásia Central tocados pelo ensemble.
“Para mim, o importante é mostrar que existem muitos tipos de música no mundo, e que muitos estão ligados. Queria lembrar ao público que a música não existe apenas num lugar. Viaja entre regiões e países, e do passado para o futuro.”
Os concertos dos AKMM reforçaram os vínculos históricos entre tradições musicais próximas e incutiram nelas uma nova vitalidade através da criação de novas obras. Toda a música executada foi composta pelos Mestres Músicos Aga Khan e desenvolvida no seio do ensemble.
“É música contemporânea inspirada, mas não limitada, pela tradição”, explicou Fairouz Nishanova. “Devemos respeitar e honrar as tradições, e vê-las não como barreiras, mas como uma base para novas criações. Cada um dos músicos contribui com algo totalmente novo para qualquer peça que apresente aos AKMM. No contexto da ligação entre diferentes culturas, é fundamental reconhecer que todas estas culturas estão vivas e ainda em desenvolvimento.”
Os concertos na China também serviram para aprofundar as relações musicais e pessoais dentro do próprio ensemble dos AKMM, proporcionando novas experiências inspiradoras aos músicos e novos fóruns para a sua arte.
Feras Charestan, músico e compositor de qanun, comentou: “A cultura, o estilo de vida, o público – tudo tem sido completamente diferente do que é na Europa ou noutros países. Para mim, perceber isso tem sido muito gratificante.”
O multi-instrumentista e compositor Basel Rajoub acrescentou: “As cidades são diferentes e o público é completamente diferente – tende a ser muito mais jovem do que o público europeu, por exemplo. Tem sido para mim uma alegria constante.”
Os concertos foram recebidos por públicos entusiastas ao longo de toda a digressão. Basel Rajoub observou: “Num dos eventos, vimos pessoas na plateia a replicarem a batida, a cantarem e a dançarem, o que é muito raro encontrar na Europa ou na América. Durante as atuações, olhava para os rostos na plateia e absorvia a energia do público. Enquanto músicos, ficamos muito felizes quando vemos crianças pequenas, por exemplo, a reagirem e a dançarem músicas que não conhecem.”
Basel Rajoub
Com um profundo conhecimento do público chinês, Wu Man conseguiu identificar diferentes tipos de públicos entre as multidões que se reuniram para assistir às atuações.
“Havia músicos e até musicólogos, que estavam entusiasmados por poder experienciar esta música tocada ao vivo, e não apenas em gravações, e por músicos tão competentes. Havia também outros profissionais altamente qualificados que não eram músicos e vieram para descobrir diferentes culturas e diferentes músicas.
“Mas foi fascinante mesmo para um membro do público em geral, que pouco conheceria deste tipo de música. Recebi muitas imagens e mensagens através das redes sociais chinesas. A avaliar pelas pessoas que me contactaram, creio que o impacto da digressão será enorme: quando o público saiu da sala de espetáculos, ficou com sem dúvida com o concerto na memória.”
O sucesso da digressão também ficou reconhecido pelo prolongamento da relação com as salas chinesas: os AKMM foram convidados a regressar a Hong Kong em 2025 e para além disso também estão em discussão várias colaborações.
Paralelamente aos concertos, os Mestres Músicos participaram em workshops e debates bastante concorridos ao longo da digressão, oferecendo contexto e informações acerca da música que tocam e das formas como esta vincula as diferentes tradições. Numa das ocasiões, reuniram-se numa mesa-redonda com professores e estudantes da Universidade Chinesa de Hong Kong, em Shenzhen.
Em Pequim e Urumqi, o percussionista Abbos Kosimov encontrou-se com alunos de adufe que tinham anteriormente aprendido através dos seus tutoriais em vídeo online. “Eles nunca me tinham visto ao vivo – esta foi a primeira vez que estive lá pessoalmente, pelo que foi uma experiência muito emocionante”, lembrou Kosimov. “Ensinei-lhes e tentei responder às muitas perguntas que eles tinham – foi tão interessante para mim como espero que tenha sido para os alunos.” Do mesmo modo, um jovem chinês intérprete de qanun contactou com Feras Charestan em Hong Kong e procurou o seu aconselhamento relativamente à técnica instrumental e ao repertório.
Também em Hong Kong, um evento ao longo de toda a noite no Asia Society Hong Kong Center combinou debates com atuações. Wu Man e Fairouz Nishanova fizeram uma apresentação de abertura sobre o modo como a produção musical intercultural e as diferentes tradições promovem a harmonia e o intercâmbio num mundo globalizado. A esta seguiu-se uma performance/workshop por parte dos Mestres Músicos, que deram a conhecer as suas tradições musicais e os seus respetivos caminhos para o ensino e a performance.
Fundado em 2000, o Programa Aga Khan para a Música (AKMP) colabora com músicos e ensembles da Ásia Central, Médio Oriente, Norte de África, Ásia Meridional e África Ocidental. O AKMP celebra a música enquanto uma expressão elementar da espiritualidade humana e um meio crucial de promoção da tolerância, da curiosidade e do pluralismo, unindo pessoas e comunidades e levando o trabalho dos músicos a um público global. Embora respeite e apoie as tradições muitas vezes antigas das comunidades, o AKMP também incentiva novos projetos de artistas contemporâneos imersos nessas ricas heranças, produzindo música inspirada, mas não condicionada, pela tradição.
O AKMP desenvolve o seu trabalho através de uma rede de escolas de música e centros de desenvolvimento curricular a funcionar atualmente no Egipto, Quirguistão, Paquistão e Tajiquistão. Os seus objetivos passam por repensar o modelo tradicional de aprendizagem entre mestres e aprendizes à luz da contemporaneidade e proporcionar oportunidades de aprendizagem e atuação para jovens músicos de mérito.