Projeto de planeamento de relocalização e estudo de caso em design em exibição na Bienal de Veneza
Vale de Bartang, Tajiquistão, 22 de Maio de 2021 - Para desenvolver soluções de apoio às comunidades vulneráveis e afetadas por desastres no sentido de planearem um futuro melhor, a Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH), o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a empresa de design KVA MATx estabeleceram uma parceria num estudo de caso sobre uma situação de relocalização voluntária. A AKAH, o Programa Aga Khan para a Arquitetura Islâmica (AKPIA) do MIT, o Centro Norman B. Leventhal para o Urbanismo Avançado (LCAU) do MIT e a KVA MATx foram convidados a expor o seu projeto no Pavilhão Central dos Giardini da 17.ª Exposição Internacional de Arquitetura - La Biennale di Venezia com curadoria de Hashim Sarkis.
Os desastres causados por um clima em mudança têm destruído casas, aldeias e os meios de subsistência de milhões de pessoas, deixando-as sem um local seguro para onde ir. Muitas vezes, estas famílias enfrentam situações prolongadas de desalojamento e vulnerabilidade ou migração. Ainda que a prioridade após um desastre seja reconstruir e voltar para casa, por vezes não é seguro voltar ao mesmo local ou mesmo à aldeia como um todo. No entanto, deixar as terras ancestrais e relocalizar uma comunidade inteira é um processo complicado, com riscos próprios que têm de ser cuidadosamente estudados e abordados.
A parceria entre a AKAH, o MIT e a KVA MATx teve como objetivo analisar a forma como as competências no planeamento e o envolvimento da comunidade podem superar estes desafios. Os parceiros analisaram a aldeia de Basid, localizada no Oblast Autónomo de Gorno-Badakhshan, no Tajiquistão, para desenvolver um modelo de planeamento para uma relocalização voluntária. A aldeia de montanha enfrenta uma extraordinária variedade de perigos naturais, entre os quais a queda de rochas, as enxurradas de lamas, inundações, avalanches e terramotos. A aldeia, localizada por baixo do Lago Sarez, um lago glacial instável, foi atingida, em 2010, por enormes enxurradas de lama que destruíram muitas casas e quintas, e um terramoto, em 2015, que causou danos devastadores. Felizmente, existe um local seguro nas proximidades (o Khabust) para onde a população de Basid pode e se quer mudar. Eles pediram ajuda à AKAH para planear este repovoamento.
Exposição Mudar em Conjunto na Biennale - Mapa-múndi
Onno Ruhl, Diretor-Geral da Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH), disse: “Mais de 90 por cento do território do Tajiquistão é montanhoso e cerca de metade do país está a 3000 metros ou mais e exposto a vários perigos naturais. À medida que os desastres naturais se vão tornando mais frequentes e graves devido às alterações climáticas, é fundamental encontrar soluções para ajudar as comunidades a reconstruírem-se e, sempre que necessário, a relocalizarem-se. A Estrutura de Planeamento de Habitat da AKAH permite que as pessoas deslocadas sejam capazes de planear um futuro mais seguro e melhor.”
O estudo de caso de Basid combina as competências e conhecimentos da comunidade com uma análise baseada em dados e nas melhores práticas em planeamento e design urbano por parte da AKAH, do MIT e da KVA MATx, no sentido de desenvolver um modelo para um planeamento participativo de relocalização. Traz até uma aldeia remota de montanha um modelo de planeamento de classe mundial.
Com base na Estrutura de Planeamento de Habitat e nas Avaliações de Risco de Perigos e Vulnerabilidades da AKAH, a equipa conjunta da AKAH, MIT e KVA MATx, em cooperação com a comunidade, identificou quatro grandes desafios de design: a melhoria dos acessos; o abastecimento de água; o enriquecimento dos terrenos através da conservação do solo e da vegetação; e a criação de opções para uma disposição segura da aldeia.
James Wescoat Jr., Professor Aga Khan Emérito de Arquitetura Paisagista e Geografia no MIT, disse: “O Estudo de Caso de Basid revela a importância da estreita ligação entre investigação, planeamento e design. Basid enfrenta uma série de desafios, desde a queda frequente de rochas a inundações esporádicas e à incerteza associada à represa natural a montante do Lago Sarez. Por isso, é importante desenvolver um estudo de caso para uma relocalização voluntária que englobe o maior número possível de determinantes, componentes de design e opções para uma vida segura no planalto e com uma utilização produtiva e continuada da planície aluvial.” É um desafio complexo e que apresenta muitos riscos, pelo que exige uma abordagem multissectorial, mas simplificada, ao planeamento do habitat que tenha em conta a tomada de decisões com base em dados e a visão e opiniões da comunidade.
A equipa usou a abordagem de Avaliação do Habitat da AKAH - que incluiu fotografias com drones e dados e análises por SIG para determinar os locais mais seguros, mapear os perigos e avaliar outros dados ambientais e geoespaciais importantes para o planeamento, incluindo a exposição solar, topografia, água, vegetação, análise dos solos, etc. A participação da comunidade é uma parte integral do processo de planeamento de habitat da AKAH, tendo a equipa colaborado com os moradores e líderes comunitários na identificação das necessidades e em conceitos promissores de programação e engenharia. Foram levadas a cabo sessões coletivas de design no terreno, que foram depois desenvolvidas pelo MIT e pela KVA MATx para se tornarem um conjunto de opções de design e recomendações para uma relocalização faseada.
O estudo de caso propõe uma variedade de opções de design que podem ser implementadas de forma gradual, começando com medidas imediatas de emergência e avançando para a relocalização completa de longo prazo. As medidas incluem o transplante de solo fluviais férteis até ao local da nova aldeia; o design de casas e quintas tendo em vista uma melhor exposição ao sol, vento e água; estratégias sustentáveis de plantio; plantação de árvores para estabilizar encostas e terrenos em socalcos, para além de outras estratégias de redução do risco de desastres, incluindo a construção resistente a sismos ou até mesmo um Porto Comunitário de Drones para o transporte de medicamentos e alimentos em situações de emergência.
O estudo de caso vai ser apresentado este ano na Bienal de Veneza. Nesta edição, a Bienal aborda a questão de “Como vamos viver juntos?”, concentrando-se nos novos desafios que as alterações climáticas trazem à arquitetura, no papel do espaço público nas recentes revoluções urbanas, nas novas técnicas de reconstrução e nos formatos dinâmicos de construção coletiva. O estudo da relocalização da Basid analisa o modo como as comunidades podem fazer uma mudança em conjunto de forma pacífica, justa e produtiva e em autogestão, e reconhece que com o aumento dos desastres provocados pelas alterações climáticas, o conceito de “viver em conjunto” irá muitas vezes significar “mudar em conjunto”.
Para mais informações:
Trushna Torche [email protected]
Ligação para o site do projeto Mudar em Conjunto do MIT: www.movingtogether.mit.edu; Site da AKAH