Os investimentos têm de ser direcionados para a capacitação das sociedades e para a construção da resiliência.

AKDN / Kiana Hayeri

Que mais o preocupa na situação humanitária atual?


Sempre vivemos situações de incerteza e conseguimos ultrapassá-las, mas desta vez será necessário muito mais tempo e esforço para que as pessoas superem o medo e a desesperança. As mulheres, em particular, estão muito preocupadas com o que irá acontecer com elas e com os seus filhos no futuro. A situação no aeroporto de Cabul em Agosto foi um exemplo de como as pessoas estavam desesperadas para deixar o país. Na verdade, essa é outra preocupação que tenho: centenas de milhares de pessoas abandonaram o Afeganistão nos últimos seis meses e eram na sua maioria pessoas com formação. O país não se pode permitir uma tal perda de capital humano – ou a chamada “fuga de cérebros” – particularmente num momento [em que] são muito necessários.


Outra área preocupante são os constrangimentos financeiros. Perdemos muitas relações económicas, e o normal fluxo de capitais – seja ao nível dos negócios e comércio como da ajuda humanitária e desenvolvimento – tem-se tornado cada vez mais difícil de manter. Isto está a afetar os meios de subsistência de milhões de afegãos.


Como é que a AKF se adaptou à situação?


Quando o tema é a nossa capacidade de adaptação, eu destaco sempre a história da nossa presença. Trabalhamos no país desde 2003, e a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, no seu todo, desde 1996. Isto significa que os nossos compromissos, operações e a elaboração e implementação de programas têm levado sempre em conta o ambiente frágil e os problemas do Afeganistão. Temos conseguido permanecer operacionais e isso é algo que está bastante enraizado naquilo que temos feito ao longo das últimas duas décadas. Sempre trabalhámos ao nível local, criámos fortes relações com as comunidades e desenvolvemos um ambiente no qual os nossos programas não só são aceites pelas comunidades como pertencem a essas mesmas comunidades.


A nossa neutralidade e a qualidade e abrangência do nosso trabalho têm desempenhado um papel importante na nossa resiliência nesta fase, assim como a nossa capacidade de nos reorganizarmos perante uma situação de crise.


Como está a funcionar atualmente o trabalho da AKF no Afeganistão?


Na sequência do dia 15 de Agosto, nós reiniciámos as nossas operações e reorganizámos os nossos programas em vigor. Claro que existem limitações, mas tentámos manter-nos ativos em todas as áreas nas quais já estávamos a trabalhar. Isto inclui programas importantes nas áreas da saúde, educação e desenvolvimento da primeira infância, agricultura e segurança alimentar, adaptação às alterações climáticas, recuperação económica e desenvolvimento de infraestruturas.


Para além disso, acrescentámos uma resposta humanitária completa, através da qual pretendemos chegar a mais de 500 000 famílias, cerca de 3,5 milhões de pessoas. Atualmente, esta resposta inclui a entrega de pacotes de alimentos, bem como o apoio a atividades de comida por trabalho e dinheiro por trabalho. Estamos conscientes da importância da agricultura no país, por isso este trabalho também envolve o apoio ao desenvolvimento da pecuária e o fornecimento de recursos aos agricultores.