home icon
Recursos e Meios de ComunicaçãoNotícias e históriasDestaques

Apoiar o desenvolvimento infantil durante a crise na Síria

Fundação Aga Khan

Síria · 23 setembro 2024 · 5 Min

As crianças aprendem através de brincadeiras num centro educacional em Salamia.

AKDN / Christopher Wilton-Steer

Email

“
Quando uma menina de seis anos perdeu o pai durante a guerra, a sua comunidade acreditou que ela era demasiado jovem para compreender totalmente a tragédia. Mantiveram todos os hábitos tradicionais à sua frente, dando-lhe pouco apoio emocional. Durante meses, esta criança permaneceu em silêncio. A sua família não sabia como lidar com a sua situação e também não tinha meios para levá-la a um médico.

Razan Alshehawe, Gestora do Programa de Educação e Desenvolvimento na Primeira Infância da Fundação Aga Khan (AKF) na Síria

Depois de mais de 13 anos de crise, existem 2,4 milhões de crianças sírias que não vão à escola – metade da população em idade escolar. O acesso às unidades de saúde está severamente limitado devido a encerramentos e à falta de transporte e dinheiro. “O conflito também afeta a saúde mental e psicossocial dos pais e cuidadores”, diz a Dra. Dalal Alhamwy, Coordenadora de Programa dos Serviços Aga Khan para a Saúde (AKHS) na Síria. “A maioria perdeu algo, seja um familiar ou a casa. Tem sido difícil, tanto para os deslocados como para as comunidades que os recebem.”


“Foi tudo agravado pela situação económica, o terramoto, a COVID, a cólera – uma coisa leva a outra”, acrescenta Razan. “Serem forçados a deixar as suas casas afeta a segurança e a estabilidade das crianças. Temos também o trauma de serem expostos à violência, o impacto na saúde e na nutrição, a interrupção da educação. As famílias precisam de uma maior consciencialização acerca da importância da interação holística com as crianças desta idade, mas a sua prioridade é tentar alimentá-las.”


O Quadro de Cuidados Nutricionais desenvolvido por parceiros, incluindo a OMS, a UNICEF e o Grupo do Banco Mundial, destaca que as crianças pequenas precisam de ter uma boa saúde, nutrição adequada, segurança e proteção, oportunidades de aprendizagem e cuidadores reativos.


Com isto em mente, e com base em 16 anos de experiência, as agências da AKDN estão a adaptar o programa de desenvolvimento na primeira infância (DPI) na Síria para lidar com os desafios do conflito, da recuperação, das sanções e da escassez. As iniciativas do sector da saúde visam as crianças desde o nascimento até aos três anos, enquanto o apoio educacional se estende até aos oito anos.


During children’s routine health visits, the healthcare provider checks on all aspects of their development and offers advice to the caregivers.

Durante as consultas de rotina das crianças, a profissional de saúde verifica todos os aspetos do seu desenvolvimento e oferece aconselhamento aos cuidadores.

AKHS Syria

Apoiar as crianças pequenas e os seus cuidadores através do sector da saúde

A UNICEF e a OMS desenvolveram a abordagem de Cuidados para o Desenvolvimento Infantil (CDI), a qual foi adaptada pela AKDN ao programa de Bem-Estar Infantil da Síria, com vista a dar um maior apoio aos pais e cuidadores de crianças desde o nascimento até aos três anos. Durante cada uma das 13 visitas a centros de saúde, o programa avalia o desenvolvimento das crianças, realizando consultas e intervenções, sempre que necessário.


Os AKHS têm encorajado uma abordagem centrada na criança: integrando serviços de pediatria, formando pessoal, apoiando a criação de áreas de recreio e inclusive incentivando a pintura das paredes com cores alegres. Existem agora 65 centros de saúde amigos das crianças em seis províncias.


Com o contributo da AKDN, os formadores e supervisores sírios proporcionam aos profissionais de saúde um programa interativo que aposta na auscultação e orientação de pais e cuidadores durante as visitas. Os formadores comunitários em saúde também desempenham um papel no fortalecimento de uma relação de confiança com pais e cuidadores e no incentivo à sua participação.


Os profissionais de saúde mostram aos pais como usar os materiais disponíveis em casa para interagir e brincar com os seus filhos, respondendo aos seus movimentos, sons e conversas, com o objetivo de apoiar o seu desenvolvimento motor, cognitivo e socioemocional.


“Concentramo-nos nos aspetos positivos”, diz Dalal. “Os pais cantam para os filhos e nós mostramos-lhes como isso é importante para o desenvolvimento da relação e para desenvolver a audição e comunicação das crianças. A maioria dos pais dá telemóveis aos filhos para poderem descansar. Mas desconhecem que pode ser muito perigoso para a visão e audição das crianças, e que, em vez disso, devem brincar com as crianças para desenvolverem a sua confiança e estimularem o seu desenvolvimento. Essa foi outra ideia simples que puderam aplicar em casa.”


“
Durante a formação, muitos dos profissionais de saúde choraram, desejando ter feito esta formação quando os próprios filhos eram pequenos o suficiente para dela beneficiarem. Afirmaram que iriam partilhar o conhecimento e as competências com os seus familiares e comunidades.

Dra. Dalal Alhamwy, Coordenadora de Programa dos Serviços Aga Khan para a Saúde (AKHS) na Síria

Uma avaliação levada a cabo pelos AKHS mostrou que 80% dos 622 profissionais de saúde, formadores e supervisores revelaram ser abordados pelos pais com perguntas sobre o desenvolvimento dos seus filhos, tendo esses uma maior tendência para comparecer nas visitas de acompanhamento. O modelo foi integrado no programa do sector da saúde para o Bem-Estar Infantil.


Children develop spatial reasoning and social skills through building activities at this community preschool. 

As crianças desenvolvem o raciocínio espacial e as competências sociais através de atividades com blocos de construção neste infantário comunitário.

AKHS Syria  

Oferecer uma educação pré-primária de qualidade

Em parceria com a UNICEF, a AKF tem apoiado as comunidades na construção de infantários, dando às crianças uma base para as suas competências académicas e de vida. Os funcionários envolvem-se com as comunidades onde não existem recursos, ouvem os seus problemas, explicam a importância do DPI e avaliam a vontade destas em contribuir para um centro local. A AKF apoia as comunidades ao longo de dois anos, oferecendo formação e mentoria. São providenciados recursos de ensino e aprendizagem para garantir que as comunidades são capazes de sustentar o centro de forma independente.


As crianças participam em atividades que desenvolvem competências para um desenvolvimento holístico. Contar histórias e interpretar personagens ajuda a desenvolver as competências de linguagem e criatividade. As brincadeiras estruturadas promovem a interação social e as competências motoras finas, promovendo o desenvolvimento emocional e físico das crianças. A resolução de quebra-cabeças estimula o desenvolvimento cognitivo. Os jogos em grupo desenvolvem o trabalho em equipa e as competências sociais.


Os perfis acerca do desenvolvimento de cada criança mostram que os participantes melhoram as suas competências sociais e emocionais, as quais são fundamentais para uma melhor saúde e relações com os outros. “Podemos reforçar a resiliência das crianças para ajudá-las a enfrentar as adversidades e a adaptar-se a circunstâncias desafiantes”, diz Razan.


“Também ensinamos os pais a interagir com as crianças, a aplicar uma disciplina positiva e a fornecer apoio psicossocial. Inicialmente, os pais podem sentir-se retraídos, mas depois dizem o quanto sentiram falta de brincar com os filhos por causa do impacto da guerra e das exigências do trabalho.”


As cuidadoras em Salamia participam numa sessão sobre nutrição. Elas recebem uma caixa com comida e livros infantis sobre alimentação saudável e higiene pessoal.

AKDN / Ali Shaheen 

A maioria dos centros também disponibiliza intervenções básicas de saúde e nutrição, garantindo um apoio abrangente ao desenvolvimento das crianças. Os 59 centros de Educação na Primeira Infância abrangem cerca de 6000 crianças por ano.


Uma delas é a menina pouco comunicativa que conhecemos há pouco. Como é que as coisas lhe têm corrido?


“Depois de se inscrever numa das nossas atividades”, diz Razan, “ela começou a interagir com a professora e os colegas, ainda sem falar. Depois de receber apoio emocional especializado e de a sua família ter recebido orientação sobre a forma de cuidar dela, a menina começou gradualmente a comunicar. Quando o novo ano letivo começou, a jovem entrou no primeiro ano como qualquer outra criança – falando, aprendendo e participando.


“A sua viagem do silêncio ao riso e à criação de laços faz-nos pensar na incrível transformação que pode acontecer quando as crianças recebem o apoio adequado.”


SíriaFundação Aga KhanEducação
Destaques

Últimas notícias

Ver mais

No Result Found
No Result FoundNo Result Found

Ver também

home icon
Recursos e Meios de ComunicaçãoNotícias e históriasDestaques
languageSwitcherEsta página também está disponível em