Moçambique · 4 julho 2022 · 3 Min
Desde 2017, o conflito na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, forçou mais de 700 000 pessoas a abandonarem as suas casas. A maioria das famílias deslocadas foram alojadas em comunidades com parentes e amigos, ou em terrenos temporários cedidos por terceiros; no entanto, foram forçados a deixar para trás as suas terras e os seus pertences. Dado que a maioria são pequenos agricultores, esta mudança significou para muitos uma rutura das fontes de alimento e rendimento.
Com o apoio da Embaixada Real da Noruega em Moçambique, a Fundação Aga Khan (AKF) tem vindo a trabalhar com o Instituto Agrário de Bilibiza no Campus de Ocua para ajudar as populações deslocadas internamente (PDI) a identificar novas fontes de alimento e rendimento e a recuperar do choque dos últimos anos.
Um dos exemplos é o nosso apoio à criação de associações avícolas e micro-aviários. Orientamos as associações na identificação de materiais locais como bambu, erva e estacas que possam ser reaproveitadas para a construção de micro-aviários. Em seguida, formamos os membros em saúde avícola, gestão de aviários e marketing, competências-chave que os irão acompanhar seja qual o for o seu futuro.
Ernestina Constância disse: “Entrei para o grupo pela oportunidade de aprender acerca da criação e venda de frangos. Hoje sou capaz de fazê-lo, mesmo sozinha, e consigo gerar rendimentos para mim e para a minha família.”
Uma associação de 16 deslocados internos recebeu um lote de 450 galinhas para arrancar com a sua iniciativa. Através da formação e mentoria providenciadas, a associação conseguiu obter lucro na venda dos frangos e reinvestir para aumentar o número de frangos para 600. Para muitos membros da associação, esta foi a primeira experiência na criação de rendimentos fora das práticas de agricultura de subsistência.
Mais do que isso, a associação ofereceu um espaço onde as pessoas – tanto os membros da comunidade de acolhimento como os deslocados internos – se podem reunir, relacionar e começar a recuperar depois de meses de trauma e incerteza.
Helena Fernando Evaristo disse: “É bom participar nesta atividade porque estou ocupada durante o dia, tenho com quem falar. Já não fico tão isolada a pensar no passado e nas coisas que tive de deixar para trás.
Também aprendi a criar galinhas e a gerir o negócio. Quando voltar para a minha província, serei capaz de continuar este negócio, mesmo sozinha, e também poderei trabalhar para qualquer pessoa que tenha um aviário e receber um salário.”
A criação de micro-aviários é uma das prioridades do governo provincial. São uma das muitas formas através das quais estamos a apoiar cerca de 400 membros da comunidade, incluindo deslocados internos, com o intuito de garantir alimentos e rendimentos essenciais e conseguir resistir melhor aos choques que o futuro possa trazer.
O Instituto Agrário de Bilibiza procura fortalecer o sector agrícola através da formação de técnicos e empresários de nível médio na Província de Cabo Delgado. Esta iniciativa também melhora a aprendizagem empírica dos alunos e envolve-os com a comunidade, dando-lhes experiência em gestão institucional, desenvolvimento e gestão sustentável de terrenos, competências úteis para as suas carreiras.