Fundação Aga Khan
Moçambique · 24 junho 2024 · 4 Min
Anabela Sumaila é mãe, apicultora e protetora de manguezais. Trabalha nas margens da Ilha de Moçambique – uma pequena ilha e recife de coral localizada a quatro quilómetros da costa moçambicana. Num novo filme produzido para a Fundação Aga Khan (AKF) pela BBC StoryWorks, Anabela partilha a sua história: o seu percurso até se tornar apicultora, como isto ajudou a sua família, e porque é que o oceano – e especificamente os manguezais – são vitais para o futuro da sua comunidade.
Anabela Sumaila
As Guardiãs das Costas de Moçambique é uma das 15 curtas-metragens incluídas em Blue Horizons, uma nova série apresentada pelo World Ocean Council e produzida pela BBC StoryWorks Commercial Productions. Esta série de filmes online explora a forma como o oceano está ligado a todas as nossas vidas – seja oferecendo um meio de subsistência, os produtos que compramos no dia-a-dia ou a água de que precisamos para viver.
Através de histórias de pessoas reais, a série apresenta experiências e ligações oceânicas de todo o mundo, viajando até aos climas mais frios do norte da Noruega para conhecer a primeira capitão de um navio, atravessando o Mar do Norte até chegar ao nadador de águas abertas que enfrenta as costas acidentadas da Irlanda, percorrendo o Atlântico Norte até encontrar a equipa que protege os recifes de coral debaixo das ondas nas costas de Roatán, e descendo a costa suaíli da África Oriental em direção a Moçambique, onde Anabela e as suas colegas apicultoras estão a proteger as florestas de manguezais.
Anabela é diretora de uma associação de mulheres e do Conselho Comunitário de Pesca da sua área. Em 2022, juntou-se ao projeto da AKF Mel do Mar e obteve conhecimentos de apicultura, reabilitação de manguezais e literacia financeira. O projeto Mel do Mar estabeleceu uma parceria com mais de 400 mulheres na Ilha de Moçambique, apoiando-as na sua formação em apicultura.
As mulheres mantêm as colmeias abrigadas nos manguezais, enquanto as abelhas recolhem néctar nas flores nas zonas costeiras para produzirem mel. As apicultoras vendem o mel para complementar os seus rendimentos, protegendo ao mesmo tempo os manguezais de serem abatidos para lenha, carvão e construção, e procedendo ainda à replantação de áreas degradadas da floresta. Com os lucros obtidos com a venda do mel, as mulheres formaram grupos de poupança com modelos de crédito rotativos, permitindo-lhes investir ainda mais na diversificação dos seus rendimentos.
“É fundamental investirmos nas mulheres”, explica Hirondina Mondlane, coordenadora de projeto da AKF a trabalhar no projeto Mel do Mar. “As mulheres têm menos acesso à educação e, consequentemente, têm menos acesso ao emprego. Muitas vezes a sua subsistência está dependente da recolha de recursos naturais.”
Hirondina, que participa no filme, descreve o modo como os residentes das áreas costeiras de Moçambique estão a “suportar os custos” das alterações climáticas. “As pessoas têm cada vez menos comida e isso leva a que coloquem mais pressão nos recursos naturais. “Estamos a ver cada vez mais pessoas a cortar árvores para vender carvão para obter rendimentos – a floresta de manguezais está a ser altamente afetada. E todos sabemos que quanto mais manguezais forem cortados maior será o risco de eventos climáticos extremos.”
As costas extensas e expostas de Moçambique estão a ser rapidamente remodeladas por ciclones cada vez mais frequentes e severos, incluindo o ciclone Idai, em 2019, e o ciclone Freddy, em 2023, que atingiram o país duas vezes e afetaram diretamente a vida de mais de um milhão de moçambicanos. As repercussões destes eventos climáticos extremos agravados pelo clima vão desde a perda de meios de subsistência e do deslocamento de populações até à exposição a doenças transmitidas pela água, tudo fatores que enfraquecem a resiliência a futuros desastres.
Hirondina Mondlane
A proteção e reabilitação de manguezais é uma solução baseada na natureza (SBN) fundamental para a vulnerabilidade climática no canal de Moçambique. Estas “florestas azuis” trazem inúmeros benefícios, desde a promoção da biodiversidade marinha e terrestre e a captura de carbono ao fornecimento de recursos essenciais às comunidades vizinhas. Como tal, a conservação dos manguezais deve ser feita em harmonia com a vida das pessoas que, como Anabela, vivem em zonas costeiras.
O projeto Mel do Mar é apenas um exemplo dos programas de resiliência climática liderados pela comunidade levados a cabo pela AKF em regiões costeiras. No ano passado, a AKF trabalhou com as comunidades para plantar mais de 604 000 mangues – e proteger mais 4,6 milhões – em todos os países onde trabalha. A reabilitação de manguezais é um dos aspetos da Iniciativa de Regeneração Costeira do Oceano Índico (IRCOI), lançada recentemente pela AKF, que visa apoiar as comunidades costeiras em seis países, melhorar a sua qualidade de vida e revitalizar e proteger ecossistemas costeiros de importância vital.
O Oceano Índico cobre aproximadamente 20% de toda a superfície da água da Terra e banha as costas de seis países onde a AKF trabalha: Quénia, Tanzânia, Moçambique e Madagáscar, em África, e Índia e Paquistão, na Ásia.
O impacto das alterações climáticas na região tem várias facetas, desde a erosão costeira e o aumento do nível do mar ao aumento da intensidade dos ciclones e da acidificação do oceano – sendo que todas elas afetam as vidas e os meios de subsistência das comunidades do Oceano Índico. A IRCOI aplica uma abordagem às SBN baseada na ciência e liderada pelas comunidades, com base na premissa de que, para lidar com as alterações climáticas e garantir a sustentabilidade ambiental, é essencial desenvolver soluções em conjunto com as comunidades, especialmente as mulheres e os jovens.
Na sua comunidade, Anabela é uma respeitada ativista climática: “Sou pequena, mas elas têm medo de mim”, diz referindo-se às pessoas que procuram cortar os manguezais. A AKF está muito satisfeita por ter tido a oportunidade de expandir ainda mais a sua missão na Blue Horizons – uma série que celebra pessoas e organizações como a Anabela que estão a trabalhar para proteger os nossos mares, por eles e pelo planeta.
As suas histórias funcionam como uma urgente chamada de atenção para a ligação indissociável entre as pessoas e o oceano. Como diz Anabela no fim do seu discurso: “Nós protegemos a costa, protegemos os manguezais e eles protegem-nos a nós.”
Assista abaixo a As Guardiãs das Costas de Moçambique: