Tajiquistão · 22 fevereiro 2021 · 3 Min
No alto das montanhas da região de Sughd, no Tajiquistão, fica a pequena aldeia de Imbef. Esta fica localizada a uma altitude de mais de 2000 metros acima do nível do mar, e o seu clima frio e seco e a falta de terras aráveis fazem do cultivo de colheitas agrícolas um desafio contínuo para a população local, boa parte da qual depende da agricultura como fonte de rendimento e também de alimento.
Os agricultores locais ocupam-se principalmente do cultivo de batatas e da criação de gado, e apesar do acesso limitado a terrenos, é fundamental que sejam capazes de plantar colheitas de boa qualidade que lhes tragam um retorno substancial. Abdusamad, um habitante local, falou sobre o problema:
“Dado que a nossa aldeia tem poucos terrenos (apenas 11 hectares de terra arável, 10 dos quais são para a batata), plantamos batatas todos os anos para dar resposta às nossas necessidades alimentares, mas a falta de batatas-sementes de boa qualidade tem levado a um decréscimo das colheitas nos últimos anos.”
A batata é uma cultura de mão-de-obra intensiva, e é necessária uma grande quantidade para providenciar alimento aos habitantes da aldeia, para além da reserva de uma parte para replantar no ano seguinte. Abdusamad precisa de 1,5 toneladas métricas de batatas por ano só para alimentar a sua família, e uma maior quantidade ainda para poder replantar e vender. Contudo, nos últimos anos, as colheitas de batata não diminuíram apenas em quantidade como também em qualidade, e hoje em dia “os agricultores estão a deixar o cultivo da batata devido à falta de batata-semente de qualidade”.
A Fundação Aga Khan tem trabalhado com os seus parceiros, a cooperativa SAROB, ACTED, Camp Kuhiston e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento das Sociedades de Montanha, para implementar um programa financiado pela União Europeia projetado para ajudar os agricultores a aumentar a sua produção - proporcionando, deste modo, uma maior segurança alimentar e uma dieta mais nutritiva às suas famílias - e proteger os seus meios de subsistência. O programa “Melhorar os meios de subsistência e a segurança alimentar através da Gestão Sustentável dos Recursos Naturais” apoiou 15 agricultores na criação de um Grupo de Produtores Agrícolas local, assim como um Fundo Renovável de Matérias-Primas Agrícolas (AIRF). Parte dos fundos do programa foram usados para disponibilizar ao AIRF uma variedade particular de sementes-batata, “Big Rose”, com o objetivo de os membros, após conseguirem um aumento no rendimento das suas colheitas, poderem devolver as sementes-batata ao AIRF após a colheita, e desta forma ajudarem outros agricultores. Os fundos foram também usados para realizar sessões de formação em métodos modernos de armazenamento da cultura da batata e prevenção de doenças.
As batatas Big Rose têm-se desenvolvido muito bem na região de Sughd. No passado, um bom ano resultava normalmente em cerca de 2,2 toneladas de batatas por um décimo de hectare. Com a nova variedade, Abdusamad conseguiu apanhar 5,3 toneladas no primeiro ano de colheita - mais do dobro da sua melhor colheita. Com uma produção tão elevada, foi capaz de devolver 800 quilos de batata-semente ao AIRF, que foram distribuídos por outros quatro agricultores.
Mais de 10 000 agricultores melhoraram os seus conhecimentos acerca das tecnologias de utilização de terrenos agrícolas e passaram a participar no fundo renovável para a batata no âmbito deste programa.
AKDN / Christopher Wilton-Steer
Outra moradora em Imbef, Halimova Jumagul, partilhou a sua experiência acerca da ajuda que recebeu do AIRF:
“Em 2016, devido à fraca colheita de batata, as reservas da nossa família ficaram depauperadas no inverno, e por isso o meu marido teve de migrar para a Rússia para trabalhar. Na primavera de 2018, recebi 200 quilos da variedade de sementes-batata “Big Rose” através do AIRF. A minha colheita num vigésimo de hectare foi de 3,2 toneladas e, assim, fui capaz de devolver 400 quilos de sementes ao AIRF.”
É expectável que a colheita de batata venha a aumentar nos próximos anos à medida que se for adaptando melhor às condições climatéricas da região, mas os resultados, até ao momento, são muito promissores. A componente renovável do fundo do AIRF significa que com apenas um pequeno esforço inicial, serão cada vez em maior número os agricultores capazes de cultivar batatas de melhor qualidade, alimentar as suas famílias, melhorar os seus meios de subsistência e, por consequência, a sua qualidade de vida.
Desde Junho de 2016 que o programa “Melhorar os meios de subsistência e a segurança alimentar através da Gestão Sustentável dos Recursos Naturais” tem vindo a trabalhar diretamente com mais de 800 agricultores, plantando pomares de fruto, cultivando batata-semente e vegetais, processando laticínios e cultivando rosa canina, entre outras atividades. As atividades também abrangeram mais de 10 000 agricultores que melhoraram os seus conhecimentos acerca das tecnologias de utilização de terrenos agrícolas e passaram a participar no fundo renovável para a batata.
Este texto foi adaptado de um artigo publicado originalmente no site da AKF Reino Unido.