Fundação Aga Khan
Quénia · 21 julho 2023 · 3 Min
AKDN / Annie Lee
Uma pequena brisa restolha nas folhas das árvores que cercam o perímetro da quinta. O tom grave do mugido das vacas enche o ar, perfurado pelo cacarejar das galinhas que vagueiam livremente pela propriedade. Ao longe, ouve-se o melódico murmúrio do rio que passa perto.
É esta a banda sonora da quinta de Eunice Njoki Thuchi no condado de Kirinyaga, no Quénia. Este é também o som de um sistema interligado de agricultura sustentável.
No Quénia, existem mais de 7,5 milhões de pequenos agricultores, que representam 75% da produção agrícola do país. Os pequenos agricultores no Quénia são frequentemente agricultores de subsistência, que cultivam alimentos para as suas famílias e para vender nos mercados locais. Mas certos fatores socioeconómicos, tecnológicos e ambientais estão a ameaçar a segurança alimentar e a produtividade agrícola, os quais têm sido exacerbados pelos efeitos das alterações climáticas.
Eunice, uma agricultora apoiada pelo projeto Maendeleo.
AKF
Eunice é um dos 2500 agricultores no Quénia apoiados pelo projeto Maendeleo da Fundação Aga Khan, implementado em parceria com a Frigoken, a maior empresa de processamento de vegetais da África Oriental e parte do Fundo Aga Khan para o Desenvolvimento Económico.
O projeto Maendeleo – que significa "progresso" em suaíli – concentra-se em ajudar os pequenos agricultores através da agricultura regenerativa. A agricultura regenerativa foca-se na conservação e na reabilitação, que inclui o uso de compostagem, a reciclagem da água e o aumento da biodiversidade.
Essenciais para a abordagem da AKF são os Campeões Verdes – jovens quenianos formados para interagirem com os agricultores e instrui-los acerca de tópicos como nutrição, regeneração dos solos, e pesticidas e fertilizantes naturais. Cada Campeão Verde trabalha com cerca de 200 agricultores da sua comunidade, ensinando-lhes práticas agrícolas sustentáveis e realizando inquéritos para monitorizar o progresso.
Selyne é uma Campeã Verde e ensina práticas agrícolas sustentáveis aos agricultores.
AKDN / Michael Goima
Selyne, a Campeã Verde que trabalha com Eunice, falou-lhe do adubo de compostagem e ensinou-a a fazer biopulverizações usando ingredientes da sua própria quinta.
Eunice e Selyne apelidam estas pulverizações de "dawa", que significa remédio em suaíli. Estas pulverizações são uma mistura fermentada de água, adubo e espécies de plantas disponíveis na sua quinta – conforme a mistura de ingredientes, as pulverizações fornecem nutrientes em quantidade às plantações de Eunice e funcionam como repelentes naturais de pragas.
Desde que passou a usar as biopulverizações, Eunice tem notado que as suas melancias têm ficado maiores, e atualmente é capaz de plantar culturas mais diversas, como couve e pimento, porque as biopulverizações têm um sabor menos amargo do que os pesticidas convencionais.
As biopulverizações permitiram que Eunice cultivasse pimentos.
AKDN / Annie Lee
As biopulverizações também são um exemplo de um ciclo de sustentabilidade. "Por toda a quinta [de Eunice], podemos ver exemplos deste ecossistema complexo e integrado", explicou Kit Dashwood, que ajudou a formar os Campeões Verdes. Kit está no Quénia como Bolseira Regional na área das Alterações Climáticas, apoiada pelo Programa Internacional de Bolsas para Jovens da AKF Canadá. “As galinhas fornecem penas que são usadas nos biofoliares [fertilizantes naturais] e concedem acesso a proteínas animais que melhoram a nutrição das famílias. As vacas comem forragens especialmente selecionadas ou alguns desperdícios agrícolas, como pastagens extra, e produzem estrume [para ser usado em pulverizações e compostagem].”
As biopulverizações também são rentáveis, ajudando os agricultores a usar as suas economias para investir em si mesmos e nas suas famílias. "Anteriormente, eu gastava muito, 13 000 xelins [92 dólares] em pesticidas e fertilizantes a cada estação", disse Eunice. “Agora, compro muito menos fertilizantes na loja e gasto menos de 5000 xelins [35 dólares].”
Com as suas poupanças extras, Eunice consegue apoiar a educação dos seus filhos. O filho mais velho está na universidade e Eunice espera que ele arranje emprego na cidade. "Mas se não arranjar, ele pode voltar e trabalhar aqui", disse sorrindo.
O projeto Maendeleo tem um efeito em cascata nas comunidades, sendo responsável pela melhoria da saúde e do bem-estar através do aumento do acesso a culturas diversas e nutritivas e proporcionando aos jovens oportunidades de capacitação, experiência e orientação. E ao dar prioridade a soluções sustentáveis e concentradas a nível local, os agricultores conseguem reduzir sua pegada de carbono através da regeneração dos solos e da redução da dependência de materiais importados. Por intermédio de projetos como o Maendeleo, a AKF está a ajudar as comunidades a familiarizarem-se com práticas agrícolas sustentáveis, concentrando-se em soluções locais que promovam ciclos que beneficiem as populações e o planeta.
Leia o artigo original no site da Fundação Aga Khan