Kenya · 24 agosto 2014 · 5 Min
AKA
Diana Maina, formada em 2009 na Academia Aga Khan (AKA) de Mombaça, há muito que sonha com uma carreira na área do desenvolvimento no Quénia, onde espera ajudar as comunidades pobres a quebrar o ciclo da pobreza. No entanto, só se apercebeu da complexidade deste plano de carreira quando estagiou no Programa de Desenvolvimento Escolar do Quénia (KENSIP) e no programa para a Qualidade da Aprendizagem Precoce na África Oriental (EAQEL), duas iniciativas da Fundação Aga Khan (AKF) que se concentram em melhorar a educação primária, no verão de 2009.
“Ajudou-me a perceber qua o desenvolvimento é algo muito complexo... A pobreza é generalizada. Não existe uma solução única”, disse Maina, que desde então participou em estágios da AKF relacionados com o microfinanciamento, educação para crianças marginalizadas e saúde comunitária.
Preparar os alunos para se tornarem agentes de mudança social
Maina participou nestes estágios através de uma iniciativa da Academia na área dos serviços, a qual estabeleceu parcerias com projetos locais da AKF para oferecer aos alunos e ex-alunos do Programa de Diploma (nível sénior) oportunidades de prestar serviços diretamente em projetos de desenvolvimento da comunidade. Ainda que este programa específico seja destinado a estudantes de nível sénior, a Academia oferece aos estudantes de todas as idades uma variedade de atividades de serviço comunitário através de outras iniciativas.
Os estágios de verão, como aquele em que Maina participou, foram criados em 2009 em Mombaça, com o objetivo de concretizar a visão das Academias de formar licenciados que venham a ser os impulsionadores do desenvolvimento futuro da sua sociedade. Para além de contribuir para o crescimento dos alunos e permitir que estes cumpram os requisitos de serviço necessários para o Diploma de Bacharelado Internacional.
“Queríamos que eles conhecessem a realidade fora da 'bolha' da Academia. Também queríamos fazê-los sentir que têm as competências e a liberdade de fazer seja o que for”, disse Nicole Nikolaidis, Coordenadora de Liderança Estudantil das Academias.
Para muitos estudantes de AKA de Mombaça, a experiência foi transformadora.
"Fiquei menos interessada naquilo que o mundo tinha para me oferecer e mais interessada naquilo que eu tinha para oferecer ao mundo", disse Khadija Dohry, formada em 2012 na AKA de Mombaça, que estuda ciência política e relações internacionais. Ela quer ser diplomata e trabalhar pelo "interesse superior do seu povo."
A perspetiva de Dohry foi moldada pela sua decisão em ser voluntária no Centro de Recursos de Madraça do Quénia (MRC, K), que oferece educação inicial aos quenianos mais carenciados, durante seis semanas no verão de 2011. Ela ajudou a renovar o parque infantil da escola e a montar uma minibiblioteca, para além de organizar um curso de TI para ajudar os professores a melhorar as competências em informática. Ao conhecer a comunidade, ficou preocupada com a elevada taxa de raparigas que abandonavam a escola devido a casamentos forçados ou casos de gravidez. Isto inspirou-a a criar plataformas em parceria com o MRC, K e o Programa de Desenvolvimento Escolar do Quénia que envolvessem a comunidade em debates acerca das desvantagens do casamento precoce e da importância de estabelecer marcos educacionais para as crianças.
Provar que os jovens podem ter um impacto social significativo Ainda que hoje em dia os projetos de desenvolvimento como o MRC, K recebam os alunos como Dohry de braços abertos, existiu uma certa relutância no início. Quando Nikolaidis se propôs a desenvolver vínculos com a AKF, encontrou muitos obstáculos.
"Chegar a um acordo foi um grande desafio", disse Nikolaidis. A equipa da AKF que Nikolaidis abordou inicialmente tinha dúvidas de que os alunos do ensino preparatório pudessem dar grandes contribuições, uma vez que os seus estagiários normalmente possuíam um bacharelato. Na pior das hipóteses, eles temiam que os estagiários viessem a aumentar o seu volume de trabalho. Mas houve seis projetos da AKF que concordaram em realizar estágios de sete semanas com 17 estudantes do Programa de Diploma durante o verão de 2009.
Na maioria dos casos, os alunos foram atirados às feras. "Não tivemos pena deles... e tratámo-los como qualquer funcionário do programa", disse um membro da equipa numa avaliação dos estágios de 2009. Os alunos consideraram esta expectativa motivadora. Eles aproveitaram o seu entusiasmo, conhecimento técnico e experiência académica para escrever relatórios, realizar pesquisas, fornecer apoio logístico e de formação, preparar apresentações e ajudar a equipa com problemas de TI.
"Hoje em dia, a nossa perceção da juventude [e das suas capacidades] é diferente", disse Atrash Ali, Diretor de Projeto da iniciativa para a Qualidade da Aprendizagem Precoce na África Oriental, após a primeira fase de colocação de estagiários. "Temos de ter em conta o potencial dos jovens, algo que tendemos a ignorar... Eles mostraram que têm muito a oferecer nesta idade."
Num caso particular, os alunos organizaram de forma independente um projeto para pintar uma escola degradada. Noutro caso, desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento de relatórios para um ministério do governo. Eles também aprofundaram os seus conhecimentos acerca do seu país. "Descobri que não tinha noção dos problemas que estavam a acontecer na minha própria cidade", disse Muzamil Mohammed, graduado em 2009, que fez voluntariado no MRC, K.
“Na escola, podem falar sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio ou o Índice de Desenvolvimento Humano, mas durante os estágios podem observar estas questões em primeira mão. São capazes de relacionar a vida real com aquilo que aprendem na sala de aulas”, disse Nikolaidis.
Preparar os alunos para criar e gerir projetos de desenvolvimento social
Muitos estudantes vão mais além com aquilo que aprendem nos estágios, desenvolvendo um Projeto de Proximidade, que satisfaz a componente de Criatividade, Ação, Serviço (CAS) do Diploma IB através de um projeto de longo prazo que integra pelo menos dois elementos de entre a criatividade, a ação e o serviço.
Há dois anos, um grupo de estudantes usou o Projeto de Proximidade como uma oportunidade para contribuir para o melhoramento das competências em matemática nas escolas locais. Depois de pensarem na sua própria experiência como estudantes, assim como levar a cabo pesquisas acerca de estratégias de ensino, conceberam um manual de atividades de matemática centradas na criança. Posteriormente, ministraram uma ação de formação para os professores, que por sua vez implementaram algumas das atividades nas suas salas de aulas.
"Tentamos convencer os alunos a pensar no desenvolvimento socioeconómico quando pensam nos seus projetos de CAS", disse Nikolaidis. Acrescentou ainda que a oportunidade de ligar os alunos às organizações da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento através de estágios é um objetivo de todas as Academias. A AKA de Hyderabad terminou recentemente a sua primeira edição de estágios de verão, e Nikolaidis está atualmente em contato com programas de desenvolvimento local para criar oportunidades de longo prazo para os alunos. Ela espera que o projeto venha a ter impacto em mais estudantes como Maina.
"Aprendi [através do programa] que o desenvolvimento passa por ajudar as pessoas a ajudarem-se a si mesmas... Em última instância, imagino-me no sector do microfinanciamento porque acho que aí essa ajuda é prestada de uma forma verdadeiramente inspiradora", disse Maina.