Fundação Aga Khan
Tajiquistão · 11 abril 2023 · 5 Min
Em 2021, apenas 39% dos tajiques tinham uma conta bancária. Os números são ainda mais baixos nas áreas rurais, com menos acesso físico a um banco, e entre as mulheres, que muitas vezes têm uma alfabetização financeira inferior e mais responsabilidades que as impedem de recorrerem ao sector bancário formal.
Os bancos cobram taxas de juros relativamente altas, concentram as suas agências em áreas urbanas e exigem documentação para abrir uma conta. Têm tendência para não aceitarem quantias muito baixas para contas-poupança e têm relutância em emprestar dinheiro para atividades agrícolas. Os outros tipos de empréstimos podem ser exploratórios. Se as colheitas falharem ou um membro da família precisar de ajuda médica, a maioria dos indivíduos em zonas remotas do Tajiquistão apoia-se nas redes informais como uma rede de segurança.
A Fundação Aga Khan (AKF) e a USAID criaram grupos comunitários de poupança (CBSG) para milhares de utilizadores através de dois programas: Ligações Económicas e Sociais: Um Mecanismo de Financiamento para o Desenvolvimento de Área com Múltiplas Contribuições para o Tajiquistão e Thrive Tajikistan: Parceria para o Desenvolvimento Socioeconómico. Os CBSG apoiam o objetivo do governo de envolver as populações nas áreas rurais, particularmente os jovens e as mulheres, na transformação social e económica, reduzindo as desigualdades.
Os grupos seguem o modelo utilizado com sucesso pela AKF em África e na Ásia desde 2009. A AKF proporciona a mobilização, formação e apoio técnico iniciais para ajudar os membros a criarem e gerirem os grupos de forma eficaz. Cada CBSG recebe ferramentas de contabilidade e formação acerca das melhores práticas de gestão financeira, obtenção de empréstimos e gestão de um fundo social, sendo organizado e gerido pelos próprios membros. O grupo poupa em conjunto e os membros podem contrair pequenos empréstimos para iniciar ou expandir um negócio, ou pagar despesas relativas a gastos inesperados em saúde ou a uma educação planeada. Os lucros das poupanças e dos empréstimos são partilhados todos os anos numa altura em que os membros normalmente precisam dos fundos. Os lucros permanecem dentro da comunidade, com alguns a serem usados para ajudar aqueles com maiores necessidades.
Um lugar seguro para poupar
A responsabilidade está incorporada na estrutura de recolha e depósito de fundos do grupo. Os membros têm cadernetas, onde registam as transações que são realizadas publicamente em reuniões com vista a uma maior transparência. As ações e as quotas cobradas a todos os membros são mantidas num cofre. O dirigente, o tesoureiro e o secretário têm uma chave cada um, sendo que são necessárias as três para abrir o cofre.
Acesso ao crédito
Uma mulher do CBSG de Ganj diz: "Tenho um filho que está a estudar na universidade, e só para pagar os estudos dele, precisei de um empréstimo. Não fui pedir dinheiro a nenhum dos meus familiares. Não fui ao banco... Vim aqui e falei do meu problema ao nosso grupo, e resolvemos o problema através da obtenção de um empréstimo. E três meses depois, saldei a dívida."
Anora, de outra aldeia de Khatlon, foi capaz de frequentar a escola em regime de tempo parcial com o apoio do seu CBSG. Obteve um empréstimo para continuar os estudos na Universidade de Bokhtar, tendo planos para se formar daqui a dois anos. "Tenho muitas esperanças para o meu futuro", diz. "Quero ser intérprete um dia."
Formação financeira para a gestão familiar e empresarial
Um membro do CBSG de Guliston diz: “Antes de me juntar ao grupo de poupança, guardava o dinheiro em casa. Punha-o debaixo da cama e às vezes esquecia-me de onde o tinha deixado. Mas agora, depois de várias sessões de formação realizadas pelo CBSG, já sei gerir como o dinheiro - como planear e definir prioridades para as despesas da nossa família.”
"Este CBSG deu-nos o conhecimento e a prática para gerirmos o dinheiro nas nossas famílias", diz outro membro. “Eu tenho uma pequena loja particular. Hoje em dia já sei gerir de forma eficaz o dinheiro para mantê-lo a fluir - sei quanto devo poupar para uma coisa e para outra.”
Multiplicação dos benefícios
O CBSG de Ganj foi criado em 2015. Tem 40 membros, 35 deles do sexo feminino. O grupo deu a muitos membros a confiança para explorarem pequenos negócios e para falarem mais em casa. "Anteriormente, quando não nos reuníamos em grupo, não discutíamos as nossas ideias", diz um membro do CBSG de Ganj. “Mas agora, temos um lugar único onde podemos debater ideias, falar sobre como iniciar os nossos próprios negócios. Sentimo-nos confortáveis ao saber que temos apoio e as nossas economias aqui.”
Rahimova Sabohatmo, do CBSG de Kuhdoman, em Tagi Namak, concorda. “As mulheres da nossa comunidade ficam motivadas quando veem como melhoramos as nossas vidas por fazermos parte do grupo. Como exemplo, na primeira fase tínhamos 15 pessoas, na segunda 18, na terceira 24, e agora temos 30 mulheres na nossa equipa.”
Esta confiança permite que os vizinhos trabalhem em conjunto, alcançando resultados impressionantes. Na aldeia de Safedoron, os rendimentos de muitas das mulheres dependem dos seus terrenos aráveis e das remessas enviadas por familiares. Zebo Qalandarova estava a trabalhar no seu terreno em 2019 quando o programa Thrive Tajikistan: Parceria para o Desenvolvimento Socioeconómico criou um CBSG na sua aldeia. O grupo cresceu rapidamente de 23 para 60 membros, divididos em três CBSG.
Entre eles, recolheram dinheiro suficiente para criar um Grupo de Interesse Comum na forma de um atelier de costura. Sob a orientação de Zebo, este atelier deu emprego a seis mulheres, que também ensinam costura a raparigas.
“Antes deste atelier de costura, as mulheres tinham de ir ao centro do distrito para costurar os seus vestidos a um preço mais elevado”, diz Zebo. “Nós costuramos para crianças em idade escolar e para homens também. Durante as férias do Noruz, recebemos mais pedidos de jovens senhoras. Conseguimos expandir o nosso negócio, abrindo dois ateliers no centro do distrito. Também formámos 36 alunos, incluindo seis órfãos com oportunidades limitadas.”
Safarova Fotima, de dezoito anos, é filha de uma das costureiras e recebe formação no atelier. Nunca teria descoberto as minhas habilidades em costura sem não tivesse vindo a este atelier. Parece que involuntariamente tenho influenciado os meus amigos e colegas porque estão constantemente a perguntarem-me sobre a minha experiência de trabalho aqui. A minha irmã mais nova começou a vir para aprender a costurar”, diz ela.
Como centenas de milhares de tajiques, o pai de Fotima migrou para a Rússia para trabalhar. Ao saber do interesse das suas filhas pela costura, comprou-lhes uma máquina de costura manual para que melhorem as suas competências em casa.
Zebo orgulha-se de capacitar as mulheres e raparigas da sua comunidade. Ela diz que o atelier oferece um rendimento igual a todos os membros e é famosa no distrito. “No entanto, não nos esquecemos de contribuir para a comunidade. Por exemplo, quando o Presidente veio ao nosso distrito, nós costurámos voluntariamente toalhas de mesa para 100 mesas."
Parvina Khudoyorova, do CBSG de Kuhdoman, concorda: “No âmbito do nosso CBSG, temos uma fundação em separado, cujas verbas se destinam às pessoas da nossa comunidade com maiores necessidades. Da última vez, durante o Noruz, demos algum dinheiro a um menino órfão."
Ainda que os CBSG visem aumentar a inclusão financeira, criar pequenas empresas e capacitar indivíduos de comunidades marginalizadas, os seus benefícios estão claramente a chegar a muito mais gente para além das famílias participantes.