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Em Chitral, no Paquistão, os professores defendem mudanças

Programa da Fundação Aga Khan para o Melhoramento das Escolas

Pakistan · 3 outubro 2019 · 5 Min

Os pais afirmam que os professores motivados e com formação, como Shanila Parveen, melhoraram a qualidade geral das escolas dos seus filhos.

AKDN / Christopher Wilton-Steer

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Em Chitral, um dos distritos mais remotos do norte do Paquistão, estão a acontecer mudanças na forma como os alunos aprendem na escola. No passado sentiam-se entediados e desmotivados, e hoje são curiosos, criativos e apaixonados. Como resultado, o seu nível de aprendizagem está mais alto do que nunca. A que se deveu esta mudança? Desde logo, os professores estão a ensinar de forma diferente.


Em 2016, o Programa para o Melhoramento das Escolas (SIP) da Fundação Aga Khan (AKF) começou em escolas selecionadas na região montanhosa do norte do Paquistão. Hoje, o programa chega a mais de 270 escolas governamentais e comunitárias em 10 vales em Gilgit-Baltistão e 6 em Chitral.


O SIP concentra-se no melhoramento dos resultados de aprendizagem das crianças, fortalecendo a capacidade de todos os intervenientes para poder apoiá-las. Um elemento central do programa é trabalhar com os professores para tornar as suas salas de aula ambientes envolventes que despertem a curiosidade e a paixão dos alunos pela aprendizagem.


Professores como agentes de mudança


Como parte do SIP, os professores recebem formação em liderança educativa, planeamento de desenvolvimento escolar, educação e desenvolvimento na primeira infância, no programa Leitura para Crianças, ensino para vários anos escolares e comunidades de prática educacional. Estes professores transmitem aos colegas nas suas escolas de origem aquilo que aprenderam e formam grupos nas escolas primárias e secundárias vizinhas para partilharem as melhores práticas. Isto teve um impacto profundo no modo como os professores ministram as suas aulas e a forma como os alunos as acolhem.


"Anteriormente, era muito aborrecido para os alunos", diz abertamente uma professora do remoto Vale de Khot, referindo-se ao estilo de ensino anterior que se baseava na memorização mecânica. “Alguns alunos deixaram de vir à escola. Hoje estamos a utilizar diversos materiais e as salas de aula tornaram-se lugares interativos onde os alunos podem aprender.”


Devido a isto, diz ela, os alunos estão a inventar conceitos e a ser criativos. Os alunos tímidos que ficavam no fundo da sala de aula ocupam hoje um lugar central e intervêm corajosamente. Descobrir aquilo que interessa a estas crianças e estabelecer uma ligação com a matéria das aulas é uma forma essencial de envolvê-las.


“Hoje não utilizamos apenas os manuais”, diz Jafar Saib, professor e membro principal da Equipa de Controlo de Qualidade em Chitral. “Usamos jornais, a internet e outras fontes. Agora sabemos como canalizar as nossas energias. Antes não estávamos empenhados, e hoje estamos completamente envolvidos. Ninguém nos tinha perguntado antes acerca do nosso modo de ensino. Agora pergunta-nos acerca dos nossos desafios e problemas - e estamos a receber orientação e feedback.”


Um dos principais pontos fortes do programa é a sua capacidade de explorar as principais motivações dos professores de modo a envolvê-los e a capacitá-los a serem verdadeiros promotores de mudança a nível educacional. Muitos afirmam que o ensino hoje é agradável. A alegria de ensinar é comparável ao cultivo de uma planta:


“É como uma semente. Se crescer, ficamos felizes. Se não crescer, não ficamos felizes”, diz ela. “Quando o aluno entende o conceito, é um momento aprazível para o professor.”


Professores no lugar do condutor


Em Garam Chasma ("fontes termais"), Shanila Parveen está na linha da frente desta transformação educacional. Ela é a única professora de uma escola primária do governo apoiada pelo SIP. Todos os dias, caminha três horas até à escola - e três horas até casa - para garantir que os seus alunos recebem uma educação de qualidade. Com o apoio e a formação da AKF, ela ajudou a iniciar o centro de desenvolvimento da primeira infância na sua escola e recrutou mães para ajudá-la a ministrar as aulas.


"Após o projeto, o ambiente mudou na minha escola", diz ela, radiante. "Hoje os pais interagem comigo, e em conjunto monitorizamos o progresso das crianças."


Shanila nota que os seus alunos parecem revigorados, graças tanto às novas táticas como às mudanças físicas na escola. Antes, a sua escola não tinha tapetes ou decorações. Hoje, os pisos estão atapetados e as paredes cobertas de desenhos coloridos. Mas o verdadeiro motor da mudança são as suas novas competências de ensino e uma motivação renovada por poder aplicá-las.


“O SIP deu-me a capacidade de trabalhar no duro e gerir turmas de anos diferentes”, diz Shanila. “Os outros professores perguntam: 'Como é que podemos fazer isto? Como é que podemos gerir várias turmas, para além do desenvolvimento na primeira infância? Mas é possível, com as ferramentas, a formação e o apoio adequados."


As mães dos alunos da escola também reparam nas mudanças e dão o mérito ao SIP e aos esforços de Shanila.


“Hoje, o meu filho chega a casa e conta-me tudo o que a professora faz. Ela hoje sente-se entusiasmada por falar sobre a sua professora”, diz uma mãe. "A motivação da professora inspira-nos a participar."


Outra mãe sublinha a importância de ter professores empenhados e comprometidos na escola dos seus filhos: “Não temos possibilidades de os meter noutras escolas. Se o governo nos propiciar professores motivados, isso altera toda a qualidade da escola. Queremos qualidade em todas as escolas do governo.”


Os pais agora sentem que os seus filhos estão realmente a receber educação de alta qualidade. Outros pais em Garam Chasma também repararam nesta mudança, com alguns inclusive a decidir retirar os filhos de escolas particulares para colocá-los na escola do governo apoiada pelo SIP.


"Mudei o meu filho da escola particular para aqui porque sei o que se está a passar aqui", diz uma mãe. “Observo as bibliotecas e a sala de aula de desenvolvimento da primeira infância. Estou muito feliz com o progresso dos meus filhos e a motivação da professora.”


O SIP promove o profissionalismo nas escolas e cria um espaço para os professores conversarem sobre política e discutirem acerca de acontecimentos locais. Isso teve um efeito de propagação por todo o vale.


"Ganhámos o respeito da sociedade", diz um professor. “Antes da formação, a comunidade não estava interessada em escolas do governo - havia uma preferência pela educação privada. Hoje, a comunidade está envolvida na aprendizagem escolar.” Ele refere que vieram 15 estudantes de escolas particulares para a sua escola do governo apoiada pelo SIP.


Rumo ao melhoramento de mais escolas


A abordagem do SIP baseia-se na convicção de que todos os membros de uma comunidade escolar - desde os pais e professores aos funcionários do governo - podem fazer contribuições palpáveis para o melhoramento dos resultados de aprendizagem das crianças. E, apesar do sucesso imediato do SIP nas escolas em que foi implementado, ficaram ainda muitas escolas para trás. Em 2018, apenas 21,5% das escolas do ensino primário, preparatório e secundário de Chitral tinham recebido apoio. No entanto, existe um desejo de expansão. Um professor do SIP explica:


“Muitas pessoas de escolas externas, incluindo escolas particulares, abordaram-nos, dizendo: 'Expliquem-nos apenas como é que esse modelo funciona'. Ao observar o crescente entusiasmo dos professores e a interação dos pais, percebemos que querem fazer parte disto.”


Esperamos espalhar a mensagem por mais escolas, para que os professores de todo o norte do Paquistão - independentemente do seu contexto e localização - possam ser promotores de mudança a nível educacional.


Este texto foi adaptado de um artigo publicado originalmente no site da AKF EUA.


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