Quando Noor, Riam, Yemar, Riam e Hadeel participaram num workshop de design focado no ser humano da Fundação Aga Khan (AKF), não esperavam sair dele como mulheres de negócios.

"A formação centrou-se na criação de ideias para resolver problemas na comunidade em que vivemos. No final da formação, tivemos uma ideia para melhorar as condições de vida em Salamieh, melhorando os serviços de entrega", disse Riam. “A nossa empresa de entrega de mercadorias, a Wassel, tem preços competitivos e utiliza veículos ecológicos que funcionam apenas com eletricidade.”

A equipa da Wassel concorreu a dois financiamentos da AKF, o primeiro dos quais ajudou a comprar três tuk-tuks, um sistema de energia solar e mobiliário de escritório. Quando o sistema solar se revelou insuficiente para carregar os veículos, a segunda verba financiou a expansão.

No ano seguinte, a Wassel apresentou os seus planos a um painel de investidores-anjos e obteve financiamento para uma bateria de lítio e motores elétricos. Atualmente, a empresa emprega uma equipa de cinco jovens condutores.

Apoiar as empresas para ajudar as famílias

A primeira verba da Wassel veio do Programa de Microempresas Humanitárias (HME). Abdulaziz Ajjoub, coordenador de projeto da AKF, explica: "Damos às médias, pequenas e microempresas das regiões da Síria um programa de formação intensivo, seguido de um financiamento misto, ou seja, um empréstimo em condições favoráveis e uma verba a fundo perdido.

“Selecionamos empresas que tenham um modelo de negócio em funcionamento, com fundadores que tenham outras pessoas a depender deles para a sua subsistência, para podermos beneficiar o maior número de pessoas possível - uma família de quatro ou cinco pessoas, em média.”

O programa começa com uma avaliação das necessidades, em que empresários, fornecedores e representantes da comunidade identificam as lacunas nas profissões do mercado local. O programa apoiou muitas empresas tradicionais, como barbearias, ferreiros, carpinteiros, pequenas oficinas artesanais e alfaiates, e está agora à procura de empresas inovadoras que produzam bens para o mercado local.

"Apoiámos uma empresa chamada Sugar Free, fundada por uma mulher muito forte chamada Zainab, que é o ganha-pão da sua família. Ela tinha diabetes e adorava doces, mas não os podia comer, por isso criou bolachas e queques saudáveis que satisfaziam as suas necessidades de consumo. Foram muito apreciados pelo mercado", diz Abdulaziz.

Os participantes passam dois dias a melhorar as suas capacidades de acompanhamento empresarial e financeiro, a fim de gerirem os seus negócios sem problemas, um dia no mercado a recolher dados e a analisar preços, e os últimos dois dias a desenvolver um estudo de viabilidade. "O estudo não é apenas para nós, mas para o empresário ou empresária, para determinar se vale a pena investir no negócio.

"Em média, temos vindo a formar 1000 empresários por ano, nos últimos anos, selecionando metade deles para financiar. Atualmente, apoiamos quase 500 empresas, mais um grupo de 25 que o ACNUR está a financiar. Este ano, estamos a trabalhar nas zonas rurais de Damasco, Homs, Hama, Tartous, Latakia e Aleppo.”

Ajudar jovens inovadores a encontrar soluções

A segunda verba da Wassel veio da Accelerate Prosperity (AP), uma iniciativa da AKDN que ajuda empreendedores a lançar ou expandir seus negócios. A AP tem trabalhado na Síria desde 2023, em parceria com a Sanad Youth Development Foundation.

Dirigido a empresas de base tecnológica ou a empresas em fase de arranque que sejam inovadoras e expansíveis, oferece programas de formação de incubação ou de aceleração com a duração de três meses. O Launch Up acompanha os empresários numa fase inicial, ajudando-os a estabelecer redes e a ligar-se aos mercados. A fase de aceleração, destinada a empresas tecnológicas, inclui modelação de negócios, marketing avançado, análise financeira, estabelecimento de relações com investidores, pitching e competências de apresentação. “ Damos-lhes a mão à medida que navegam pelos problemas que enfrentam”, diz Abdulaziz.

A maioria das empresas é gerida por jovens e visa problemas da comunidade com soluções inovadoras: saúde, transportes, distribuição. Cerca de metade são dirigidas por mulheres.

As mais bem-sucedidas recebem um empréstimo sem juros e sem garantias até 10 000 dólares e verbas de assistência técnica, com 56 empresas apoiadas em 2023 e 2024 - embora as atuais perturbações, incluindo a escassez de notas físicas, tenham suspendido o financiamento.

Um exemplo é o Professor, um sítio Web e uma aplicação para alunos do 12.º ano que apresenta vídeos de professores que abordam o currículo do Bacharelato. Oferece uma alternativa a um professor particular - ou à própria escola. Abdulaziz espera que esta aplicação chegue às comunidades marginalizadas que, de outra forma, não têm acesso à educação.

Investir nas mulheres para estruturar o futuro

Apoiar as mulheres para que aumentem o seu rendimento é fundamental para a abordagem de desenvolvimento empresarial da AKF. A igualdade de género é tratada não só como uma questão de direitos humanos, mas também como uma economia inteligente: para que uma comunidade prospere, é necessário libertar o potencial de todos os seus membros.

Um grupo de mulheres fotógrafas criou um negócio em Hama, tirando fotografias do lado das mulheres nas cerimónias de casamento que não são permitidas aos fotógrafos masculinos. Planeiam utilizar o equipamento adicional e os drones disponibilizados pela AP para expandir a sua atividade para além de Hama.

A Wassel salienta a forma como o empreendedorismo pode criar emprego, prestar um serviço muito necessário - e reformular o futuro. “Através da nossa experiência neste projeto, queremos enviar uma mensagem a todas as jovens com ambição”, afirma a equipa. “Acreditem nos vossos sonhos, não desistam, porque os sonhos tornam-se mesmo realidade.”