Tajiquistão · 31 maio 2021 · 3 Min
As alterações climáticas são cada vez mais vistas como a questão fulcral do nosso tempo em matéria de desenvolvimento humano. Em 2015, a Estratégia das Nações Unidas para a Redução de Desastres constatou que 87% dos desastres da década anterior estiveram relacionados com o clima. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a partir do ano de 2030, as alterações climáticas deverão contribuir para aproximadamente 250 000 mortes suplementares por ano, devido a subnutrição, malária, diarreia e stress térmico.
Mas as soluções existem - e são necessárias, especialmente no Sul Global, onde a exigência por segurança energética tem vindo a aumentar à medida que as comunidades procuram melhorar de forma significativa a sua qualidade de vida. Por outro lado, os países em desenvolvimento são também os mais afetados pelas alterações climáticas e os menos capazes de arcar com as suas consequências.
Em Novembro de 2020, A Fundação Aga Khan (AKF) organizou um painel para debater o papel que a energia limpa pode desempenhar para levar a equidade às comunidades vulneráveis. O evento foi organizado pela jornalista Aliya Jasmine Sovani, com os convidados Revealed Kataru, Diretora Nacional da AKF Tanzânia, e Sua Excelência Daler Juma, Ministro da Energia e Recursos Hídricos do Tajiquistão e ex-Diretor Geral da Pamir Energy.
A resposta às alterações climáticas é um processo complexo, sendo a diversificação das fontes de energia no sentido de incluir energia limpa e renovável um componente fundamental. A sustentabilidade e os custos são apenas um dos lados da equação da energia limpa. Para que estas iniciativas sejam realmente transformadoras, também têm de ser sensíveis à questão do género.
De acordo com Sua Excelência Daler Juma, Ministro da Energia e Recursos Hídricos do Tajiquistão e ex-Diretor Geral da Pamir Energy, as mulheres e as crianças são tradicionalmente quem recolhe recursos energéticos como a lenha na Ásia Central e Sudeste. Um relatório do PNUD sobre o género e a energia sustentável confirma isto, destacando que as mulheres e raparigas passam bastante tempo a recolher biomassa para servir como fonte de energia. Um estudo na Índia, Bangladesh e Nepal revelou que as mulheres gastam até 20 ou mais horas por semana na recolha de recursos energéticos.
“A recolha de lenha para o dia seguinte numa família de uma comunidade demora 4-5 horas todas as tardes. Se fossem instalados painéis solares nestas comunidades, as mulheres poderiam aproveitar o tempo para estudar ou gerir aulas ou gerir um negócio. As crianças também passam a ter mais tempo para fazerem os trabalhos de casa quando não têm de se preocupar com velas e querosene”, disse Sua Excelência.
Se somarmos todo este tempo, isso significa que as mulheres e raparigas gastam entre 60 a 75 dias por ano a recolher estes recursos para as suas casas - tempo que podem facilmente ocupar a melhorarem a sua educação ou negócio nos quais se desejem envolver.
Revealed Kataru, Diretora Nacional da AKF Tanzânia, concordou, afirmando que as mulheres que estão envolvidas em pequenas e médias empresas e ligadas à energia limpa são capazes de poupar um tempo valioso a ser usado para aumentar a produtividade e para as responsabilidades domésticas. Isto leva a um aumento dos rendimentos e a uma perceção de que são capazes de fazer qualquer coisa.
“As iniciativas de energia limpa levam também a um aumento na capacidade das raparigas de serem competitivas na escola, pois têm uma maior disponibilidade para frequentar as aulas decorrente da diminuição das responsabilidades domésticas, algo que já levou diretamente a um aumento acentuado no número de raparigas que receberam bolsas para estudar em áreas como engenharia elétrica”, acrescentou Sua Excelência.
Esta abordagem torna todo o processo autossustentável - através da aquisição de competências valiosas, as mulheres e raparigas serão capazes de aumentar exponencialmente as oportunidades disponíveis nas suas comunidades.
Durante o painel de debate, os dois oradores concordaram que houve um grande aumento na igualdade de género em virtude de projetos relacionados com as alterações climáticas. Mas destacaram igualmente a necessidade contínua de assegurar que a energia limpa se mantém sustentável e acessível.
“O nosso próximo foco passa pelo aumento das energias renováveis. Se olharmos para o consumo de energia na África Oriental, apenas cerca de 2 por cento é energia limpa ou renovável, pelo que existe muito espaço para crescer”, acrescentou Revealed.