Afeganistão · 8 junho 2020 · 2 Min
UCA / Alma Uzbekova
Em regiões montanhosas com terrenos agrícolas limitados, uma topografia acidentada e gradientes acentuados, a preservação da agrobiodiversidade e a valorização do conhecimento tradicional acerca dos sistemas alimentares são ingredientes essenciais para um futuro sustentável. Deste modo, o Instituto de Investigação de Sociedades de Montanha (MSRI) da Universidade da Ásia Central começou a desenvolver investigações acerca dos sistemas alimentares no Quirguistão, Tajiquistão e Afeganistão.
Um estudo sobre plantas medicinais e aromáticas nas montanhas Pamir revelou que estas são componentes fundamentais dos sistemas alimentares locais tradicionais, contribuindo de forma essencial para a segurança nutricional e a resiliência das famílias em tempos de perdas nas colheitas ou de outras dificuldades. As plantas medicinais e aromáticas, que consistem numa vasta gama de plantas lenhosas e ervas usadas em tratamentos médicos ou para consumo humano, estão tipicamente referidas nos sistemas tradicionais de conhecimento.
Quando não existem serviços médicos formais em virtude de guerras ou conflitos, as plantas medicinais e aromáticas podem desempenhar um papel fundamental nas estratégias de saúde das populações, complementando ou muitas vezes substituindo os tratamentos modernos ou ocidentais. Estas plantas também podem ser usadas como uma espécie de moeda, sendo trocadas entre famílias rurais pobres, mas também com famílias mais ricas, urbanas ou de migrantes.
Farmers cultivate a medical plant, camomile (matricaria camomile), in the Naryn region in Kyrgyzstan.
UCA / Alma Uzbekova
As plantas medicinais e aromáticas que nascem na área montanhosa de Badakhshan têm uma grande procura, mas a sua colheita e venda são normalmente não sistemáticas e a maioria das atividades neste sector informal carecem de profissionalização. Para além disso, o cultivo destas plantas em terrenos privados não é considerado uma estratégia viável de subsistência, em grande parte devido à escassez de terrenos agrícolas, à falta de estruturas informais de gestão e à debilidade dos modelos de regulação, razões que limitam os benefícios que se poderiam retirar do cultivo de plantas medicinais e aromáticas. Nas condições atuais, parece existir pouco incentivo para que as pessoas invistam e se preocupem com os recursos vegetais.
Estes resultados iniciais apontam para a necessidade de desenvolver uma estratégia mais favorável e integradora das plantas medicinais e aromáticas que incorpore a conservação do conhecimento tradicional com um mapeamento destas plantas e de outros recursos naturais, assim como avaliações de impacto ambiental e socioeconómico.
A investigação de desenvolvimento dos sistemas alimentares na MSRI está, sem dúvida, bem implantada e preparada para continuar. Esta investigação inclui a documentação, proteção e fortalecimento da agrobiodiversidade e da sua utilização - e dos sistemas tradicionais de conhecimento e de práticas em geral. Todos estes processos serão apoiados por colaborações intersectoriais e parcerias abrangentes com comunidades de montanha, outras instituições de investigação e parceiros do sector privado, que irão trabalhar em conjunto para promover sistemas alimentares mais sustentáveis nas zonas montanhosas da Ásia Central.
Foggin, M., Emslie-Smith, M., e Hergarten, C. 2018. Sistemas Alimentares e Agrobiodiversidade nas Montanhas da Ásia Central. Investigação e Desenvolvimento em Montanha 38 (2): 175-79. DOI: 10.1659/MRD-JOURNAL-D-18-0048
Agricultural village in Badakhshan, Afghanistan.
AKDN / Christopher Wilton-Steer