Não disponível · 2 maio 2021 · 3 Min
Quando Sua Alteza o Aga Khan começou a construir os componentes da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN), ele sabia que muito do património mundial estava a desaparecer devido a conflitos civis, deterioração e ignorância. Em 1983, ele fez a pergunta: Quais serão as consequências... quando o património cultural estiver perdido?” A resposta a esta pergunta era clara: a perda dos padrões de referência da identidade e da nossa humanidade comum.
De várias formas, a tarefa em mãos era salvar o património mundial antes que este sucumbisse à destruição ou ao declínio terminal. Esta era uma questão especialmente importante no mundo muçulmano, que contém um terço dos locais Património Mundial - muitos deles em declínio, alguns destruídos, alguns escondidos atrás de fachadas comerciais, outros ignorados. Se algo não fosse feito, grande parte do património cultural do mundo muçulmano ficaria perdido.
No Cairo, no Egipto, o restauro do Complexo da Mesquita de Khayrbek foi uma iniciativa estratégica para o Fundo. Este espaço incluía o Palácio Alin Aq da era mameluca, o mausoléu e sabil-kuttab de Khayrbek e duas casas da era otomana, cobrindo uma área total de aproximadamente 8000 metros quadrados.
AKDN / Adrien Buchet
Mas como pode a cultura, numa era de tantos conflitos de interesses, ser considerada uma parte essencial do desenvolvimento? Como poderíamos nós, durante tempos de guerra ou privações, ponderar o restauro de monumentos? A questão passou então a ser: "Como utilizar a cultura como um catalisador para uma mudança económica e social positiva?"
“O Programa Aga Khan das Cidades Históricas (AKHCP) foi criado para testar a hipótese de que a cultura era, e é, um componente integral da equação do desenvolvimento”, disse Shiraz Allibhai, Diretor Adjunto do Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC), “e que pode ser uma ferramenta poderosa na melhoria da qualidade de vida.” O AKHCP concebeu uma abordagem única para a regeneração urbana que envolve o restauro e a conservação, a criação de parques e jardins, a reabilitação urbana e programas de emprego e formação profissional.
Ao longo de três décadas, o AKHCP não se limitou apenas a testar, mas também a rever e aperfeiçoar a sua abordagem nos 11 locais Património Mundial, considerados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como tendo um “valor excecional para a humanidade”. Muitos destes locais estão em cidades do mundo muçulmano, que sofrem com pobreza, falta de infraestruturas e serviços, situações de pós-guerra, crescimento populacional e degradação ambiental. Mas muitas destas mesmas cidades contêm riquezas inestimáveis que podem ser transformadas em ativos para aqueles que vivem entre elas.
“O AKHCP mostrou que os investimentos em cultura podem ajudar a criar um desenvolvimento sustentável - mesmo nos contextos mais frágeis e complicados - e que podem ter um impacto duradouro e positivo na formação das vidas, das identidades e das ambições das pessoas”, disse Shiraz Allibhai. “Quando falo de desenvolvimento sustentável estou a referir-me a horas-homem de trabalho, a sistemas de drenagem instalados, a parques criados ou restaurados que geram receitas e pagam a sua própria manutenção, ao envolvimento das comunidades inclusive nas áreas da saúde e educação, a programas de formação que criam um novo quadro de carpinteiros ou pedreiros, ou à revitalização de artes perdidas, como as técnicas de arquitetura de terra no Mali, de argamassa em Zanzibar, ou de azulejos vítreos em Deli.”
Do Mali à Malásia, os projetos de regeneração urbana do AKHCP têm ajudado a transformar cidades históricas e as vidas de inúmeras pessoas. No total, o AKTC trabalhou em mais de 350 projetos de restauro e conservação em 11 países, incluindo 11 locais Património Mundial da UNESCO, tendo criado 10 grandes parques e jardins que já foram visitados por mais de 50 milhões de pessoas. O trabalho do AKHCP, que já foi distinguido com mais de 18 grandes prémios e que é hoje reconhecido como o mais alto padrão em restauro, está também a ajudar a moldar as políticas governamentais em relação ao valor dos centros urbanos históricos e ao papel da cultura no fortalecimento da identidade e na transmissão de esperança.
O legado destes projetos está bem patente nos mais de 3000 homens e mulheres que receberam formação em competências como carpintaria, alvenaria, conservação, etc. Eles usaram estas competências noutros projetos, ajudando a preservar o seu património cultural para as gerações futuras. Os projetos também tiveram um impacto direto em mais de 500 000 beneficiários, através de programas de água e saneamento, de melhorias em espaços públicos ao ar livre, melhorias habitacionais e outras iniciativas sociais. O AKHCP também demonstrou que o investimento na cultura pode ter um efeito multiplicador positivo que vai muito para além da conservação - funcionando como promotor de uma boa administração, do crescimento da sociedade civil, do aumento dos rendimentos e das oportunidades económicas, de um maior respeito pelos direitos humanos e de uma melhor gestão dos recursos ambientais, mesmo nas áreas mais carenciadas e remotas do globo.
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