Egypt · 14 novembro 2019 · 4 Min
As artes oferecem aos jovens a possibilidade de explorarem, crescerem e de se ligarem à sua herança cultural, criando caminhos para novos e promissores futuros. No entanto, muitas vezes os jovens encontram-se excluídos destas oportunidades, por falta de fundos ou por receio de que não venha a ser um trabalho financeiramente viável. No Egito, o Programa Aga Khan para a Música ajudou a criar duas escolas que abordam estas questões, cultivando o talento musical da próxima geração através de programas inclusivos de formação em artes, abertos a todos.
A Escola de Artes de Al Darb Al Ahmar recebeu o nome de Darb Al Ahmar, um dos bairros mais antigos e mais densamente povoados do Cairo, localizado numa zona adjacente ao Parque Al-Azhar, o "pulmão verde" de 30 hectares do Cairo, construído pelo Programa de Cidades Históricas do Fundo Aga Khan para a Cultura. Darb Al Ahmar é a casa de artesãos, pequenas empresas e residentes de longa data, cujas famílias vivem no bairro há gerações. Devido à pressão financeira, as crianças do bairro de Darb Al Ahmar costumam sair da escola bastante novos para aceitarem trabalhos potencialmente perigosos e abusivos. Aos 16 anos, Mohamed Mousa já tinha trabalhado em muitos empregos diferentes quando começou a estudar música na Escola de Artes de Al Darb Al Ahmar. Após terminar os estudos, encontrou emprego sustentável a tocar saxofone com diferentes artistas, incluindo o famoso cantor egípcio Mohamed Mounir e o libanês Assi El Hallani, e hoje é músico profissional.
A Escola de Artes de Al Darb Al Ahmar oferece aos alunos dos 8 aos 18 anos uma alternativa sólida através da sua abordagem profissionalizante à formação em artes. As aulas de percussão, instrumentos de sopro, teatro e artes circenses têm sido particularmente populares entre as raparigas, e as alunas têm sido algumas dos artistas mais bem-sucedidos da escola. Ao mesmo tempo, a escola contribui para a participação da comunidade, a comunicação social e a formação de grupos musicais independentes. O sucesso da Escola de Artes de Al Darb Al Ahmar pode ser medido pelo número de graduados que prosseguiram os seus estudos musicais e encontraram emprego como artistas profissionais, como Donia Sami. Donia é uma percussionista de 23 anos formada na Escola de Artes de Al Darb Al Ahmar que alcançou um sucesso considerável trabalhando como música e atriz em dramas populares da televisão egípcia e faz parte da primeira dupla de percussão feminina do Egito. Ela diz que a confiança adquirida durante a sua formação na Escola de Artes de Al Darb Al Ahmar lhe deu condições para se matricular no Instituto Superior de Artes Dramáticas do Cairo, onde está hoje no quarto ano e a caminho de uma carreira de sucesso como artista.
A cidade de Assuão, situada no Alto Egito, nas margens do Nilo, é a casa do Projeto Musical de Assuão. Durante séculos, Assuão funcionou como uma encruzilhada de comércio, cultura e música, onde os sons indígenas da comunidade núbia local se misturam com diversos estilos e instrumentos musicais do norte da África e do Médio Oriente. A pobreza está a aumentar, especialmente entre os núbios tradicionalmente marginalizados. Os jovens são forçados a deixar Assuão para encontrar trabalho, interrompendo a cadeia de transmissão de competências e conhecimentos musicais. Entretanto, os jovens que desejam ter formação musical deparam-se com custos elevados fora do alcance das famílias com médios e baixos rendimentos.
O Projeto Musical de Assuão, criado em 2017 em colaboração com a Fundação Om Habibeh, aborda estes desafios, oferecendo aos jovens até aos 25 anos aulas gratuitas de música tradicional árabe, egípcia e assuanesa, com foco no oud, na percussão e na tambura. A tambura é um instrumento de cordas de pescoço longo tocado no norte da África e no Médio Oriente, e já foi um instrumento importante na cultura musical de Assuão. Estava praticamente desaparecido até que o Projeto Musical de Assuão começou a concentrar-se no seu renascimento, ensinando estudantes como Zahraa Othman a construírem e a tocarem o instrumento. Zahraa Othman começou os seus estudos no Projeto Musical de Assuão com a intenção de estudar a tambura e, em Setembro de 2019, recebeu uma bolsa de 3000 dólares para apoiar o desenvolvimento de uma sessão de formação para a produção de tamburas para o mercado local, e talvez até nacional. Os alunos aprendem o valor das artes e o seu papel económico no desenvolvimento da comunidade, contribuindo ao mesmo tempo para o renascimento do sector cultural, aumentando a consciencialização e o interesse pelo património cultural. Em particular, o projeto visa fortalecer o papel de raparigas e mulheres como intérpretes e criadoras de eventos na cena musical local. Uma curta-metragem recente sobre a estudante do Projeto Musical de Assuão, Zahraa Jaqoub, e o seu estudo da tambura comprova o sucesso da escola nesta área. Ayaat Abdel Naiem Mohamed é mais uma prova do compromisso do Projeto Musical de Assuão em estimular as raparigas e mulheres. Ayaat é uma facilitadora de 24 anos do Projeto Musical de Assuão que estuda música na Universidade de Assuão. Em 2018, ela ganhou uma competição de empreendedorismo e usou o prémio em dinheiro para abrir o seu próprio espaço de arte e música na aldeia núbia de Gharb Soheil, oferecendo à comunidade local um espaço para fazer e apreciar música.
O Projeto Musical de Assuão e a Escola de Artes de Al Darb Al Ahmar oferecem excelentes exemplos de programas dinâmicos de educação musical e formação em artes a funcionarem em condições desafiantes. Ao fazê-lo, demonstram mais uma vez que o desenvolvimento económico, o desenvolvimento social e o desenvolvimento cultural não só estão interligados e se beneficiam mutuamente como são também inseparáveis.